"Estou sem trabalho porque quero, já tive Série A, Série B, equipas da Champions, Médio Oriente..."
António Oliveira, treinador português que saiu do Corinthians no início de julho, deu uma entrevista ao UOL Esporte
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Passagem pelo Corinthians: "O Corinthians é outra dimensão. Respeitando todos os clubes onde estive percebemos a dimensão do Corinthians, a par de outros como o Flamengo, o São Paulo, o Palmeiras, por exemplo. Entre as muitas Ligas que existem no Mundo a brasileira é das mais difíceis, falamos das big-5 mas esta se calhar é a 6.ª ou 7.ª a nível mundial. Qual é a Liga em que existem vários candidatos a qualquer coisa? O Corinthians foi o realizar de um sonho projetado, mas os sonhos vão-se criando. Dei tudo de mim, sei o que eu fiz e como fiz alicerçado em valores e regras. E sabia aquilo que estava a desenvolver. Sempre falei de um período de sobrevivência, do caminho das pedras, mesmo quando ganhámos. Fizemos a segunda melhor campanha na Sul-Americana, atrás do Racing, com apenas dois golos sofridos e acabámos por nos manter na Taça do Brasil. Tinha a promessa de reforços, foi algo de que fomos falando. Estou extremamente grato aos jogadores do Corinthians pelo que fizeram, mesmo em condições difíceis, não é fácil viver um clube com instabilidade e uma gestão nova. No Corinthians, fui muito mais do que um simples treinador nalguns momentos. Gostava de ter terminado aquilo que fui construindo. Hoje o Corinthians tem uma equipa nova, não vale a pena dizer que faria melhor ou pior."
Relação com o presidente do Corinthians: "Não saí magoado com o presidente Augusto Melo. Ele fez o seu trabalho. Numa situação difícil que a equipa atravessava ele teve que salvar a pele dele. E quem é que paga? O treinador. Mas não aponto o dedo, ele fez o seu trabalho. Não estou magoado com o presidente, ele fez o que tinha a fazer. Isto vai bater sempre no ponto mais frágil, que é o treinador. E ele tem que se salvar senão vão bater nele. Bom presidente é aquele que tem as suas ideias e convicções e vai com elas até ao fim. Um presidente não pode tomar decisões em função da pressão externa e eu não estou a dizer que houve ou não. O que ele fez foi para salvar a pele dele e é nessas alturas que temos de ser mais firmes."
Teve uma proposta do Atlético Mineiro quando treinava o Corinthians? "O Corinthians é uma página bonita da minha vida que já é passado. As pessoas do Corinthians ficaram perfeitamente identificadas sobre, não interessa de quem, o interesse de um determinado clube, uma proposta tentadora de um clube muito mais estável, com um plantel mais consistente. Mas tenho valores e uma palavra e essa vale muito mais que um papel assinado. Não podia sair um mês ou mês depois de ter chegado ao Corinthians. Houve jogadores que me imploraram para não sair. Não posso entrar num clube num mês e no outro a seguir sair para outro clube. Não vale tudo. A melhor decisão foi ter ficado e não me arrependo. As oportunidades vão, com certeza, surgir. O Corinthians não vai cair [na série B], é demasiado grande para cair."
Cuiabá quis regresso de António Oliveira recentemente? "O Cuiabá vai estar sempre de portas abertas para me receber. O meu legado foi deixado, a história está escrita e agora vai ser escrita noutro lugar. A torcida e a cidade sabem o carinho que tenho por eles. O que aconteceu o ano passado dificilmente voltará a acontecer, a não ser que haja um investimento de um árabe. O treinador ser eleito o melhor do mês em julho no Brasileirão isso não vai voltar a acontecer. Nem vai acontecer em seis jogos ganhar cinco e empatar um. Isso não foi sorte, foi mérito daquela equipa, sempre muito comprometida."
Treinar o Santos? "Estou no Brasil por iniciativa própria, não estou a trabalhar porque não quero. Estou sem trabalho porque quero, já tive situações de Série A, de Série B, de equipas que estão a disputar a Liga dos Campeões, do Médio Oriente. Quero começar um projeto do zero, porque o sucesso de uma época depende muito da escolha dos seus jogadores, quero estabelecer-me numa equipa com uma identidade muito própria, que goste de ter a bola, uma equipa ofensiva, que me permita colocar em prática tudo aquilo que tenho como proposta. E isso muitas vezes não se consegue fazer com o comboio em andamento. Foi uma decisão minha começar do zero. Vamos aguardar."