Deixou Mourinho para uma inesperada aventura: "Queria saber do que seria capaz"
ENTREVISTA, PARTE I - Ricardo Formosinho, treinador que embarcou numa inesperada aventura no Sudão, depois de trabalhar com Mourinho, partiu para este desafio consciente que teria a carreira em risco se não fosse bem-sucedido.
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Natural de Setúbal, cidade que o viu nascer há 65 anos e onde nos deu esta entrevista, Ricardo Formosinho é mais um dos treinadores portugueses que têm alcançado sucesso além-fronteiras.
Como técnico principal, além de vários clubes nacionais, teve passagens por Angola, Arábia Saudita, Vietname e Malásia. Foi adjunto de José Mourinho em Inglaterra (Manchester United e Tottenham), antes de rumar, em março deste ano, ao Al Hilal Omdurman, do Sudão, onde se sagrou recentemente campeão.
Para um treinador que nos últimos anos fez parte da equipa técnica de José Mourinho, que motivações o levaram a deixar tudo e rumar ao Sudão?
- A minha mudança para o Sudão não aconteceu tão rápido como possa ter parecido. Queria saber do que seria capaz de fazer depois de ter aprendido com aquele que continuo a considerar o melhor treinador do mundo, e felizes daqueles que tiveram a sorte de trabalhar com ele.
Aconselhou-se com o José Mourinho antes de tomar a decisão?
-Conversámos sobre a situação. Mas sobretudo quis testar-me a mim próprio. Inicialmente o meu caminho não era aquele e tão pouco era regressar a Portugal. O meu objetivo era treinar um clube no Médio Oriente. Contudo, a insistência de Turki Al-Sheikh, que é o dono do Almería e que ia liderar o clube sudanês, acabou por me convencer. Inicialmente recusei. Mas a este senhor não se pode dizer duas vezes que não.
O que é que o fez mudar de ideias?
-Aceitaram todas as minhas condições, a principal que a minha equipa técnica fosse formada, exclusivamente, por portugueses. Parti com algum receio, mas confiante e consciente daquilo que seria capaz. Para sair de onde saí, só tinha um caminho: ter sucesso e ganhar. Sabia que se não ganhasse a minha carreira terminaria ali. Felizmente ganhámos.
Como correu a experiência?
-O Al Hilal não era campeão há vários anos. Chegámos no último jogo da primeira volta, perdemos, mas depois fizemos o resto do campeonato só com vitórias. Foram 15 consecutivas e só sofremos um golo. É um registo assinalável em qualquer parte do mundo. Fomos campeões com 11 pontos de avanço, apurámos a equipa para a final da Taça, que ainda não se disputou, e para a fase de grupos da Liga dos Campeões de África.
Quais foram as maiores dificuldades com que se deparou?
-A mentalidade dos jogadores, nomeadamente a aceitação do profissionalismo. Foi um trabalho exigente, mas que surtiu efeito. Também encontrámos algumas dificuldades ao nível das infraestruturas, mas até isso mudámos. Atualizámos o departamento médico, criámos um balneário diferente daquele que existia, para que os jogadores se sentissem mais confortáveis. Hoje, o Al-Hilal tem seguramente das melhores infraestruturas do Sudão.