Guerra na Ucrânia: como Mircea Lucescu salvou a família dos jogadores do Dínamo de Kiev
Treinador romeno do Dínamo de Kiev deixou a capital da Ucrânia uma semana depois da invasão da Rússia. Contra a vontade, pressionado pela embaixada, acabou por envolver-se na guerra.
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"Não deixarei Kiev para regressar à Roménia, não sou um cobarde. Espero que estes adultos sem cérebro parem com esta guerra. Nunca pensei que isto fosse possível". A afirmação, proferida a 24 de fevereiro, data da invasão da Ucrânia, por tropas da Rússia, pertence a Mircea Lucescu. Naquele dia o treinador do Dínamo de Kiev, de 76 anos, deixara claro o que pensava.
A verdade é que a situação na Ucrânia deteriorou-se rapidamente, designadamente em redor de Kiev, e Lucescu acabou mesmo por deixar a capital ucraniana. Pressionado pela embaixada do seu país, uma semana depois Lucescu regressou à Roménia. Demorou 17 horas a completar a viagem até à fronteira romena.
"A certa altura achei melhor sair, o exército estava prestes a entrar em Kiev", disse à Digisport, órgão de comunicação social romeno, na sexta-feira. "Por insistência da embaixada, parti. Percebi que podia ajudar mais estando aqui do que ficando isolado lá". E foi exatamente isso que fez, mal chegou a Bucareste. Ajudar.
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Lucescu iniciou quase de imediato contactos com o presidente da federação romena, Razvan Burleanu, envolveu as federações da Ucrânia e da Moldávia, falou com o presidente da UEFA, Aleksander Ceferin e assim facilitou a saída de todos os jogadores estrangeiros, especialmente os sul-americanos, do Dínamo Kiev e Shakhtar Donetsk, o seu antigo clube.
Sergei Sidorchuk, capitão do Dynamo Kiev, também conseguiu ir para a Roménia, para proteger os três filhos. "Ao todo, 42 pessoas foram resgatadas para Bucareste ou para a cidade de Iasi. Estamos a tentar encontrar ajuda humanitária", contou Lucescu. "A situação é extremamente difícil e delicada".
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Mas, Lucescu ajudou mais do que jogadores. Alugou dois autocarros para transportar famílias dos membros da sua equipa técnica e outros funcionários do Dínamo. Estão agora a salvo num centro de refugiados, em Iasi.
"Os jogadores querem treinar, eles são profissionais", referiu Lucescu. "Veremos o que podemos fazer em conjunto com a Federação Romena", concluiu.
O treinador romeno defende que a UEFA permita aos jogadores que deixaram a Ucrânia joguem por outro clube o mais depressa possível. "Se a guerra continuar, espero que a UEFA dê aos jogadores a possibilidade de serem libertados dos seus contratos ou de serem emprestados a outro clube até ao final da época. São jovens, com famílias.".
Lucescu contou que Ceferin está a considerar a possibilidade de um campeonato ucraniano que poderia ser realizado noutro país como a Roménia, Polónia ou Hungria: "Não seria difícil organizar", diz ele.
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