Os dois guardiões desmaiaram mas continuaram em campo por mais algum tempo, acabando depois por ser substituídos
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Primeiro, foi Anthony Lopes, no jogo de quarta-feira entre o Lyon e o Barcelona para a Liga dos Campeões; depois, David Ospina, este domingo, na receção do Nápoles à Udinese. A unir ambos, além do facto de serem guarda-redes, estão as concussões cerebrais seguidas de desmaios que sofreram após choques com jogadores adversários e que serviram de pretexto para a FIFA ser acusada de "negligência" relativamente ao protocolo para este tipo de situações, que os críticos há muito querem que seja reforçado.
A liderar estes protestos contra a FIFA estão FIFpro, o sindicato mundial de futebolistas, e Taylor Twellman, antigo jogador da Major League Soccer, a principal liga de futebol dos EUA, que foi forçado a abandonar após várias lesões graves na cabeça. Ambos têm solicitado a introdução de substituições temporárias para que estes traumatismos cranianos possam ser avaliados de forma mais fidedigna fora das quatro linhas e por parte de um médico independente (como no futebol americano, por exemplo, onde o problema foi reconhecido após uma longa batalha dos jogadores), em vez do clínico do clube.
Na quarta-feira, o internacional português Anthony Lopes chocou com Coutinho, do Barça, tendo perdido os sentidos e sido assistido durante vários minutos no relvado - mais do que os três que prevê a norma da FIFA! Continuou em campo mais 11 minutos antes de ser substituído. Segundo o treinador do Lyon, Bruno Genesio, o guardião "perdeu os sentidos mas não queria sair", apesar de estar "um pouco atordoado". Posteriormente, no balneário, Lopes terá vomitado e sofrido perda de memória, tendo ficado fora dos convocados para o encontro com o Montpellier, domingo.
Neste mesmo domingo, foi o colombiano Ospina quem, após um choque inicial com Pusetto e depois de ter sido assistido, foi autorizado a prosseguir em jogo, com uma enorme ligadura na cabeça. Antes do intervalo, pareceu ter um ligeiro desmaio mas o que é certo é que passou a noite de domingo para segunda-feira num hospital para observações...
Foi precisamente o caso de Ospina que motivo Twellman a recorrer ao twitter para questionar a FIFA: "Em que momento 'nos vamos preocupar' FIFA? Isto não pode nem deveria acontecer".
Exames feitos no hospital revelaram que o guarda-redes colombiano nada sofrera de grave. Quanto ao incidente de Anthony Lopes, a UEFA sublinhou que o protocolo foi seguido: "O médico nunca esteve sob pressão por parte do árbitro e foi-lhe dado tempo para fazer a sua avaliação clínica. A paragem durou muito mais do que do que os três minutos constantes do protocolo, considerados suficientes para avaliar corretamente uma concussão".
O FIFPro referiu que o caso do internacional português "volta a sublinhar falhas no atual protocolo para concussões no futebol profissional". E, acrescenta, estas falhas "põem a saúde dos jogadores sob sérios riscos". Um dos campos de batalha desta guerra é a possibilidade de um jogador sofrer uma segunda concussão pouco depois da primeira e o tema já nem é novo. A Agência Reuters, após o Mundial'2018, publicou um estudo feito por investigadores especializados na área neurológica que dava conta de um aumento de casos de má avaliação de concussões em relação ao Mundial'2014: mais de 63% dos jogadores que evidenciaram dois ou mais sintomas de concussão não foram avaliados por profissionais de saúde competentes.
A posição da FIFA é conhecida desde há algum tempo, sendo contrária a uma eventual substituição temporária por considerar que jogadores e treinadores poderiam abusar da situação, tentando tirar partido dela. A isto juntou o responsável do comité médico do organismo mundial, Michael d'Hooge: "Queremos respeitar o facto de o médico de uma equipa ter os jogadores sob sua responsabilidade".