Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato dos Jogadores não entende a polémica criada em torno do internacional português.
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O presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF), Joaquim Evangelista, considera que há "desproporção", "exagero" e "falta de bom senso" no alegado caso de conduta imprópria imputada ao futebolista do Manchester City Bernardo Silva.
"Quando nós condenamos o Bernardo Silva por um ato desta natureza, qual é a medida da pena para todas as outras sanções que têm a ver com o fenómeno em concreto?", questionou Joaquim Evangelista, em declarações à agência Lusa.
O internacional português foi acusado pela federação inglesa de futebol (FA) de "conduta imprópria e ofensiva" para com o seu colega de equipa francês Benjamin Mendy, por causa de uma publicação nas redes sociais.
Em causa está um tweet partilhado por Bernardo Silva com a imagem em criança de Mendy, colega de equipa e amigo desde os tempos em que ambos jogavam no Mónaco, acompanhado da ilustração do boneco característico da marca de chocolates Conguitos, com a pergunta "adivinhem quem é?". "Começa a haver uma desproporcionalidade entre os factos, os comentários, as sanções e aquilo que se diz na opinião pública. De repente há uma higienização comportamental. Temos que ter bom senso e perceber o contexto em que as coisas acontecem", considerou Joaquim Evangelista.
O presidente do SJPF, que recordou os casos de Bruno Fernandes, com uma conversa privada partilhada, e do primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, fotografado mascarado de negro, diz que "há uma desproporção" e que se instalou na sociedade "uma teoria dos costumes, que vai além do razoável".
"É ridículo. Não há bom senso. Há movimentos que, de facto, ultrapassam a razoabilidade e seja ao nível de outras más práticas, como racismo, homofobia ou xenofobia, quando vamos para além do razoável exigir, deixa de fazer sentido colocarmo-nos nessa posição de defesa", explicou Joaquim Evangelista.
A FA alega que o tweet de Bernardo Silva, entretanto desvalorizado por Mendy, constitui uma violação agravada dos seus códigos de conduta por "incluir referência, expressa ou implícita, à raça e/ou cor e/ou origem étnica". "Tem de haver razoabilidade para saber do que estamos a falar e valorizar apropriadamente aquilo que tem que ser valorizado. No caso do futebol, estamos a falar de jogadores que são referências para os mais jovens e são referências no desporto", disse.
Evangelista manifestou-se ainda incomodado, não só como presidente do SJPF, a quem compete defender os seus associados, mas "como cidadão ativo e consciente de uma cidadania global". "Há um exagero e nós temos de condenar aquilo que efetivamente tem de ser condenado. Estes jogadores, quando têm este perfil [como Bernardo Silva e Bruno Fernandes], sabem quando cometem erros e são os primeiros a assumir e a pedir desculpa, que é um comportamento que ninguém destaca", assegurou.
O tweet de Bernardo Silva gerou polémica, com a Associação de Combate ao Racismo "Kick Out" a pedir para que a FA tomasse medidas, e o internacional português apagou-o quase de imediato, lamentando que não seja possível "brincar com um amigo".
Na carta, enviada na quinta-feira à FA, Bernardo Silva juntou um depoimento de Mendy, em que o companheiro de equipa diz não ter ficado ofendido.
A FA, que deu até 09 de outubro para Bernardo Silva responder, já tinha também escrito ao Manchester City, solicitando informações ao clube.
O treinador dos citizens, o espanhol Pep Guardiola, defendeu o internacional português, referindo que se tratou de "uma simples piada" entre Bernardo e Mendy, que são grandes amigos, acrescentando ser completamente errado pensar que o tweet tinha conotação racista.
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