Bétis no caminho do V. Guimarães: "Um clube muito peculiar e uma cidade dividida"
Oli foi um dos reforços do Bétis na fase de maior investimento, que aspiravam títulos no final dos 90's. Foi goleador do Oviedo e reforçou elenco que contava com Jarni, Finidi, Alfonso ou Cuellar. Uma viagem ao Bétis que muito queria, de cofres cheios, com paragem na atualidade, até nos duelos com o Vitória.
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Furioso homem-golo que se destacou no Oviedo, encantando o Carlos Tartiere, sobretudo, com 20 golos em 96/97, só por detrás de Ronaldo Fenómeno, Alfonso, Rivaldo e Suker, e em igualdade com Raúl, Oli notabilizou-se nas Astúrias mas acabou também premiado por uma transferência para um grande Bétis. Chega à Andaluzia na época seguinte, somando-se no ataque a Alfonso Pérez que era estrela magnetizante dos verdiblancos. Finidi, Jarni ou Cuellar eram outras unidades demolidoras.
"O Bétis era uma equipa cheia de internacionais, que jogava para postos altos nesses anos. Tinha jogado uma final da Taça do Rei contra o Barcelona, tinha Jarni, Nadj, Cuellar, Alfonso, Finidi, Vidakovic. Andava na UEFA sempre. Eu chego e nessa Taça das Taças medimos forças contra o Chelsea, de Vialli, Zola, Di Matteo, Desaily e WIse. Acabou por ser o vencedor. Não esqueço o ambiente de Stamford Bridge", relata. "Fazíamos grandes jogos contra o Barcelona, o Real Madrid, a equipa discutia cara a cara e o presidente Lopera foi gastando muito dinheiro. Por isso trouxe Denilson para mostrar aos mais poderosos que também ele tinha poderio económico. O Bétis tinha uma grande força, que ia buscar adeptos por toda a Espanha", recorda.
O antigo avançado situa os seus méritos e a transcendência da oportunidade recebida naquela altura, quando recebeu sinal verde para chegar ao Bétis, que havia feito dois 3º lugares em 94/95 e 96/87."Vinha de épocas muito fortes no Oviedo, desde a minha estreia com Antic, fazendo muitos golos ao lado de Paulo Bento, Abel Xavier, Onopko, Iván Iglesias, o saudoso Dubovski. Aragonés quis-me muito e levou-me para o Bétis e eu senti um salto importante", recua. "Passei a jogar numa equipa com muito apoio, 45 a 60 mil espetadores, um clube muito peculiar, cheio da sua graça, com adeptos muito fervorosos, dentro de uma cidade dividida por Bétis e Sevilha. Havia outra pressão a pesar, havia objetivos europeus e uma competição feroz na cidade", evidencia Oli.
Rebobina o prazer de atuar pelo Bétis, que durou três temporadas. "Ainda me lembro de um grande triunfo sobre o Real Madrid, que foi campeão europeu em Amsterdão, por 3-2. Tinham Roberto Carlos, Mijatovic, Suker, Raúl. Marquei aos 10 segundos da segunda parte. Podíamos ganhar a qualquer um, também o fizemos ao Barcelona de Guardiola e Rivaldo. Era olhos nos olhos, o nosso onze podia ter dez internacionais. O Jarni era um espetáculo nos centros", pontua o gabarito das estrelas que faziam fervilhar o Benito Villamarín. "Era um grande Bétis, sem dúvida! Jogava sempre para cima, economicamente pujante a fazer grandes compra. Fiquei com pena de não ter chegado alto na Copa do Rey, porque era uma prova muito querida e valorizada ali. A conquista já vem com a geração de Joaquín", recorda.
Oli puxa ainda a fita dos caprichos e humores de Manuel Ruiz De Lopera. "Era um presidente especial numa época que havia outros com Gil y Gil. Eram contestatários dos grandes, queriam bater-lhes os pé, mostrar que chegavam a grandes jogadores. Veio Denilson como contratação mais cara do futebol espanhol, Alfonso também já tinha sido um grande esforço ao chegar do Real Madrid. Mas nem tudo correu bem, para Denilson vingar era preciso rodeá-lo de outros atletas. Não era ele que por si só ganhava títulos. Chegou muito novo, não se consolidou por completo, fazia bons jogos de forma intermitente, era por impulsos. Não confirmou expetativas e teve problemas sérios com Clemente. Com o passar do tempo perdeu confiança e regressou ao Brasil. Foi um fenómeno mais mediático que desportivo, não teve reflexos nos resultados", defende.
Inevitável, então, espremer a figura do presidente, da popularidade ao desprezo. "Lopera era peculiar, presidencialista. Se a coisa ia bem envolvia-se com os jogadores, dava prémios, dava os melhores jogadores ao treinador. Quando corria mal era difícil. E não acabaram bem as coisas, os adeptos ficaram negativos com ele. Mas agradeço-lhe a oportunidade que me deu de jogar num grande, porque o Bétis faz parte dos grandes, penso que pode ser o quarto clube em Espanha em simpatizantes", invoca.
Isco, Antony e Jesús
Sem passado que se tenha cruzado com Portugal, Oli está expectante no que pode dar esta eliminatória da Liga Conferência entre V. Guimarães e Bétis. "Imagino uma eliminatória equilibrada. No universo do Bétis só não se queria o Chelsea, um rival muito forte. Isto sabendo que o Vitória de Guimarães fez uma grande fase de grupos mas que perdeu jogadores importantes. Assim acredito que as coisas estão bastante igualadas. O Bétis, por seu turno, tem de melhorar muito a imagem deixada na Conference, não fez bons jogos, custou-lhe adaptar-se à competição", vinca.
A reboque do 6º lugar e de expetativas maiores que crescem entre os béticos, Oli percorre sinais e uma evolução em curso, penetrando nas mais-valias dos andaluzes, que ajudaram até a derrubar o Real Madrid na última jornada.
"Não chegou ao seu futebol na fase de grupos e os adeptos ficaram chateados e ainda há essa dívida. Todos esperam melhorias nesta eliminatória e a primeira mão, em Sevilha, pode marcar as coisas. O Isco virou a natural referência, recuperou o seu nível, após ter sido baixa por quatro meses. Está a jogar de forma diferenciada e contando com o Antony, que chegou muito bem do Manchester United. Chegou e adaptou-se logo, está a fazer grandes jogos e já marcou três golos", salienta Oli. "Atenção, contem também com o Jesús Rodríguez, um rapaz elétrico e muito desequilibrante. Muita ilusão dos adeptos reside nele, porque é um rapaz que finta com facilidade, mete alegria no jogo, é fortíssimo no um para um. Isco, Antony e Jesús são os craques numa espécie de 4-2-3-1 de Pellegrini. O problema está nas baixas do meio-campo, como William Carvalho, Roca e Lo Celso, há dificuldades de escolha no duplo-pivot. E para ponta-de-lança só há Bakambu, pois Roque está suspenso."