"Depende de nós escolher o nosso destino", alerta Paulo Fonseca sobre a propagação do coronavírus
Treinador está em Roma, capital do país com mais casos do covid-19. "Acredito que vamos vencer esta luta seguindo o exemplo da quarentena da China. Portugal ainda está no princípio e as pessoas têm de se consciencializar", afirmou em entrevista ao sítio da Liga
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A viver em Itália o drama do coronavírus, Paulo Fonseca, treinador da Roma, enviou através do sítio da Liga uma mensagem de esperança e otimismo aos portugueses, sem deixar de aconselhar precaução. O técnico relata o que vê num dos países mais afetados pela pandemia.
"Têm sido semanas complicadas, estamos todos em casa. Neste momento, os italianos já se aperceberam que só desta forma é que se pode parar o vírus. Os números continuam a aumentar, há cada vez mais infetados e também mais mortes. Na quarta-feira, por exemplo, morreram quase 500 pessoas, que é um número muito considerável. Existe uma preocupação generalizada da parte dos italianos e há aqui uma tentativa de mudar as coisas. Parece-me que os italianos estão sensibilizados com a situação atual e querem cumprir todas as regras para mudar o rumo deste surto que está a matar muita gente. Só podemos sair para ir ao supermercado, e o mais próximo da nossa residência. A polícia está constantemente nas ruas a controlar as saídas das pessoas e é um momento difícil", começa por contar Paulo Fonseca, que revela que o governo italiano pretende "alargar o tempo previsto da quarentena". "Vejo os italianos unidos a tentar superar este momento. Há aqui uma preocupação do governo para que se cumpram estas medidas e as pessoas estão conscientes que devem cumpri-las. Temos um grande exemplo da China, onde a situação melhorou com a quarentena. Eu acredito e estou esperançoso de que tudo vai melhorar e que nós vamos conseguir vencer esta luta. A mensagem que eu quero deixar aos portugueses é uma mensagem simples de quem tem vivido, ao vivo, e em loco, esta situação de extrema dificuldade em Itália, o país com mais casos na Europa e atualmente no mundo. Quero dizer aos portugueses que podem evitar que as coisas cheguem a este ponto. Depende de cada um de nós, basta que cumpram o que lhes é pedido. Ainda estamos no início e ainda temos forma de evitar o que está a acontecer em Itália. Podemos escolher o nosso destino", juntou.
Sobre a forma como lida com a crise fechado em casa, confessou inclinação pelo frigorífico: "Tenho-me mantido por casa com a família. Tenho feito algum exercício físico, tenho comido mais, é verdade, mas também tenho feito mais exercício. Tenho dedicado muito tempo à minha família. Nós, treinadores de futebol, não temos muito tempo para a família e, por isso, eu também estou a usufruir ao máximo o tempo para acompanhar o crescimento do meu filho mais novo, estar com a minha esposa e para fazer coisas que normalmente não fazemos juntos."
Reconhecendo que "é difícil prever" uma data de regresso à competição, virou-se então para o caso português, deixando recomendações com base na experiência italiana: "Tenho acompanhado a situação em Portugal, porque estou preocupado com a minha família, mas são situações diferentes. Portugal está ainda no início deste surto, os números ainda não são tão alarmantes, embora o aumento das últimas horas já seja significativo. Foi assim que começou em Itália. O Governo português tomou as medidas certas para evitar chegar aos números que vemos atualmente em Itália, mas também com o exemplo italiano que está algumas semanas à frente foi possível antecipar algumas etapas. Em Portugal, as pessoas têm de ser consciencializar que só estando em casa é que este problema pode resolver-se. Não sei se o povo português já está consciente do sacrifício que tem de fazer, mas acredito e confio na inteligência dos portugueses e tenho a certeza de que não vão descurar este momento."