Miguel Oliveira formou-se no Sporting, foi sénior no Elétrico e decidiu aventurar-se por Grécia, Kuwait e Brunei, onde avista várias metas
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Portugueses pelo mundo com visão de descoberta não faltam, e no Brunei também há a pegada lusa de Miguel Oliveira, avançado do DPMM - Duli Pengiran Muda Mahkota, que numa conversão em português não andará longe de clube de “Sua Alteza, Príncipe Herdeiro”. Na verdade, está correto, pois o clube da capital, Benda Seri Bagawan, tem como seu proprietário Al-Muhtadee Billah, competidor internacional de snooker, dono de uma coleção de carros de luxo e antigo guarda-redes de futebol, e, também, herdeiro ao trono deste estado localizado no sudeste asiático, integrado a norte na Ilha de Bornéu.
Natural de Ponte de Sor, o extremo português, de 29 anos, com formação feita no Sporting e afirmação sénior no seu clube local, o Elétrico, decidiu investir numa carreira mais exótica, que o levou a divisões inferiores de Grécia, Kuwait e, agora, a apalpar o cenário internacional menos convencional do Brunei. Mais atrativo o facto de jogar a Liga de Singapura pelo DPMM. “Jogar nesta liga não é uma oportunidade comum para os portugueses, mas jogar numa I Liga asiática sempre foi um objetivo pessoal. Fiz o meu trabalho de casa, informei-me sobre o país e percebi que outro jogador de Portugal tinha passado pelo clube, o Paulo Sérgio. Ele deixou uma boa impressão”, conta, já saboreando o segundo ano desta experiência invulgar e inspiradora. “Percebi que era o clube do príncipe herdeiro e isso deu-me mais confiança para avançar. Esta liga representa um enorme desafio e uma oportunidade de crescimento na minha carreira”, valida Miguel Oliveira, relatando as particularidades do seu mundo desportivo.
“Jogo no campeonato de Singapura, embora o nosso clube seja do Brunei. A liga está a crescer, com maior número de jogadores de qualidade a chegar da Europa. O que mais me surpreendeu foi a organização, as condições de trabalho e a forma como fui recebido, tanto pelos fãs como pelo clube. Tive de adaptar-me ao clima tropical, à humidade e ao fuso horário, mas aos poucos consegui...”, expressa, consciente de que o destino de hoje foi uma rota alternativa para a realização futebolística. “Desde cedo percebi que se quisesse alcançar outro patamar, teria de explorar opções fora de Portugal. Foi uma escolha pessoal, um objetivo de carreira, mas, claro, estar rodeado das pessoas certas também faz a diferença”, partilha Miguel Oliveira, distante de muitos daqueles que trilharam trajeto a seu lado.
“Os meus amigos estão felizes por mim, sabem que foi um passo importante na minha carreira. Tenho colegas da formação do Sporting espalhados pelo mundo, em diferentes ligas e países. Cada um correu atrás dos seus sonhos. Começa a ser comum vermos mais gente a explorar mercados fora da Europa”, aclara, confrontado com o que imaginava há dez anos. “Com 19/20 anos sonhava com muitas coisas e jogar ao mais alto nível era uma delas, ambicionava jogar na Europa, mas tinha dúvidas se o futebol seria o meu futuro. Ao olhar para trás, percebo que cada decisão, boa ou má, trouxe-me até aqui e jogar na I Liga de Singapura, aos 29 anos, é uma grande realização pessoal”, confessa, sem qualquer vontade de deixar fugir esta vivência mais afastada dos holofotes. “Neste momento, sinto que encontrei o meu espaço na Ásia. É um mercado interessante e pretendo continuar a jogar aqui mais tempo. A experiência tem sido enriquecedora, tanto dentro como fora do campo. Quero continuar a crescer onde me sinto motivado, realizado e verdadeiramente em casa. Estou entusiasmado com os desafios que estão por chegar”, ratifica, não esquecendo as bases de tudo, anos de Alcochete, onde lidou com Geraldes e Podence. “O Sporting moldou a minha vida, tanto a nível pessoal como a formação futebolística. Foi na Academia que aprendi o respeito pelo próximo, a importância de partilhar e a convivência com várias culturas. Desde cumprir horários, a ter responsabilidade e a viver em comunidade, além da importância da alimentação e do descanso. Tive o privilégio de jogar com Geraldes e Podence e fico superfeliz pelo que conseguiram alcançar."
Lagartos a passear, macacos a brincar e crocodilos ao sol
Deslumbrante, selvagem e tropical, o Brunei encanta Miguel Oliveira. “É um país muçulmano, a religião tem uma presença forte e faz parte do dia-a-dia , mas já tinha vivido no Kuwait e estava preparado. O que mais me surpreendeu, pela positiva, foi o respeito e a educação das pessoas”, assegura, arrancando um retrato de deixar qualquer um de queixo caído. “Aqui é como viver no meio da selva. Enquanto andamos pela rua, vemos lagartos gigantes a passear, macacos a brincar nas varandas e até crocodilos a apanhar sol. A comida é uma experiência à parte. Enquanto eu peço ao Chef do hotel para usar o mínimo de azeite possível nos meus ovos, olho para o lado e vejo os meus colegas locais a devorar batatas fritas com ketchup e arroz frito pela manhã”.
“Vibrante e acolhedor”
Com bons registos individuais, Miguel Oliveira soma oito golos e três assistências em 17 jogos, sendo um dos jogadores a empurrar o DPMM para posições cimeiras em Singapura, até porque há um grande objetivo em mente. “As competições asiáticas de clubes estão definitivamente nos meus planos. Jogar a esse nível é um dos meus grandes objetivos e mal posso esperar para viver essa experiência”, conta o extremo, capaz de jogar à direita e à esquerda.
Sobre a logística de uma equipa do Brunei a competir em Singapura, o atacante explica a ginástica operacional. “Atualmente, somos a única equipa do Brunei a jogar na liga de Singapura. Vivo no Brunei e os treinos são feitos diariamente aqui. Na véspera dos jogos fazemos o voo para Singapura, onde temos um treino de adaptação ao campo. No dia seguinte ao jogo, após a recuperação, dá-se o regresso ao Brunei”, explica Miguel Oliveira, informando que a equipa sub-20 do DPMM é que compete no Brunei.
Numa medição da atmosfera e da paixão que exala do jogo, o português exprime o seu contentamento. “O futebol tem uma importância significativa para as pessoas. Apesar de ser um país pequeno, a paixão é evidente, os adeptos demonstram um grande carinho pela equipa. Os estádios têm um ambiente vibrante e acolhedor, sinto-me amado e valorizado quando estou em campo”, relata, aplicando iguais encómios ao que vê em Singapura. “Embora os nossos adeptos nem sempre nos possam acompanhar a Singapura, fazem questão de estar presentes em casa. Em Singapura, o futebol está a crescer vertiginosamente e o aumento da qualidade dos jogadores tem levado mais pessoas aos estádios. Vejo o futebol como o desporto mais popular”, afiança Miguel Oliveira, realçando o estilo amigável de quem o rodeia. “A minha ligação aos jogadores locais é muito boa. São sempre prestáveis e acolheram-me otimamente, pelo que a integração foi muito rápida. Fazem as rezas antes dos jogos, o que é normal, por serem muçulmanos”, desvenda.
Conquistado pelo prazer de viver dois mundos numa só experiência, o extremo louva o que descobriu, o conforto que abraçou e os encantos que florescem a cada dia, entre o simples vaguear e viagens mais densas, com paisagens e que o deixaram deslumbrado. “O Brunei é um país muito tranquilo e seguro, o que dá estabilidade para me focar só no futebol. Além disso, tenho o melhor de dois mundos: a calma e a tranquilidade do Brunei e a agitação de Singapura, onde competimos. Singapura é uma cidade vibrante, moderna, multicultural e extremamente organizada, o que também facilitou muito a adaptação”, avança Miguel Oliveira. “Entre a população de um lado e outro não vejo tantas diferenças, é mais o ritmo, Singapura está cheia de vida, é uma mistura de estilos de vida e culturas diferentes. Parece uma cidade do futuro!”, acrescenta Miguel Oliveira, gabando um país onde também reside Rui Pires, antigo médio do FC Porto e Paços de Ferreira.
“Em Singapura, o meu escape favorito é explorar a cidade. Adoro passear, tem centros comerciais incríveis, restauração, há sempre algo novo para ver e fazer”, vinca, degustando também cada hora no seu Brunei. “Não há nada melhor do que relaxar na praia e apreciar o pôr do sol, estar na piscina. Também gosto muito de ficar em casa, descansar, ver uma série e aproveitar esses momentos de tranquilidade. É perfeito para recarregar as energias”.