Em agosto e setembro, as cinco alterações foram chumbadas na principal liga inglesa, que voltou às três esta época. Guardiola e Klopp invocam a saúde dos jogadores, mas os clubes pequenos são contra
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O campeonato inglês, parado por causa dos jogos internacionais, anda em alvoroço - outra vez - por causa da polémica em torno do número de substituições autorizadas a cada equipa. Na Premier League, para esta temporada, voltou-se às três pré-pandemia, ao contrário da generalidade dos outros países europeus (Portugal incluído), em que se optou por manter as cinco alterações com que se terminou a temporada 2019/20.
Liga inglesa vive conflito entre clubes ricos e menos ricos a propósito das cinco alterações
O discurso da proteção da integridade física dos jogadores prevaleceu e é isso, precisamente, que está em debate na liga inglesa. E está longe de ser consensual, pois há quem defenda tratar-se somente da vontade dos clubes mais ricos, dotados de maiores e melhores plantéis.
No domingo, após terem-se defrontado e empatado 1-1, Jurgen Klopp e Pep Guardiola, treinadores de Liverpool e Manchester City, queixaram-se da escassez de opções que podem lançar a partir do banco e que lesões (musculares), como a sofrida pelo lateral direito dos reds Alexander-Arnold nessa partida irão repetir-se. Os dois técnicos que conquistaram os três últimos títulos de campeão inglês criticaram o ritmo de jogos a que têm sido sujeitos os seus jogadores, atingindo ainda as operadoras televisivas pela falta de cuidado na definição dos horários das partidas, que frequentemente não permitem as 72 horas regulamentares de intervalo entre encontros europeus e da Premier League.
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Algo que já Solskjaer, técnico do Manchester United, criticara. Tudo isto para defender a necessidade de se aumentar o número de substituições, assunto que já foi submetido a duas votações para a presente temporada, em agosto e depois em setembro, mas que não obteve a necessária maioria de 14 dos 20 clubes do escalão principal. O melhor que conseguiu foi ter 11 votos favoráveis, ou seja, a divisão é grande. Mas não está posta de parte a possibilidade de uma terceira votação ainda durante a época, caso seja proposta pelos clubes.
Debate-se lesões versus rotatividade do plantel
A BBC cita David Moyes, treinador do West Ham, que na sexta-feira passada disse ter mudado de ideias em relação às três substituições que inicialmente defendia. Pelo contrário, Dean Smith, técnico do Aston Villa, lembrou que apenas fez uma alteração aos 88 minutos na vitória de domingo, por 3-0, no campo do Arsenal.
"A intensidade dos nosso jogadores estava lá", justificou, resumindo o porquê da divisão dos clubes da Premier League neste tema: "Não temos o maior plantel do mundo e temos que gerir os nossos jogadores. Posso entender o problema de quem está nas provas europeias, mas há por aí grandes plantéis", disse Smith, numa clara referência às diferenças de poderio económico.
"Há mais 47% de lesões musculares esta época do que na anterior"
Em declarações ao jornal "The Guardian", o responsável médico do FIFPro, o sindicato mundial de futebolistas, manifestou estranheza pela decisão da Premier League voltar às três substituições, "ao contrário de todas as outras grandes ligas europeias, da Liga dos Campeões e da Liga Europa", referiu Vincent Gouttebarge, que destaca o facto de a liga inglesa atrair os melhores jogadores, logo, aqueles sujeitos a maior desgaste.
"Parecem crianças mimadas"
O tema é daqueles que merecem o rótulo de fraturante, tal a diversidade de pontos de vista. O conceituado jornalista desportivo Oliver Kay lançou várias questões a este propósito, via Twitter.
"Luke Shaw, titular em sete jogos em 22 dias, vai parar entre quatro a seis semanas com uma lesão muscular na coxa. Sim, o calendário é horrível, mas não deveriam os treinadores gerir a carga dos jogadores com mais cuidado?", perguntou, indicando que a constante procura de mais e maiores competições e a falta de utilização da profundidade dos plantéis talvez seja um assunto mais relevante do que as cinco substituições. Especialmente para os clubes que não vão à Europa e nos próximos meses terão de aceitar uma redução da Premier League e que haja apenas uma taça nacional. "É perfeitamente compreensível que olhem de forma desconfiada para as cinco substituições", atira.
"Com pessoas a perder empregos, queixam-se por os jogadores estarem cansados..."
Guardiola lançou, após a lesão de Aguero, um argumento de peso para a discussão: "Todos têm a estatística que diz haver mais 47% de lesões musculares na Premier League esta época em relação ao mesmo período da anterior". Já Chris Sutton, antigo avançado que fez carreira em clubes como Blackburn (ao lado de Shearer), Norwich, Celtic ou Birmingham, diz que os treinadores que se queixam de só poderem usar três suplentes "parecem crianças mimadas".
"Criticam as operadoras televisivas mas não se queixam quando recebem fortunas para pagar grandes ordenados ou grandes transferências. Isto é elitismo dos grandes clubes, que serão beneficiados com as cinco substituições. Com o país em confinamento e as pessoas a perderem os empregos, isto dá má imagem do futebol, queixarem-se porque os jogadores estão um bocadinho cansados".
14 clubes para ser aprovada
Para que seja aprovada a moção do regresso às cinco substituições com que a Premier League terminou a época de 2019/20, é preciso alcançar uma maioria qualificada de 14 dos 20 clubes do principal escalão. Nas duas votações anteriores, que tiveram lugar em agosto e setembro, as cinco alterações obtiveram um máximo de 11 votos favoráveis.
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