Football Leaks: Arquivado processo por suspeita de corrupção de procurador amigo de Infantino
Justiça suíça nem quis aceder aos registos que levantaram suspeitas sobre a relação do procurador Rinaldo Arnold com o presidente da FIFA, de quem é amigo de infância. O Le Monde tentou perceber porquê, mas não obteve resposta.
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A menos de dois meses do congresso em que se apresenta sem concorrência para ser reeleito na presidência da FIFA, a imprensa francesa classifica como um alívio para Gianni Infantino a notícia do arquivamento do processo que investigava Rinaldo Arnold, amigo de infância e hoje procurador suíço, por suspeitas de corrupção passíva. De acordo com o Le Monde, o instrutor do processo nem sequer quis consultar os ficheiros do Football Leaks que estiveram na origem da investigação e também dispensou a colaboração de Rui Pinto, o "hacker" português que esteve na origem da divulgação da informação e tem colaborado com as autoridades de vários países.
Rinaldo Arnold é primeiro procurador no Ministério Público da Confederação helvética no Haut-Valais e foi investigado por ter sido convidado para um congresso da FIFA e recebido bilhetes para jogos do Mundial. O procurador Damian K. Graf concluiu que nada de irregular existiu e arquivou o processo. O Football Leaks, contudo, havia revelado detalhes da relação entre Arnold e Infantino - dados aos quais as autoridades da Suíça têm acesso, mas que, neste caso, foram sumariamente dispensados.
O Le Monde tentou saber por que razão não quis o responsável pelo processo ter acesso a esta informação e nem a colaboração de Rui Pinto - atualmente detido, em Portugal - para clarificar a relação entre Arnold e Infantino. Do gabinete do procurador, que a 21 de março ouviu os esclarecimentos de Gianni Infantino, a única resposta foi que não haveria mais informações a dar.
A 28 de novembro do ano passado, o Football Leaks divulgou provas de que, em 2016, Rinaldo Arnold organizou um encontro informal secreto de Gianni Infantino com Michael Lauber, procurador-geral do ministério público suíço responsável por duas dezenas de processos relacionados com a corrupção na FIFA.
No mesmo ano, quando o nome de Infantino é citado no âmbito dos Panamá papers, outra dose maciça de informação comprometedora, neste caso a propósito de contratos de direitos audiovisuais que levantaram suspeitas, o presidente da FIFA pede ao amigo de infância que ligue ao gabinete do procurador-geral para tentar obter informações. Arnold dispõe-se a tentar convencer a Procuradoria a difundir um comunicado a explicar que não existe processo algum contra o presidente da FIFA. Dispõe-se mesmo, de acordo com o Football leaks, a acompanhá-lo numa reunião com os responsáveis pela investigação e a analisar se se justifica apresentar queixa por difamação.
Um mês mais tarde, relata o Le Monde, Rinaldo Arnold envia a Gianni Infantino um e-mail em que se candidata, sem sucesso, a adjunto da secretária-geral da FIFA, Fatma Samoura.