Carvalhal sem rodeios: do egoísmo dos jogadores ao confronto com um presidente
Treinador português falou sem rodeios à BBC sobre os altos e baixos da profissão.
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Carlos Carvalhal está sem clube desde que saiu do Swansea no final da última época, que terminou com a despromoção dos swans para o Championship, mas ainda é tido como uma figura querida em Inglaterra. Das analogias "coloridas" à "sinceridade portuguesa", o treinador concedeu uma entrevista à BBC onde falou sem rodeios sobre o egoísmo de alguns jogadores, a disputa com presidentes e o "maior inimigo" do treinador.
"As redes sociais são o maior inimigo do treinador"
"Hoje em dia temos mais inimigos. Nas redes sociais, um homem louco ou um miúdo de 8 anos pode causar-nos problemas. Adeptos estão a expressar-se no Twitter ou no Facebook e é por isso que considero as redes sociais um grande inimigo do treinador", começou por dizer. "Hoje em dia os jogadores são mais egoístas, vivem num mundo só deles. O futebol também está a danificar os jogadores nesse sentido. Outro fator danificador é a ideia de que os jogadores podem treinar-se a si próprios. É inacreditável! Não sabem o que estão a fazer", afirmou.
"Tenho o exemplo de um jogador no Swansea que se lesionou no joelho porque estava a treinar em casa com um personal trainer dois dias antes do jogo. Quem é responsável por isso? Os jogadores acham isso charmoso, que parece bem ter um personal trainer, mas isso prejudica o trabalho do treinador", referiu.
"Depois do jogo, que vencemos, em frente aos jogadores dei uma braçadeira ao presidente e disse: 'Agora temos um novo treinador. Se queres treinar a equipa, então eu saio'. E saí"
O treinador português, que já passou por Leixões, V. Setúbal, Belenenses, Braga, Beira-Mar, Sporting, entre outros clubes, recordou algumas batalhas com jogadores e até mesmo com os presidentes dos diversos clubes que já orientou.
"Quando estava no Leixões, na terceira divisão em Portugal, levei-nos à final da Taça, mas na época seguinte o presidente disse-me: 'Vais jogar com estes jogadores, tens de meter este jogador e este jogador'. Eu disse: 'Não, quero jogar com a equipa que eu preparei'. Ele respondeu-me: 'Faz o que quiseres, mas se perderes já sabes o que te vai acontecer'. Depois do jogo, que vencemos, em frente aos jogadores dei uma braçadeira ao presidente e disse: 'Agora temos um novo treinador. Se queres treinar a equipa, então eu saio'. E saí. Se um presidente entra no balneário para escolher a equipa, eu não posso ser o treinador. Essas decisões pertencem ao treinador", recordou.
"Esses momentos são cruciais para ti enquanto treinador. Em todos os clubes por onde passei, tive um teste nas primeiras semanas dos "grandes" jogadores. É nesse momento que defines o teu sucesso nesse clube: ou ganhas o grupo, ou perdes o grupo para sempre. Se ganhares essa batalha, tens os jogadores na tua mão e eles dão-te tudo. Se perderes, estás acabado. Pode ser uma questão de semanas ou meses, mas vais sair", atirou.