Red Bull e City Football Group são exemplos: estes clubes andam a esticar-se
Começa a ser notória a proliferação, no futebol de topo, do modelo iniciado pela Red Bull e pelo City Football Group, que consta em aglutinar à sua volta uma série de emblemas espalhados por esse mundo fora.
Corpo do artigo
"Se a Red Bull pode, o Benfica também pode". Foi desta forma que o empresário John Textor resumiu nas redes sociais a vontade de aplicar no Benfica uma tendência em forte expansão no futebol mundial: a agregação de vários clubes no mesmo grupo empresarial.
O norte-americano pretendia começar por juntar o Benfica ao Crystal Palace e, a partir daí, eventualmente, construir um império multinacional, na senda do que já fizeram o City Football Group e o grupo Red Bull.
Dois projetos diferentes na sua essência, mas que em comum têm o facto de movimentarem camiões de dinheiro e de estarem espalhados por vários continentes. O que tem dado origem a uma série de cópias ainda em fase embrionária (ou quase), quando comparados com eles.
O City Football Group é propriedade do xeque Mansour bin Zayed, representante da família real dos Emirados Árabes Unidos, que em 2008 começou por comprar o Manchester City a um investidor tailandês. Peça-chave foi o catalão Ferran Soriano (chegou ao grupo em 2012 depois de ter sido diretor do Barcelona) que há muito tinha em mente a ideia de criar um projeto à imagem do que a Disney já tinha feito na área do entretenimento, com parques temáticos em cidades espalhadas pelo mundo ou filmes feitos em vários idiomas.
Globalizar uma marca, é disso que se trata. Objetivo: expandir, liderar e, preferencialmente, esmagar a concorrência. E foi em 2013 que, a partir da casa-mãe de Manchester, o grupo começou num crescimento imparável, a ponto de hoje ser proprietário ou acionista de uma dezena de emblemas em todos os continentes (ver quadro em anexo).
O grupo Red Bull atingiu fins semelhantes, com meios diferentes. O City Group nasce a partir de um clube que tem por trás um Estado e os respetivos líderes (família real, no caso), os austríacos surgem com propósitos essencialmente comerciais. Atrás desta marca está uma conhecida bebida energética que é hoje uma das mais ingeridas (e lucrativas) do planeta e que, através do prestígio desportivo, procura consolidar a imagem junto de um público jovem que se identifique com o projeto. Não é de estranhar, por isso, que os desportos radicais, sejam uma forte aposta, para lhe associar uma imagem dinâmica e arrojada (energia), num dos planos estratégicos mais geniais dos últimos tempos a nível empresarial. No futebol, depois de terem feito do Red Bull Salzburgo a equipa dominadora na Áustria (venceram os últimos oito campeonatos), levaram o RB Leipzig das divisões amadoras alemãs até ao topo da Bundesliga em poucos anos e só lhes falta ser campeões.
O Atlético de Madrid é outro emblema que está a tentar a globalização da marca, dominando clubes do México (Atlético San Luís) e Canadá (At. Ottawa), depois de já ter feito o mesmo na Índia (At. Kolkata) e em França (Lens). Outro grupo já com alguma dimensão é o Pacific Media Group do norte-americano de origem chinesa Chien Lee, que é dono de Esbjerg (Dinamarca), Barnsley (Inglaterra), Thun (Suíça), Oostende (Bélgica) e Nancy (França). No total, há neste momento 117 clubes divididos por um total de 45 indivíduos ou empresas proprietárias de 37 países diferentes.
Eliminam-se os intermediários
Um dos cérebros do City Football Group, Don Dransfield, resumiu numa frase a relevância que a multipropriedade pode ter para um clube como o Manchester City. "Podemos ter mais olheiros em mais lugares diferentes, a assistir a mais jogos, de mais jogadores e a coletar melhores dados e informações que nos permitam tomar melhores decisões de investimento", afirmou o Diretor do Desenvolvimento de Operações de um grupo que já fez várias trocas internas.
A prospeção e o lucro nas transferências são das motivações mais importantes no modelo. Cada vez que um clube agrega outro, os benefícios correspondem a mais do que a soma das partes. "1+1=3", foi a expressão encontrada por Dransfield, até porque o clube principal contorna assim os incómodos e as despesas associadas a intermediários externos.
No grupo Red Bull, por exemplo, o RB Salzburgo adquiriu Naby Keita ao Istres por 1,5 M€, vendendo-o depois por 29,75 M€ ao RB Leipzig, que a seguir o transacionou para o Liverpool por 60 M€. já Upamecano, este defeso transferido dos vice-campeões alemães para o Bayern por 42,5 M€, fora adquirido ao Salzburgo por 18,5 M€ em 2017. Há acesso mais rápido aos melhores talentos, oferecendo-lhes internamente os diversos patamares de que necessitam até estarem preparados para o topo da pirâmide. Ao mesmo tempo, passa a haver um leque muito mais vasto de jogadores na sua órbita e o recrutamento torna-se mais barato e rigoroso. Os grandes clubes poupam trabalho, tempo e, consequentemente, dinheiro. Os pequenos, lucram em infraestruturas e em jogadores de qualidade a que de outra forma dificilmente teriam acesso. Numa lógica empresarial, não poderia haver estratégia melhor.
Mas reticências também há e de vária ordem. Aliás, os regulamentos da UEFA não permitem que dois clubes com o mesmo proprietário participem na mesma competição. Já houve exceções, mas avizinham-se mais batalhas legais.