Entre 2003 e 2009, o médico belga regressou à cidade natal para ocupar outra cadeira presidencial, a do Brugge, onde deixou novamente uma marca de modernização
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Aos 74 anos, bem pode dizer-se que o belga Michel D"Hooghe, especialista em Medicina Física e Reabilitação e também licenciado em Educação Física, é, além de médico, um monstro.
Na origem da investigação ao belga estava a oferta de um quadro, em 2011, por parte de um membro da então candidatura russa
Pelo menos no futebol do país dele, onde já fez um pouco de tudo - de clínico do Brugge nos anos 1970, onde conviveu com esse mito dos bancos do século passado chamado Ernst Happel, a representante do clube nas reuniões da liga de futebol belga, presidente desta e posteriormente da federação nacional na fase de maior fulgor desportivo dos "diabos vermelhos", até co-responsável pela organização do Euro"2000 (com o homólogo holandês), cujo sucesso lhe valeu, inclusive, o título de Barão.
Foi, no entanto, na condição de presidente da Comissão Médica da FIFA que D"Hooghe voltou a ser falado esta semana, por se ter insurgido contra um regresso dos campeonatos de futebol nas próximas semanas. "Tentem preparar-se para o começo da competição na próxima época", avisou há três dias, considerando existir "um risco e que poderá ter consequências de vida ou morte", referindo-se, naturalmente, a eventuais consequências da pandemia de covid-19 caso as coisas corram mal naquelas ligas que decidam retomar a temporada 2019/20.
Entre 2003 e 2009, o médico belga regressou à cidade natal para ocupar outra cadeira presidencial, a do Brugge, onde deixou novamente uma marca de modernização - tanto em termos de infraestruturas como comerciais, à semelhança da revolução que operara na federação belga. Dois campeonatos, duas Taças e três Supertaças validaram também a sua liderança no plano desportivo, equiparando este período aos anos 1970. Mas apesar desse êxito e até aos alertas atuais para os riscos inerentes à covid-19 e a sugestão para se mostrar cartão amarelo a jogadores que cuspam para o chão, foi alguns anos depois disso que se viu o nome de D"Hooghe nas notícias - em 2014, juntamente com o alemão Franz Beckenbauer, o espanhol Ángel Villar, o chileno Mayne-Nichols e o tailandês Worawi Makudi, era investigado pelo Comité de Ética do organismo por supostas irregularidades na atribuição do Mundial"2018 à Rússia e o de 2022 ao Catar.
Na origem da investigação ao belga estava a oferta de um quadro, em 2011, por parte de um membro da então candidatura russa. Meses depois, aquele que era o mais antigo membro do Comité Executivo da FIFA (desde 1988) era ilibado de todas as suspeitas de corrupção - concluiu-se que a pintura não tinha valor comercial - em relação ao que descreveu como "presente envenenado", assim como de não ter tido qualquer influência nem ligação ao Mundial"2022 no emprego conseguido pelo filho, também médico, no Catar.