Fé nas cabalas e em Messi: na Argentina, há quem veja sinais em todo o lado
Na Argentina todos acreditam que o ansiado título não vai fugir. E não é só pela qualidade de La Pulga.
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Ainda antes de começar o Campeonato do Mundo do Catar, a Argentina já era apontada como uma das maiores, se não mesmo a maior, favorita a vencer o torneio. Contudo, uma derrota logo a abrir o torneio, diante da Arábia Saudita, fez esfriar os ânimos e colocou um ponto final numa invencibilidade que estava a um jogo do recorde mundial da Itália.
É já no domingo que chega ao fim mais um Campeonato do Mundo e a decisão será entre a atual campeã sul-americana e a França, que procura ser a primeira desde o Brasil a sagrar-se bicampeã mundial.
Mas a Alviceleste recompôs-se do golpe sofrido e com maiores ou menores dificuldades chegou à final de amanhã, conseguindo até na semifinal, frente à Croácia, obter a vitória mais folgada na competição: 3-0.
Empurrada por uma fervorosa e numerosa claque de adeptos em todos os jogos e contando em campo com a liderança e o génio de Messi - a realizar aos 35 anos o melhor Mundial da carreira -, a Argentina cresceu como equipa à medida que Scaloni foi fazendo correções, nomeadamente dando a titularidade ao benfiquista Enzo Fernández e ao seu ex-colega do River Plate, Julian Álvarez, agora no City, que têm sido dois fiéis escudeiros de La Pulga.
Marrocos foi carrasco de Portugal em 1986 tal como este ano. No México seria depois eliminado pela República Federal da Alemanha, futuro vice-campeão. Este ano caiu diante da... França.
Sem levantar o troféu desde 1986, quando Maradona era a figura maior da equipa e conquistou o estatuto inigualável entre os argentinos que, carinhosamente, o tratavam também por Diós, após a famosa "Mão de Deus" à Inglaterra, a Argentina acredita que é desta que o jejum vai terminar e depois de duas finais perdidas: em 1990, ainda com Maradona como líder em campo, e em 2014, já com Messi a capitanear com a "10" vestida.
As muitas razões da crença
Conhecidos por serem supersticiosos, os argentinos têm encontrado nos últimos dias inúmeras cabalas para demonstrar que as desilusões passadas não se irão repetir e que a França, atual campeã mundial e candidata a um feito apenas alcançado pelo Brasil, será derrotada.
Como pode ler aqui ao lado em detalhe, são várias as coincidências de que os sul-americanos têm falado nos últimos dias para verem amanhã os "astros todos alinhados" no Estádio Lusail. Desde a camisola tradicional que será a utilizada, passando pelos números idênticos de Maradona e Messi, o regresso do talismã Di María, o facto de o árbitro de amanhã ter nascido no mesmo dia que o da final de 1986 ou ainda a maldição do Bola de Ouro que nunca levantou o troféu e Benzema, mesmo sem ter jogado, faz parte do grupo francês.
A Argentina vai disputar a sexta final de um Campeonato do Mundo. Estreou-se com uma derrota em 1930, venceu em 1978 e 1986 e perdeu em 1990 e 2014.
Mas poderíamos ainda acrescentar outras. Por exemplo: Canadá e Marrocos só coincidiram num Mundial, o de 1986, o único em que a seleção africana tinha ultrapassado a fase de grupos até ao Catar'2022. No México'1986, os africanos foram também carrascos de Portugal, na fase de grupos e agora nos quartos de final, tendo, depois, caído frente ao futuro finalista vencido, a República Federal da Alemanha (RFA). Desta vez, Marrocos perdeu nas meias-finais com a... França.
Coincidências
Camisola alviceleste como em 1978 e 1986
A Argentina vai disputar a final de amanhã com a sua camisola tradicional alviceleste, a mesma que utilizou nas finais ganhas de 1978 e 1986. Em 1990 e 2014 perdeu as decisões do Campeonato do Mundo jogando com a camisola alternativa, a azul.
Messi como Maradona em número de golos
No título de 1986, a Argentina era liderada pelo capitão Maradona e 32 anos depois tem Messi como capitão e figura principal, ele que é um digno sucessor de El Pibe. No Mundial do México, Maradona carregou a Alviceleste até ao jogo decisivo marcando cinco golos e fazendo quatro assistências nas seis partidas antes da final. No Catar, Messi soma igual número de golos e apenas menos uma assistência em seis jogos.
Di María é talismã das finais e está recuperado para jogar
Di María marcou os golos dos triunfos (ambos por 1-0) nos Jogos Olímpicos'2008 e na Copa América'2021 e assinou ainda um tento na vitória (3-0) na Taça Finalíssima frente à Itália, jogo que opôs em junho passado os campeões sul-americano e europeu. No Mundial'2014, o atual jogador da Juventus lesionou-se na partida dos quartos de final frente à Bélgica e já não voltou a jogar na prova. No Catar, Di María, a contas com problemas físicos, perdeu os jogos dos oitavos e meias-finais, mas está apto para a decisão.
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Árbitro nascido no mesmo dia que o da final do México'1986
Szymon Marciniak, árbitro polaco nomeado para dirigir a final de domingo nasceu no dia 7 de janeiro (de 1981). Curiosamente, Romualdo Arppi Filho, juiz brasileiro que dirigiu a final de 1986 ganha pelos argentinos frente à RFA, também nasceu a 7 de janeiro, mas de 1939.
A maldição do Bola de Ouro que nunca venceu o Mundial
Nunca foi campeão do mundo o jogador que chegou ao Mundial premiado com a Bola de Ouro. Embora não tenha jogado pela França, devido a lesão, Benzema foi galardoado já este ano com o prémio e pode até ser utilizado amanhã se Deschamps assim o entender. No passado, cinco jogadores foram finalistas do Campeonato do Mundo após receberem o prémio e perderam o jogo decisivo: Ronaldo (Brasil) em 1998, Roberto Baggio (Itália) em 1994, Rummenigge (RFA) em 1982, Cruyff (Países Baixos) em 1974 e Rivera (Itália) em 1970. A "maldição" também já afetou lusos: Eusébio, que chegou ao Inglaterra'1966 como Bola de Ouro e "só" atingiu o terceiro lugar, e Cristiano Ronaldo que foi para os Mundiais de 2014 e 2018 como último vencedor do prémio da France Football.
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