"Alemanha tem dois 'violinos', mas falta um 'tambor', como Portugal tem em Danilo e William"
Carlos Lela, diretor desportivo do Arminia Bielefeld, traçou o perfil da seleção da Alemanha e apontou para uma possível debilidade a ser explorada por Portugal. Danilo e William são "tambores" elogiados
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Portugal soma já 21 anos sem triunfar sobre a Alemanha - a última vitória data do Euro"2000, no jogo do icónico "hat-trick" de Sérgio Conceição - e os encontros com os germânicos em grandes competições não têm terminado de forma feliz para as Quinas. Porém, no sábado, em Munique a história pode ser diferente. É essa a crença de Carlos Leal, português que vive na Alemanha há 47 anos e é profundo conhecedor do futebol local.
Ou não fosse diretor desportivo do Arminia Bielefeld, clube da exigente Bundesliga. "Depois do jogo com a Hungria, vai ser um alívio para Portugal", refere o dirigente a O JOGO. Quer porque a "Mannschaft" jogará pressionada pela derrota contra França (0-1), na primeira jornada do grupo F do Europeu, quer porque os jogadores mais criativos do esquadrão luso poderão dispor de mais espaço para brilhar e dar asas à imaginação.
"É um cenário positivo, Portugal poderá jogar em contra-ataque, com muito espaço vazio no meio-campo adversário. Os jogadores portugueses vão gostar deste estilo de jogo, depois de muito trabalho árduo em Budapeste", defende Carlos Leal, que esteve bem atento ao duelo entre os campeões da Europa em título e a Hungria, e que vê em Portugal uma equipa "de inteligência superior".
"Fernando Santos tem o plano A, o B e o C. Até se dá ao luxo de ter um jogador como André Silva no banco, como trunfo, uma mais-valia elementar", vinca, perspetivando possível nervosismo do lado dos comandados de Joachim Low: "A pressão está toda do lado alemão. Claro que isso também proporciona perigos para Portugal, mas haverá espaço para manobrar".
O diretor do Arminia acedeu ao pedido de O JOGO e dissecou a seleção alemã, campeã do Mundo em 2014, mas que dá "sinais claros de mudança"... para pior. Ainda assim, não se pense que Carlos Leal vê Portugal como claro favorito para o jogo de sábado. Contra a Alemanha, todo o cuidado é pouco e há um fator que pode pesar: o psicológico.
"Aí, tenho de entrar no mundo da estatística, na psicologia. Num grande torneio, a Alemanha tem tendência para não falhar, para "explodir". Mas falhou em 2018, no Mundial", ressalva, apontando as fragilidades germânicas.
"Nos últimos anos, a "Mannschaft" perdeu algum pragmatismo e apostou no jogo bonito. Mas falta um avançado referência e, contra França, jogaram Kroos e Gundogan no meio-campo. São fantásticos, dois "violinos", mas falta um "tambor", para controlar o jogo. E Portugal jogou com dois "tambores", Danilo e William. Se estiveram bem contra a Hungria, é possível que desafinem a orquestra", diz.
Ao duplo-pivô luso caberá, portanto, a missão de "desafinar" a orquestra alemã: "Devia haver pelo menos um William ou um Danilo na Alemanha", conclui Carlos Leal, que antecipa um Euro"2020 de sucesso e, quem sabe, com o bicampeonato no horizonte: "Nem será pelo jogo de Munique. Portugal é Portugal e é um dos favoritos ao Euro."
André Silva e Raphael Guerreiro são exemplos a seguir
Num campeonato onde o contingente português não é elevado - em 2020/21, apenas quatro lusos atuaram na Bundesliga -André Silva e Raphael Guerreiro são as referências. O lateral-esquerdo cumpriu a quinta época como indiscutível no poderoso Dortmund o avançado alcançou mesmo o segundo posto da tabela de melhores marcadores da prova, com 28 golos, apenas atrás do "estratosférico" Lewandowski. Carlos Leal vê os dois internacionais das Quinas como "exemplos a seguir".
"A Liga alemã devia ter mais portugueses. A experiência neste futebol, de uma intensidade brutal, faz com que os atletas cresçam e seria benéfica para qualquer jogador luso. E a Alemanha não é o fim, depois há Inglaterra, Espanha... Além de ser bom para a evolução do jogador como um todo, pode ser um passo inteligente, um patamar prévio a outras grandes paragens, explica o dirigente do Arminia Bielefeld.