Tony da Silva, treinador que cresceu em França e jogou no PSG, defende o técnico que o orientou no Paços de Ferreira
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O castigo de nove meses a Paulo Fonseca, por ter encostado a cabeça ao árbitro Benoit Millot já nos instantes finais da partida do último fim de semana entre Lyon e Brest, para a Ligue 1, continua a suscitar inúmeras reações. A O JOGO, Tony da Silva, antigo lateral-direito luso-francês que foi treinado por Fonseca no Paços de Ferreira em 2012/13, época que terminou com o inédito apuramento para a pré-eliminatória da Liga dos Campeões, defende que a suspensão é desproporcionada.
“É claramente uma sanção muito exagerada. Quem conhece o Paulo Fonseca sabe bem o ser humano e a pessoa que ele é. Ele sabe que errou, e a prova disso é que minutos depois pediu logo desculpa ao árbitro. Não foi um gesto bonito, mas a dignidade de um homem é saber que, quando erra, a primeira coisa a fazer é pedir desculpa, e ele assim o fez”, salienta o agora treinador de 44 anos (sem clube desde que saiu dos romenos do Poli Iasi, em setembro).
Para Tony da Silva, esta é uma decisão que extravasa o futebol. “Toda a gente esperava um castigo no máximo de dois, três meses, porque já aconteceram cenas iguais ou piores. Nove meses? É mais uma decisão extra-futebol, política, do que outra coisa, não tenho dúvidas disso. Aliás, os treinadores franceses também fervem em pouca água, dizem coisas muito impróprias aos árbitros e nunca nenhum levou nove meses. O Paulo por não ser francês… Não estou a desculpar o gesto, concordo que seja castigado, e ele também, mas nove meses é um exagero. Ele não matou ninguém, falou num tom elevado e aproximou-se do árbitro mas não bateu em ninguém. Quem conhece o Paulo sabe muito bem o caráter dele, a pessoa dele, os valores que defende, e portanto acho que é triste ver isto. Enquanto português, o nosso povo emigrou e sempre foi elogiado pela sua humildade, pela forma de trabalhar, ser correto, educado. Somos elogiados pela nossa postura em qualquer país do mundo. Sinto-me triste porque sinto que atacaram Portugal. Eu nasci em França, fiz a minha educação toda em França, os meus pais vivem em França e não concordo, não me revejo nisto. Ele errou, reconheceu-o, teve a humildade de pedir desculpa. Acho um grande exagero, foi um ataque que vai muito além do próprio futebol. A sociedade francesa está em crise de identidade, está em crise de muita coisa e é sempre mais fácil bater aos mesmos”, realçou.
O percurso de vários anos de Paulo Fonseca no estrangeiro, lembra Tony da Silva, fala por si. “O Paulo por onde passou nunca teve uma atitude destas, nunca foi expulso, muito pelo contrário, foi sempre um treinador elogiado pela sua forma de estar, pela sua educação”, frisa o antigo defesa, ajudando a contextualizar a ação do seu antigo treinador: “É preciso perceber o porquê, o contexto de tudo. O Paulo está casado com uma ucraniana, tem filhos com dupla nacionalidade, teve de fugir da Ucrânia por causa da guerra, de carro, passando pela Moldávia, pela Roménia, e estava um bocado descontrolado emocionalmente, porque isto acontece horas depois daquele conflito que existiu entre o Zelensky e o Trump. Isso sobrecarregou-o inconscientemente, e aquela foi a maneira de descarregar. Eu estou do lado do Paulo, tenho orgulho em ser português e tenho a certeza que o que não o matou vai deixá-lo mais forte.”