Instabilidade política no Brasil, número exacerbado de vítimas da pandemia e realização do Euro'2020 em simultâneo têm feito a maioria dos adeptos do país ignorar a defesa do título
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A participação do Brasil na Copa América, na qual defende o título, não tem cativado superlativamente a população brasileira. A baixa audiência da prova no país deve-se, reporta o El País, à instabilidade política do mesmo, face à eventual corrupção na compra de vacinas, e à gestão sanitária da pandemia. inclusive no certame (já causou 198 casos de infeção por covid-19).
Para José Paulo Florenzano, antropólogo de desporto e professor universitário em São Paulo, o desinteresse generalizado dos brasileiros deve-se à utilização do futebol por parte do presidente Bolsonaro como forma de "adormecer" o povo, numa altura em que, ademais, a pandemia já "ceifou" mais de 522 mil almas canarinhas e mais de 18 milhões foram infetados.
"Bolsonaro quis usar a Copa América como uma cortina de fumaça. Ele reedita a estratégia do governo militar de considerar o futebol o ópio do povo. É um delírio achar que o desporto tem esse poder mágico de anestesiar a sociedade da forma que o Governo pensa. O futebol é uma trincheira política importante para o regime, mas a alienação não acontece de forma tão banal. A Copa América não é capaz de distrair a população de problemas tão relevantes", afirma o especialista, acerca da estratégia de Bolsonaro, cuja popularidade nunca esteve tão em baixo no Brasil.
Outro indicador do desinteresse brasileiro pela participação do 'escrete' na Copa América, que atingiu esta sexta-feira as meias-finais da prova e mantém-se na luta por defender o troféu conquistado, é a maior atenção prestada ao Campeonato da Europa, que teve 47 das 50 maiores audiências, em junho, no Brasil.
Ademais, o governo federal brasileiro não procedeu propriamente a uma divulgação intensa da realização da Copa América, que está a ter lugar em determinados estádios brasileiros, circunstância essa proporcionada pela recusa da Argentina em acolher a competição dada a pandemia.
Após ter defendido a mudança de sede da competição sul-americana de seleções, na qual o Brasil vai em breve medir forças com o também semifinalista Peru, Jair Bolsonaro recorreu apenas uma vez à rede social Twitter para "promover" a competição, durante um jogo com a Venezuela de José Peseiro.
Desde então, não houve outra referência do presidente brasileiro, nem sequer esteve nos estádios que acolheram os jogos do Brasil (Brasília, Rio de Janeiro e Goiânia). Os adeptos, impedidos de acederem às bancadas dos estádios devido à pandemia, parecem também arredados do apoio ao escrete, pois ainda não se concentrarem, pelo menos, nas imediações dos recintos.