Carrinhos de mão, corridas de sacos e mulas – como se divertia o exército britânico na Grécia em 1916?
#desportoemtempodeguerra >> A Frente da Macedónia durou de 1915 quase até ao fim da I Guerra Mundial, em 1918. Em 1916, o exército britânico fez uma pausa para um dia desportivo, com modalidades que hoje soam no mínimo... originais, tanto como a figura de Manolis Glezos, aqui também evocado
Corpo do artigo
A Grécia, essa fonte de inspiração universal, foi também cenário de episódios memoráveis em tempo de guerra(s). A morte de Manolis Glezos, herói da resistência helénica antinazi, no passado dia 30 de março, aos 97 anos, por insuficiência cardíaca, é um pretexto provavelmente melhor do que outro qualquer para regressar ao berço da civilização ocidental - e de violência e guerras! - para recuperar tempos livres de soldados britânicos e modalidades perdidas no tempo.
De Glezos, que depois teve um percurso de ativista, escritor e político, aquilo que a história melhor recorda é o roubo da bandeira nazi da Acrópole, numa noite de maio de 1941, na companhia de Apostolos Santas (falecido em 2011), que lhe valeria posteriores torturas e muitos meses na prisão mas também o estatuto de herói nacional. Curiosamente, numa entrevista, o próprio diria que aquilo que mais o marcara dessa noite foi, ao regressar a casa, ter a mãe à espera e dar-lhe uns valentes puxões de orelhas enquanto lhe perguntava onde se tinha metido...
Isso foi, no entanto, em Atenas e durante a II Grande Guerra, mas deixando para trás a homenagem a este herói quase desconhecido (entre nós), recuemos 25 anos até ao primeiro grande conflito mundial, viajando 500 quilómetros para norte, até à segunda cidade grega, Salónica, onde em maio de 1916 o exército aliado ali estacionado na Frente Macedónia organizou um dia desportivo. Há mais de cem anos, as modalidades desportivas praticadas, eram um pouco diferentes das atuais...
Recorrendo mais uma vez ao magnífico arquivo do site do Imperal War Musem britânico, é impossível não esboçar um sorriso perante aquilo que agora nos parece tão desajustado: corridas de carrinhos de mão feitos de madeira, com um soldado sentado no carro e outro a empurrar, mas... vendado; exibições de ginástica, a cargo de um corpo de indianos (então britânicos); corridas de sacos; corridas a pé (descalços); cabo-de-guerra, o ancestral jogo de puxar uma corda, e que foi modalidade olímpica entre 1900 e 1920, mas aqui praticado por homens no lombo de mulas; e um outro concurso também com mulas, que atribuía um prémio de dois francos a quem conseguisse manter-se em cima do animal durante pelo menos um minuto (supõe-se que sem arreios).
xi9E2iocvGM
A Frente da Macedónia, ou de Salónica (capital daquela província do norte da Grécia), duraria ate setembro de 1918, ou seja, até ao mês anterior ao fim da I Guerra Mundial, acabando por ter sucesso. Os soldados aliados libertaram a Sérvia do ataque dos exércitos alemão, austro-húngaro e búlgaro (como represália pelo assassinato do arquiduque Francisco Fernando pelo estudante sérvio-bósnio Gavrilo Princip, o rastilho do conflito) iniciado três anos antes. A guerra acabou nesse mês de novembro e Manolis Glezos só nasceria quatro anos mais tarde, na ilha de Naxos, que deu à Grécia outros heróis como Teseus, que na mitologia matou o minotauro, o próprio Dionísio, deus do vinho, ou, mais recentemente, Manolas, defesa-central atualmente no Nápoles. Mas estas já são outras guerras...