Há muitos candidatos à lista de convocados, da defesa ao ataque, e até com um brasileiro que, entretanto, já é português. O desafio é grande também para os mais velhos, como Ronaldo, Pepe e Moutinho.
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Terminada a participação de Portugal no campeonato da Europa de 2020, a hora é de balanço e olhar para o futuro, até porque o campeonato do Mundo realiza-se daqui a 16 meses, entre 21 de novembro e 18 de dezembro de 2022.
Fernando Santos já deixou bem claro que a Seleção Nacional, em caso de qualificação, vai para o Catar com o sonho de conquistar o titulo que falta ao futebol português. Mas, afinal, com quem pode contar o selecionador nacional no Mundial"2022?
O JOGO fez a pesquisa e a conclusão é óbvia: poderá manter a espinha dorsal deste último Europeu, apesar do campo de recrutamento ter alargado. Há muitos e bons candidatos. A maioria atua no estrangeiro, mas da I Liga também há bons exemplos de potenciais candidatos a uma vaga. E há ainda muitos jovens a aparecer.
Não faltam bons exemplos na seleção de sub-21 que esteve no Europeu da categoria. De Vitinha, que está de regresso ao FC Porto, a Fábio Vieira, passando por Trincão, a lista é alargada, mas é preciso que joguem nos respetivos clubes para darem seguimento ao crescimento que têm evidenciado. O campo de recrutamento estende-se ainda aos jogadores naturalizados. Otávio pode ser o próximo. O médio do FC Porto não foi chamado para o Europeu, mas o treinador deixou a porta da seleção portuguesa aberta ao médio que nasceu no Brasil e que já tem a cidadania portuguesa.
Augusto Inácio, treinador e antigo internacional português, não tem dúvidas que Portugal "tem qualidade mais do que suficiente para alimentar o sonho de todos os portugueses". Por essa mesma qualidade, mas também por faltar menos de um ano e meio para o Mundial, Manuel Cajuda entende que "não deve haver mexidas drásticas" na hora de eleger os convocados para o Catar. "Se eu fosse o selecionador, não abdicaria de Cristiano Ronaldo, João Moutinho e Pepe", justifica o experiente treinador.
Inácio não se mostra preocupado pelo facto de alguns futebolistas já terem uma idade avançada. Rui Patrício, por exemplo, terá 34 anos quando começar o Mundial. "Hoje em dia os guarda-redes jogam até aos 38/39 anos", justifica, considerando que, para já, Rui Patrício, Anthony Lopes e Rui Silva têm dado boas indicações. "Eles vão continuar a assegurar a tranquilidade na baliza, mas seria ideal que aparecessem outros guarda-redes com menos idade." Diogo Costa (FC Porto), assim como Luís Maximiano (Sporting) são dois dos bons guarda-redes portugueses e têm sido chamados às seleções jovens, mas o problema é estarem tapados nos clubes por guarda-redes mais experientes, como são os casos de Marchesín e Adán.
Passando para a defesa, é no eixo que surgem as maiores dúvidas. "Temos de rever o problema dos centrais. O Pepe fez um Europeu extraordinário e uma grande época no FC Porto. É aquele jogador de classe mundial que a seleção portuguesa tem. Temos ainda o Rúben Dias, que já se afirmou como grande jogador, mas quando falamos de alternativas a esses dois as coisas começam a complicar-se. Não estou a ver centrais portugueses com esta qualidade e esta dimensão internacional que estes dois jogadores têm. É um motivo de preocupação", alerta Augusto Inácio. Já sem pilares como Bruno Alves e com José Fonte a ser ultrapassado por Rúben Dias, surgem agora jovens como David Carmo (Braga), Gonçalo Inácio (Sporting) e Domingos Duarte (Granada). Num outro patamar, sobretudo em termos de idade, Rúben Semedo (Olympiacos) tem 28 anos e já foi chamado diversas vezes por Fernando Santos, podendo ainda surgir, já esta época, uma novidade: Fábio Cardoso, reforço do FC Porto para a nova temporada. A impor-se ao lado de Pepe no eixo defensivo dos dragões, o ex-Santa Clara é um sério candidato a uma das vagas na seleção.
No meio-campo, seja para uma posição mais recuada ou para jogar como 8, as opções são muitas e de qualidade. Danilo e William Carvalho estiveram nas últimas grandes competições, mas o último Europeu trouxe mais "reforços": Rúben Neves e João Palhinha. Já para não falar em Sérgio Oliveira, uma opção sempre credível, assim como João Moutinho. O médio do Wolverhampton vai estar com 35 anos quando começar a próxima grande prova internacional e tudo dependerá do momento de forma dessa altura. Depois, claro, há Bruno Fernandes, um talento enorme que passou um pouco ao lado do Europeu, mas que, por exemplo, tinha sido fundamental na Liga das Nações em 2019. Nestas contas do meio-campo está agora, de forma mais sólida, Renato Sanches. Depois de um grande Europeu em 2016, parece que fez uma travessia no deserto para chegar em grande, cinco anos depois, a outro campeonato da Europa, após uma boa época no Lille. Renato foi uma das figuras de Portugal e já é apontado ao Liverpool.
Em ano de Mundial, um passo importante que terá de ser bem pensado pelo jogador, mas sabe-se como Jurgen Klopp é apreciador dos jogadores portugueses. "A Liga que eu adoro ver provavelmente não é a mais famosa, mas veem-se sempre inovações, bons jogadores, bons treinadores... É a de Portugal. É uma Liga realmente interessante de ver", admitiu recentemente o treinador alemão, que na última época contratou Diogo Jota. O avançado é um dos bons exemplos do rejuvenescimento da Seleção Nacional. Impôs-se no Wolverhampton, confirmou o crescimento no Liverpool e afirmou-se no ataque da equipa comandada por Fernando Santos. Isto num sector que continua a ter Cristiano Ronaldo como maior figura de sempre e que se prepara para participar no quinto campeonato do Mundo.
Ataque concorrido depende também de... CR7
No ataque, André Silva, o segundo melhor marcador do exigente campeonato alemão, continuará a ser, talvez, o maior candidato ao papel de sombra de CR7, a menos que o selecionador mude a forma de jogar da equipa para encaixar os dois atacantes. Mas há ainda Paulinho, agora concentrado unicamente no Sporting, depois de uma época de mudança de Braga para Alvalade. João Félix é outro jogador que, espera-se, possa vir a ganhar protagonismo na Seleção, face ao enorme talento que possui e o leque de posições que pode ocupar. E se Bernardo Silva já é há anos um outro peso pesado da Seleção, Pedro Gonçalves, Rafa e Gonçalo Guedes bem podem esperar por forte concorrência, nomeadamente de jogadores como Pedro Neto e Trincão que já entraram em convocatórias anteriores de Fernando Santos. Isto enquanto outros futebolistas que ainda não chegaram aos "A", terão época e meia para tentar mostrar valor para isso, casos de Rafael Leão e Tiago Tomás por exemplo.
Problema coletivo e não individual
É com o pensamento no Mundial"2022 que Manuel Cajuda deixa o alerta, até porque considera que o problema da Seleção Nacional não é individual, mas sim coletivo. "Portugal tem jogadores e selecionador. Não tenho ciúmes, sou apoiante do Fernando Santos, mas no Europeu, coletivamente, foi uma seleção muito triste de ideias", analisou o treinador algarvio, considerando que "o que deve ser mudado com urgência é a mentalidade que a seleção apresenta em campo, porque junta-se a cultura popular à futebolística que temos." Mas, afinal, o que quer dizer com isso? Cajuda esclarece. "A Seleção tem melhores jogadores do que a Itália, França, Alemanha, Inglaterra e Bélgica, mas aquilo que vimos no Europeu é que Portugal tem um futebol desatualizado e muito teórico. É um futebol com muita posse de bola e não constrói nada. Os princípios da seleção são princípios cómodos", critica.
Cajuda fala em termos metafóricos do futebol que tem visto de Portugal. "A posse de bola da seleção portuguesa é como ir passear um cão à rua; ele vai para onde queremos e nunca para onde deveria ir. A bola vai para onde a mandam e nunca para onde devia ir. Passeamos a bola demasiado tempo e não percebemos um aspeto fundamental: quanto mais tempo estivermos na fase de construção, mais tempo o adversário tem para se reorganizar defensivamente. Então chegamos sistematicamente ao último terço do campo em inferioridade numérica", reforça.
À forma de jogar de Portugal, o técnico acrescenta mais um aspeto. "Qualquer sistema tático é falível se não tiver uma excelente condição física a apoiá-lo. Quem corre daquela maneira, como os jogadores de Itália e Espanha, não andou a comer tremoços nos treinos... Quem quiser entender isto que entenda. Quem quer ter um alto rendimento todo o ano tem de ser exigente", frisou, em jeito de conclusão.
Baliza estrangeira
Fernando Santos não tem muito campo de escolha para observar guarda-redes portugueses na I Liga, sobretudo jovens. Bruno Varela, 26 anos, foi titular do V. Guimarães em 2020/21 e é uma das raras exceções. Nas equipas que ocuparam os primeiros lugares no campeonato, Sporting (Adán), FC Porto (Marchesín), Benfica (Helton Leite), Braga (Matheus) e Paços de Ferreira (Jordi) tiveram a baliza defendida por estrangeiros. O Santa Clara, que acabou a I Liga em sexto lugar, foi o clube melhor colocado com um português na baliza: Marco Pereira, de 34 anos. De resto, só guarda-redes lusos com mais de 30 anos conseguiram terminar a época a titulares nos respetivos clubes: Pedro Trigueira (Tondela) tem 33 anos, Beto (Farense) tem 39 e António Filipe (Nacional) conta 36.