ENTREVISTA, PARTE I - Há cerca de três meses, ao serviço do Radomiak Radom, da Polónia, o médio sofreu uma lesão grave, fraturando a tíbia e o perónio. Foi submetido a quatro cirurgias e correu risco de amputação.
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Francisco Ramos, médio poveiro de 28 anos, iniciou um longo processo de recuperação, mas não quer pensar a longo prazo e pretende apenas levar "dia a dia".
O que recorda da jogada em que se lesionou?
- Aconteceu num lance aparentemente sem grandes problemas, mas meti mal o pé e sofri uma lesão gravíssima. Tive várias complicações no pós-operatório. Fui operado quatro vezes numa semana e isso trouxe-me alguns problemas. Nesta altura, encontro-me a recuperar na minha cidade, a Póvoa de Varzim, junto da família e dos amigos. Agora, é passo a passo, sem olhar para o futuro a longo prazo, apenas para o dia seguinte.
Apercebeu-se logo da gravidade da lesão?
- Apercebo-me de que a lesão foi realmente grave, mas não me apercebi da real dimensão. Mesmo no hospital, depois de estabilizar com a medicação, porque não aguentava com as dores e estava sonolento, só com o raio-x, e quando me explicaram, é que me apercebo da gravidade. Fui operado quando cheguei ao hospital, no dia seguinte a perna inchou muito e fui novamente operado de urgência, porque tive uma síndrome de compartimento. Se não fosse operado, em algumas horas corria o risco de ser amputado.
Como é que se encara psicologicamente algo tão complicado?
- Se uma operação é difícil, quatro é ainda mais. Tive a sorte de a minha mulher estar a ver o jogo e ficou sempre a meu lado no hospital, assim como a minha mãe, que viajou para a Polónia e esteve dez dias comigo. Foram dois suportes muito grandes, porque eles pouco falavam de inglês e a comunicação era muito difícil.
Como foi o processo que se seguiu?
- Tenho de agradecer ao clube, que nunca me falhou com nada, até pelo lado humano, ao deixar-me recuperar em Portugal, e isso facilitou imenso. Ainda fiquei na Polónia mais três semanas, em casa, com a minha mulher, com muitas dores e incertezas sobre se deveria sair do hospital. Tomei antibióticos durante quinze dias por causa das bactérias e havia dúvidas se deveria tomar mais tempo, pois, estando num país diferente, ficamos sempre com receio. Desde que vim para Portugal tudo melhorou muito.
O processo agora passa por reaprender a andar?
- Exato. Estou a fazer o "desmame" das muletas, a largar aos poucos e a aprender a andar devagarinho, porque a fratura ainda não está consolidada e vai demorar algum tempo, mas estou a ter minha independência outra vez, o que é muito importante. Não vale a pena fazer estimativas de recuperação. Por exemplo, na Polónia, logo depois de acordar da operação, o médico disse-me que tinha corrido bem, mas que não sabia se iria voltar a jogar futebol. Depois, quer na Polónia, quer em Portugal, bons médicos disseram-me que há boas perspetivas de voltar a jogar. Sem dúvida que é uma lesão que coloca em causa a carreira, mas só mais à frente poderemos ver. Há perspetivas de poder voltar, mas vamos evoluindo passo a passo. Estou a ser acompanhado por um psicólogo, porque é sempre bom falarmos com alguém que percebe a nossa cabeça e nos dá conselhos para nos abstrairmos e trazermos pensamentos positivos.
Já conseguiu ver as imagens do lance?
-Não. Já escrevi várias vezes no google "Francisco Ramos Polónia" e desisto quando vou clicar no vídeo. Consigo ver o raio-x do antes e do depois, mas as imagens ainda não consegui.
"A parte psicológica será fundamental"
Tiago Silva, responsável pela Restart, clínica de fisioterapia onde Francisco Ramos recupera, explicou que, há um mês e meio, o jogador apresentou-se "numa situação de muita disfunção, não conseguia caminhar, usava canadianas, tinha bastante dor e desconfiança em relação ao processo." "Agora, já consegue caminhar e vai enfrentar um processo evolutivo para ganhar força, mobilidade e confiança, para que consiga correr dentro de um mês", revelou, lembrando ainda que "a parte psicológica será fundamental".