"Evitamos as lesões nos joelhos, nos tornozelos mas ninguém nos ajuda a proteger o cérebro"
David Cotterill fala sem rodeios da depressão, uma doença que afeta cada vez mais jogadores.
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Depressão. A doença que afeta muitos jogadores, mas poucos falam abertamente sobre ela. David Cotterill é um deles. O extremo galês, de 30 anos, falou sem rodeios à BBC sobre o problema que o afeta há já vários anos, "desde a adolescência, até". O jogador, que já passou por Birmingham, Swansea, Portsmouth e Sheffield, entre outros, explicou que havia dias em que não conseguia sequer encarar as pessoas e como já fugiu para longe de modo a pensar sobre como colocar termo à vida.
"Houve alturas em que quando os treinos acabavam eu não via a hora de ir para casa deitar-me. Ficava horas na cama. Principalmente no defeso, ficava três ou quatro dias deitado, não comia, pensava nas piores coisas e não dormia. Não queria encarar o mundo. Aconteceu, ao início, meter-me no carro, conduzir por longas horas, parar e só pensar em coisas más. Procurei a forma mais fácil de cometer suicídio... Você deve estar a pensar 'como se pode fazer isto quando se tem mulher e filhos?' Eu estava num sítio negro. Há uns dias em que a pessoa se sente bem, mas noutros as coisas más repetem-se", explicou.
O maior problema, explica Cotterill, é que ninguém sabia sobre a depressão. "Vamos colocar as coisas desta forma: se eu chegasse ao pé de um treinador e dissesse que estou mentalmente doente, que preciso de uma pausa, ou de ajuda, ele nunca voltará a por-me a jogar. Garanto que há muitos jogadores que se sentem assim e não dizem nada a ninguém. Não falam porque não querem perder o seu lugar na equipa, não querem perder os seus rendimentos e a sua família", afirmou.
"Se fores um grande nome na equipa, provavelmente ajudam-te. Mas se fores apenas mais um, não te dão a ajuda que precisas. Evitamos as lesões nos joelhos, nos tornozelos mas ninguém nos ajuda a proteger o cérebro e eu não entendo isso. Se todos fossem honestos no que toca à depressão no futebol, garanto que os números seriam assustadores", rematou.