Moutinho, Bruno e Bernardo formaram o trio nos últimos dois jogos e no painel de técnicos ouvido por O JOGO há quem veja necessidade de substituir o primeiro por um "6".
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Portugal arranca na quinta-feira a participação na Liga das Nações 2022/23, jogando em Sevilha com a Espanha para a primeira jornada do Grupo A2. Uma partida onde será possível perceber se a fórmula do meio-campo utilizada no play-off do Mundial, com a Turquia e a Macedónia, veio para ficar e com os mesmos protagonistas.
Nesses dois desafios, recorde-se, o técnico colocou João Moutinho como médio mais defensivo, jogando, em relação ao jogador dos Wolves, Bruno Fernandes e Bernardo Silva numa linha mais adiantada. Este último, refira-se, numa posição semelhante à que vem ocupando no Manchester City .
Sabendo-se que a Espanha é um adversário de dimensão, futebolisticamente falando, superior aos rivais de março passado, coloca-se a questão se agora se justificam outras escolhas e o painel de quatro treinadores auscultados por O JOGO dividem-se quanto a isso, mas dois deles são claros a apontar a necessidade de introduzir mais músculo.
Para Carlos Azenha e Augusto Inácio, este jogo exige outro tipo de médio defensivo. O primeiro apostaria em Palhinha na vez de Moutinho, pela "disponibilidade física" do sportinguista, o que permitiria "libertar Bernardo e Bruno no ataque". Embora refira que "Moutinho faz de dois em um", Inácio daria preferência a um "6" puro, sem preferências por Palhinha ou Rúben Neves e até colocando Danilo na equação. De resto, é o único que tem dúvidas quanto à utilização de Bruno e Bernardo no meio-campo neste jogo, apontando a menor capacidade defensiva do primeiro como um problema.
João Aroso, cujo último trabalho foi na seleção sub-20 de Marrocos, é quem admite com maior probabilidade uma repetição da fórmula. Na posição de médio defensivo, defende que "Moutinho e Rúben Neves têm mais possibilidades de jogar", lembrando que "Palhinha não estará no momento de forma que lhe vimos no passado". De resto, não vê qualquer incompatibilidade na utilização simultânea de Bernardo Silva e Bruno Fernandes, considerando que "se podem complementar por terem características diferentes." E sentencia: "Para termos bola, é importante jogarem Bernardo e Bruno. E jogando Otávio, este pode tornar-se um quarto médio, ajudando a manter a posse."
Para António Conceição, ex-selecionador dos Camarões, a estratégia será determinante nas escolhas e vendo Rúben Neves como "capaz de dar todas as garantias", lembra que "Moutinho tem grande confiança do selecionador e tem feito por merecê-la." Quanto a Bernardo e Bruno, admite que possam jogar juntos, seja "num 4x2x3x1, seja em 4x3x3".
Inquérito
1 O jogo com a Espanha exige um médio como Palhinha ou Rúben Neves ou Moutinho pode ser a aposta?
2 Bernardo Silva e Bruno Fernandes são compatíveis no meio-campo com adversários de maior qualidade?
"Para o equilíbrio da Seleção seria melhor um "6" puro"
Augusto Inácio, treinador
1 O selecionador sabe melhor os jogadores que tem. Diria que o João faz o dois em um - médio defensivo e distribuidor -, mas para o equilíbrio da Seleção seria melhor um "6" puro à frente dos centrais, como Danilo, Rúben Neves ou Palhinha. Depende da estratégia, eu preferia um trinco e dois médios mais volantes. Rúben e Palhinha jogam melhor sozinhos do que com alguém ao lado.
2 É uma boa pergunta. Sinceramente, depende do adversário. Frente a uma equipa como a Espanha acho que não são compatíveis, se o Bruno tivesse a capacidade, que não tem, de defender bem sem bola... O Bernardo onde joga melhor é da direita para dentro, desenvolvendo o seu jogo criativo. O Bernardo defende melhor, mas são dois jogadores que para as tarefas defensivas contam pouco. Penso que só poderá jogar um.
"Penso que devemos pôr o Palhinha"
Carlos Azenha, treinador
1 Rúben Neves é um bom médio, mas não joga da forma que permite dar a liberdade que Bernardo Silva e Bruno Fernandes necessitam. Moutinho tem qualidade, dá posse, joga com inteligência, mas acho que não pode ser a primeira opção neste jogo com a Espanha. Penso que devemos pôr o Palhinha, o jogador com maior disponibilidade física. Mas depende muito da forma como Portugal jogar. O Danilo também podia ser uma opção, mas tem jogado mais a central.
2 O Bernardo e o Bruno são compatíveis, podem jogar juntos. Vejam o que o Bernardo faz no City e o Bruno no United, têm dinâmicas diferentes das da Seleção. Se queremos dar liberdade ao Bernardo e queremos que ele não corra tanto - e no City corre muito mas em pressão alta e não tanto atrás da bola - Portugal pode equilibrar a equipa com um "6" muito forte.
"João Moutinho pode jogar em qualquer posição"
João Aroso, treinador
1 O João Moutinho pode jogar em qualquer posição do meio-campo e responde sempre bem, pela experiência, qualidade e maturidade. Por isso foi decisivo nos jogos que permitiram a Portugal chegar ao Mundial. O Rúben Neves, pela época que fez, pode assumir essa posição. Acho que são as duas principais possibilidades. Contra a Espanha é importante ter capacidade de retirar a bola, mas também de a ter e o João e Rúben dão, na posição de médio mais recuado, maior capacidade para isso comparativamente ao Palhinha.
2 Sim. Nenhum jogador tem capacidade do Bernardo para segurar a bola e jogando ele pelo City nessa posição, e agora também na Seleção, pode jogar no meio-campo e combater a posse da Espanha. O Bruno é um jogador mais vertical, mas essa diferenciação enriquece a equipa.
"Bernardo é versátil e o Bruno é mais de corredor central"
António Conceição, treinador
1 O selecionador saberá melhor quem lhe dá mais garantias. Moutinho cumpriu na íntegra o que a equipa necessitava nos últimos dois jogos, esteve muito bem. O Rúben Neves dá perfeitas garantias, fez um campeonato muito bom e se tiver de jogar vai corresponder. Moutinho dá coisas diferentes, boas decisões, posicionamento, é um jogador que qualquer treinador deseja ter.
2 Bernardo é versátil, pode jogar nas alas, a médio mais ofensivo... depende do sistema. Bruno é mais de corredor central, pode estar mais próximo do ponta de lança e o Bernardo jogar por dentro ou por fora, este último já é uma grande referência da Seleção. São opções difíceis de tomar face à qualidade, depende da estratégia, se Portugal vai jogar mais em contenção ou com maior dinâmica ofensiva.