O único treinador a conquistar troféus, dois, pela equipa principal de Portugal é também quem mais vezes a orientou e com melhor aproveitamento entre os que por lá passaram este século.
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Largos dias têm cem anos é um adágio popular que significa que há muito tempo para executar uma tarefa ou chegar a qualquer lado. Fernando Santos, selecionador nacional, assumiu o cargo em setembro de 2014, há menos de oito anos, portanto, mas vai tornar-se amanhã [quinta-feira] o primeiro treinador centenário à frente da Portugal. E é caso para dizer que largos dias têm cem jogos, tantas são as metas que atingiu neste percurso, a última das quais a qualificação para o campeonato do Mundo.
Impondo desde a primeira hora uma cultura de exigência e de união, e assumindo sem rodeios a ambição de conquistar o campeonato da Europa de 2016, Fernando Santos atingiu o ponto mais alto da carreira logo ao 26.º jogo pela Seleção: venceu a França em Saint-Denis, graças ao golo de Éder, na final do Europeu, e levantou o troféu mais importante que o futebol português conquistou até hoje. Ele que, curiosamente, até se estreara com uma derrota no mesmo estádio e frente ao mesmo adversário, num particular.
De então para cá, neste percurso, o selecionador e a equipa das Quinas marcaram presença nas fases finais de da Taça das Confederações"2017 (3.º lugar), Mundial"2018 (oitavos de final), Liga das Nações"2019 (vitória 1-0 sobre os Países Baixos na final e conquista da primeira edição do troféu), Euro"2020 (oitavos de final), falhando apenas a final-four da última Liga das Nações.
Mas resumir a liderança de Fernando Santos às duas conquistas já referidas e às presenças nas fases finais seria redutor. Afinal, trata-se do treinador com mais jogos à frente da equipa das Quinas - Scolari é o segundo com 74 partidas - e aquele que apresenta melhor taxa de aproveitamento entre os que passaram pelo cargo este século (António Oliveira, Luiz Felipe Scolari, Carlos Queiroz e Paulo Bento), com 61,6 % de vitórias e 65,2%, realce-se, em partidas oficiais.
Contudo, para melhor percebermos a dimensão dos feitos de Fernando Santos nada como compará-lo a outros selecionadores europeus com conquistas este século. Com dois troféus ganhos há apenas três: Del Bosque, Deschamps e Low, todos eles também com mais de cem partidas à frente da Espanha, França e Alemanha, respetivamente. E só o espanhol com os dois mais apetecíveis: Euro e Mundial.
Três questões a Fernando Santos
"Cobrança é muito elevada"
1 Qual foi o seu principal contributo para a Seleção nestes 99 jogos?
- O contributo pode ser medido pelas conquistas que a Seleção alcançou nestes anos, sendo que o mérito deve ser partilhado com a restante equipa técnica e todo o staff de apoio e estrutura da FPF, mas essencialmente tem de ser atribuído aos jogadores. A primeira palavra que escrevi como mensagem e princípio-chave para a Seleção quando aqui cheguei foi "nós". Foi assim, todos juntos, que percorremos este caminho.
2 Estreou-se frente à França, no local e com o adversário do momento mais alto do futebol luso, o Euro"2016. Estava mais ou menos nervoso do que na final do Euro?
-Confesso que estava mais nervoso no primeiro jogo do que na final. Recordo-me de todos os jogos, muitos deles em pormenor, e daquele quase não me lembro... Tantas foram as emoções que senti naquele momento.
3 Ter de disputar o play-off do Mundial"2022 foi o momento mais delicado à frente da Seleção ou houve outros ao longo desta caminhada?
-Todos os jogos são de total compromisso e a Seleção atingiu um patamar onde a fasquia da exigência e da cobrança é muito elevada. Ainda bem que assim é, pois representa o percurso e o alto nível em que nos encontramos. Por isso, qualquer resultado menos bom, especialmente as derrotas, são momentos difíceis. Felizmente, não vivemos muitos momentos desses.