Luis Enrique volta ao comando da seleção de Espanha para o Euro"2020, mas o seu homem de confiança de sempre, que ficou com o cargo nos últimos meses, bateu com a porta em litígio.
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Robert Moreno não quis voltar a ser número dois na seleção de Espanha, ou Luis Enrique recusou tê-lo como adjunto outra vez? Esta é uma pergunta sem resposta clara, no meio das várias versões e da muita poeira de contrainformação que circulou desde que a federação espanhola confirmou oficialmente a troca de Moreno por Luis Enrique.
Os dois eram amigos do peito, trabalharam juntos em Roma, Vigo, Barcelona e também na seleção, mas a relação ter-se-á deteriorado nos últimos tempos, sobretudo desde que Luis Enrique mostrou interesse em reclamar o lugar que a federação tinha prometido devolver-lhe assim que se resolvessem os problemas que ditaram o afastamento .
Essa é, como se sabe, uma tragédia à parte, e bem mais grave. Em março deste ano, Luis Enrique pediu dispensa do cargo, entregando-o interinamente ao seu adjunto de sempre, Robert Moreno, e três meses depois oficializou mesmo a saída, precipitando a promoção do até aí homem de confiança. Este chegou a dizer que devolveria a seleção ao seu comandante se este a quisesse, no meio de um drama que só se compreendeu em agosto, quando foi conhecida a morte da filha de Luis Enrique, vítima de cancro.
Lágrimas na despedida
A qualificação para o Europeu de 2020 prosseguiu com Moreno ao leme e esta segunda-feira, após o último jogo, além de recusar a presença na sala de Imprensa, o agora ex-selecionador despediu-se em lágrimas dos jogadores, anunciando-lhes que não continuaria no cargo. Ontem fez mais: convocado pela federação para acertar os termos da saída, que ele próprio teria sugerido quando soube do plano para resgatar Luis Enrique, enviou os advogados.
Luis Rubiales, presidente da federação espanhola, foi para já o único a dar a cara. E uma versão da história. Confirmou que, sim senhor, iria "cumprir a palavra" dada a Luis Enrique e devolver-lhe a seleção. Confirmou ainda que já tinha havido, no final de outubro, um encontro em Saragoça com o ex - e agora novamente futuro - selecionador para saber se ele estaria interessado em voltar, mas que nada fora feito nas costas de Moreno. Segundo a versão, teria sido este a comunicar a Francisco Molina, o diretor técnico, que queria acertar a saída imediatamente, para não ensombrar o tal regresso. Porém, de acordo com alguma Imprensa espanhola, Luis Enrique impôs o afastamento do seu ex-número dois para voltar ao banco da Roja.
Incomodado com a decisão do seu ex-chefe e com o não reconhecimento do mérito com que apurou a seleção, Moreno adotou uma postura mais crispada e enviou os advogados à reunião de ontem.
Sem pulso no balneário
Com comadres zangadas, circulam agora supostas verdades. A poeira é muita, com lavagem dissimulada de roupa suja através de recados. Um dos últimos sugere que Rubiales, apesar dos resultados, estaria há muito desagradado com o trabalho de Moreno, designadamente com a falta de pulso para domar o balneário de estrelas. Um dos últimos estágios tinha sido adiado por um dia a pedido dos jogadores, que ganharam ainda duas tardes livres antes dos compromissos com Malta e Roménia, jogos que encerraram a qualificação. Rubiales temia o regresso de comportamentos que marcaram o Mundial da Rússia, sob a batuta de Fernando Hierro, depois da conturbada saída de Lopetegui, e daí o interesse em ter de novo Luis Enrique. O plano inicial passava por deixar passar alguns meses, provavelmente até aos compromissos particulares de março, mas a rebelião de Robert Moreno precipitou tudo.
O tudo, aqui, é uma novela que está longe de terminar, porque dois dos protagonistas, por sinal ex-amigos, ainda não abriram a boca. A de Casillas é que não ficou fechada e já apareceu ao barulho, com um tweet que teve amplo eco em Espanha. "Somos um país anedótico, viva Espanha", resumiu o portista.