"Falo com pessoas em Portugal que ainda dizem ter de ir trabalhar. Assim fica difícil"
ENTREVISTA - Zeca, futebolista do Copenhaga, fala dos dias de isolamento junto à janela. "Sem estores nem cortinados", vê a população cautelosa na pandemia.
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Na sexta-feira, dia 13 de março, a Dinamarca fechou fronteiras terrestres e colocou limitações aéreas, um pouco como a maioria da Europa. Quem quiser voltar ao país terá de se sujeitar a um período de quarentena de 14 dias, razão pela qual Zeca permanece na capital.
O capitão do campeão Copenhaga conta a O JOGO, na primeira pessoa, as últimas duas semanas, em plena pandemia da Covid-19. "Na Dinamarca, parou tudo. Colocaram as regras da quarentena no aeroporto. Poderíamos estar 14 dias sem poder jogar quando voltássemos. O clube não arriscou: o que é certo é que pouco sabemos. Estamos em casa à espera de notícias do clube para ver quando recomeçamos a trabalhar. Cancelaram os treinos imediatamente depois de viajarmos de Istambul [derrota 1-0 contra o Basaksehir], após o jogo da Liga Europa", principia o médio que tem feito com que os portugueses olhem com maior atenção para o campeonato dinamarquês, precisando os momentos em que soube que a competição seria suspensa: "Soubemos que o campeonato parava no dia 10, dois dias antes do jogo da Liga Europa. Por razões de segurança, claro. Havia o risco de o jogo frente ao Basaksehir ser cancelado também e perguntámos até ao dia da partida se ia mesmo para a frente. Disseram-nos que ia acontecer, mas que a segunda mão iria ser cancelada. Soubemos da suspensão do campeonato porque a equipa que defrontaríamos [Lyngby], veio a saber-se que tinha três casos de coronavírus."
NÃO SAIA DE CASA, LEIA O JOGO NO E-PAPER. CUIDE DE SI, CUIDE DE TODOS
A Dinamarca foi proativa nas medidas de prevenção e está a apertar as regras do isolamento. Para já tem 1877 casos e 41 mortes por Covid-19. A curva de crescimento não tem sido tão alarmante como se pensou e boa notícia é também o estado do plantel do Copenhaga. "Ninguém teve problemas. Não chegámos a fazer testes depois da Liga Europa, mas entrámos imediatamente em quarentena. Ninguém apresentou sintomas. Posso dizer que até telefonei a ex-colegas e, felizmente, ninguém que conheça tem o vírus", diz o médio de 31 anos, naturalizado e internacional pela seleção grega, dando conta da apreensão ao aterrar em Istambul: "Sabíamos do risco na Liga Europa. Na Turquia, chegámos a procurar os casos de coronavírus em cada país. Apareceu o primeiro caso no país quando lá estávamos. Sentíamo-nos mais confiantes porque era só um, ainda que não tivéssemos a certeza. Foi um risco, mas acredito que a UEFA tomou a decisão de jogarmos por saber que estávamos seguros."
"Dói estar longe da família. O futebol passa para quarto plano"
A ideia de que o pânico reina na Itália e apareceu por Portugal não fugiu aos escandinavos, habitualmente mais contidos. "A Dinamarca tinha quase o dobro dos casos de Portugal. Agora já não há pânico, mas houve alarme nos primeiros dias. O governo tomou medidas muito cedo e os dinamarqueses fizeram o mesmo que os portugueses: correram todos para os supermercados. Começaram a encher os carros com coisas, até porque, na altura, já se dizia que não podia haver aglomerações. O supermercado estava cheio e havia filas fora, com toda a gente próxima; nem pensaram que podiam ser contaminados nas filas", conta, retratando a atual realidade: "Agora não vejo quase ninguém na rua. Aqui, onde moro, dá para ver o interior da casa dos vizinhos; não utilizam cortinados nem estores e vês o que se passa. Vejo sempre gente em casa e com crianças. Estão a adotar a medida certa de ficar em casa e proteger a família."