Figura desportiva indiscutível de 2016, o avançado admite que só daqui a uns anos terá uma noção da importância histórica
Corpo do artigo
Resuma este ano numa frase ou palavra.
- Incrível; fabuloso. São duas palavras que me ocorrem agora para o resumir.
Ainda tem coragem de pedir mais alguma coisa no Natal depois do presente que foi aquele golo?
- O Natal nem é uma festa que eu comemore muito. Não dou assim grande importância aos presentes, embora goste da data. Julho foi, sem dúvida, um Natal antecipado para mim, e com uma bela prenda. Mas foi preciso embrulhá-la, empacotá-la e procurá-la [risos]. Depois dessa prenda antecipadíssima, não vou pedir mais nada...
Já viu aquele lance da final quantas vezes? Não minta.
-Para aí umas cinquenta...
Só?
-Pronto, mais de cem. Sei lá...
Dessas, quantas vezes se lembra de ter dito: "Que grande golo!"
-Sempre! Antes dos jogos, costumo ver alguns bons momentos meus e esse está lá de certeza. E, sim, penso muitas vezes "que grande golo!"
E, já agora, pensou alguma vez "ei lá, fui mesmo eu a marcar?"
-Sim, também [risos]. Quando estou a ver lembro-me sempre da jogada e arrepio-me todo no final, apesar de já saber como termina. Já o vi de vários ângulos diferentes, e é fantástico. Ouço as emoções, a paixão que os relatores colocam a descrever o lance; é incrível.
Também costuma ver imagens dos golos incríveis que falha? Dão-lhe vontade de rir?
- Vejo, mas não me rio tanto, claro [risos]
Se a sua carreira se resumisse ao lance da final, já teria valido a pena?
- Sim, com certeza. Já teria valido a pena. Foi um golo que me deu muito, a mim e ao país; um golo trabalhado pelos meus colegas, que fizeram tudo para que, no final, pudéssemos estar naquela posição. Eles foram muito importantes. É um golo que vale mais do que qualquer outra coisa na minha carreira.
Quase seis meses depois, já tem noção da importância histórica daquele momento?
-Acho que ainda não. A vida continua, muita coisa aconteceu, e é verdade que as pessoas me dizem que o golo ficará na história, mas acho que só mais tarde é que vou ter a perfeita noção disso.
Se tivéssemos feito esta entrevista há um ano, no Natal de 2015, e o Éder dissesse que sonhava marcar o golo da final do Euro, como acha que seria recebida a ideia?
- Com risota e algum desdém, como é óbvio. Mas se a pergunta me tivesse sido feita durante o Europeu, eu teria dito isso.
Aliás, em vésperas do Europeu, chegou a dizer que seria o melhor marcador...
- Era o meu objetivo e ia fazer tudo para que fosse possível se tivesse oportunidades para isso. Mesmo antes de partirmos para Marcoussis, depois do jogo com a Estónia, perguntaram-me se achava que ia marcar no Europeu, e eu disse que sim.
Não foi o melhor marcador, mas foi seu o golo mais importante...
- Para mim, foi o melhor. Decidiu uma final. Permitiu-nos levantar o troféu e será sempre um golo especial.
"Julho foi, sem dúvida, um Natal antecipado para mim. Depois dessa prenda não peço mais nada"
Como lembrou no livro que escreveu, chamaram-lhe "pino", "cone", eventualmente até outras coisas piores, e assumiu que isso o magoou. A pergunta agora é: tem sido mais fácil lidar com o facto de ser apelidado de "herói".
- Também me faz confusão. Aquelas outras coisas negativas fizeram-me confusão, mas aprendi a lidar com elas. Agora, é diferente...E tem sido também difícil lidar com o contrário. É muita gente a falar do mesmo; foi um momento importante e sinto-me orgulhoso por isso, mas, às vezes, quero apenas concentrar-me no momento, no presente. É positivo e ao mesmo tempo desconfortável, porque sou reservado. Claro que gosto que as pessoas me abordem e falem desse momento; deixa-me é um bocado sem jeito...
E o crédito por esse golo será ilimitado ou acha que vai chegar o dia em que ouvirá qualquer coisa como: "pronto, já chega, vê lá se fazes pela vida e marcas mais alguns..."
- Não sei, ainda não pensei muito nisso. Sei é que nada é garantido. No futebol, como na vida, o que hoje é verdade amanhã é mentira. Foco-me apenas no trabalho e em procurar ter bons momentos na minha carreira. Dificilmente terei algo que se equipare ao que aconteceu, mas continuarei a trabalhar para dar o melhor, com toda a certeza. Tento desligar-me um pouco do que os outros pensam, ou se terei crédito ilimitado; não me preocupo muito com isso.
Para si, o Europeu foi uma espécie de Euromilhões com jackpot?
- [risos] Equivaleu a tudo. Depois do que passei, para mim, sim, foi um Euromilhões.
E quanto tempo demorou a descer à terra? Se é que já desceu...
- Já desci, mas demorou umas semanas. Queria procurar o meu espaço, ter tempo para mim, mas foi difícil. Fui apenas três dias de férias para Ibiza. Houve entrevistas, compromissos; estive entretido. Não como eu queria, mas, pronto, faz parte. As pessoas procuravam saber como foi, como me sentia, e achei que era normal partilhar com os portugueses, apesar de ter sido cansativo.