Comunidade LGBT no Catar denuncia abusos: "Bateram-me e raparam-me a cabeça"
A menos de um mês do arranque do Mundial de 2022, uma organização não-governamental de defesa dos direitos humanos revelou seis casos de agressões severas e cinco casos de assédio sexual a cidadão cataris pertencentes à comunidade LGBT.
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A organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) denunciou esta segunda-feira seis casos de agressões severas e cinco casos de assédio sexual a cidadãos cataris pertencentes à comunidade LGBT, isto quando falta menos de um mês para o arranque do Mundial de 2022 no país.
As relações entre pessoas do mesmo sexo são consideradas crime no Catar e a HWR alega que agentes de autoridades do país detiveram, de forma aleatória, membros da comunidade LGBT, sujeitando-os a vários tipos de abusos físicos e verbais entre 2019 e 2022.
Seis cidadãos cataris - quatro mulheres transgénero, uma mulher bissexual e um homem homossexual - , denunciaram terem sido detidos numa prisão subterrânea em Doha, onde sofreram vários tipos de abuso - estalos, pontapés e murros repetitivos - com uma mulher a sublinhar que terá perdido inclusive a consciência.
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Todos garantem terem sido obrigados a assinar um acordo de "cessação de atividade imoral" e que lhes foi negado o acesso a apoio jurídico, familiar e tratamento médico. Dizem ainda terem sido detidos sem nenhuma acusação, com uma das mulheres a revelar que chegou a estar dois meses fechada na solitária.
"Eles bateram-me todos os dias e raparam-me o cabelo. Eles também me fizeram tirar a camisola e tiraram uma fotografia ao meu peito. Sofri de depressão por causa da minha detenção. Ainda tenho pesadelos até hoje, tenho pavor em estar em público", relatou uma das denunciantes à HRW.
A HRW acrescenta que as mulheres trangénero que foram detidas no Catar foram instruídas a marcar presença em sessões de terapia conversiva numa instalação governamental, com essa alegada instrução a ter sido apresentada como uma condição para a sua respetiva libertação.
Em resposta, um oficial do governo catari garante que as alegações da HRW "contêm informação que é categoricamente e inequivocamente falsa", salientando que o "Catar não tolera discriminação contra ninguém" e que as políticas do país "estão sujeitas a um compromisso de respeitar direitos humanos".
"Entendemos o papel do Human Rights Watch em colocar pressão nestes tópicos, mas a sua decisão em publicar informação manifestamente falsa, sem contactarem primeiro com o nosso governo, com vista a verificarem as descobertas e entenderem melhor as políticas do Catar, compromete o seu autoproclamado compromisso em reportar a verdade", lamentou, em declarações citadas pela Sky Sports e onde também nega a existência de centros de terapia conversiva no país.
O Catar já garantiu no passado que irá cumprir com as regras da FIFA que apelam à tolerância e inclusão nos jogos do Mundial e que irá acolher a comunidade LGBT e permitir a presença de bandeiras arco-íris, de apoio à causa, nos estádios.
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