O ex-avançado brasileiro abordou as suas mágoas e falou da sua infância
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Adriano 'Imperador', antigo avançado brasileiro que se destacou em Itália ao serviço do Inter, deu uma entrevista intimista ao 'The Players Tribune', na qual falou da vida na favela, da morte do pai, do álcool e das drogas.
O ex-jogador, de 39 anos, nasceu e foi criado numa favela do Rio de Janeiro e não esquece esses tempos.
"Quando penso como foi crescer na favela, lembro-me na verdade de como nos divertimos. Joguei à bola, lancei papagaio de papel, joguei ao pião... Foi uma infância real, não tinha telemóvel ou os touch screen que as crianças têm agora. Estava rodeado pela minha família, pelo meu povo. Cresci na comunidade. Tinha liberdade. Não sofri. Estava a viver e a aprender com a vida", recordou.
No entanto, a morte do pai teve um impacto muito negativo na carreira do jogador.
"Realmente eu não queria falar sobre isto, mas vou dizer que, depois daquele dia, o meu amor pelo futebol nunca mais foi o mesmo. Ele amava o futebol, então eu amava o futebol. Tão simples quanto isto. Era o meu destino. Quando joguei futebol, joguei pela minha família. Quando marquei, marquei para a minha família. Mas quando meu pai morreu, o futebol nunca mais foi o mesmo", lembrou ainda.
Adriano não consegue esquecer o dia da morte do pai e o quanto a distância o deixou desamparado.
"Eu estava do outro lado do oceano, em Itália, longe da minha família, e não conseguia lidar com tudo aquilo. Fiquei tão deprimido... Comecei a beber muito. Realmente não queria treinar. Não teve nada a ver com o Inter. Eu só queria ir para casa. Para ser honesto, embora eu tenha marcado muitos golos na Série A ao longo desses anos, e embora os adeptos realmente me amem, minha alegria foi-se. Foi meu pai, sabe? Eu não podia simplesmente pressionar um botão e sentir-me eu mesmo outra vez", confidenciou ainda com mágoa.
A partir dessa altura, Adriano nunca mais foi o mesmo.
"A imprensa às vezes, não entende que somos seres humanos. Era muita pressão ser 'O Imperador'. Eu vim do nada. Eu era um miúdo que só queria jogar futebol e divertir-se com os amigos. Sei que isto não é algo que se ouça muito hoje em dia, porque tudo é muito sério e há muito dinheiro envolvido. Mas estou a ser honesto. Nunca deixei de ser aquele miúdo da favela", referiu.
"A imprensa dizia que eu tinha 'desaparecido'. Eles diziam que eu tinha voltado para a favela, que estava a drogar-me e mais um monte de merdas. Publicavam fotos minhas dizendo que eu estava cercado por criminosos e que a minha história era uma tragédia. Quando ouço uma coisas destas só tenho vontade de rir porque eles não têm a mínima ideia do que acontece na minha vida. Eles não sabem como isso pode magoar uma pessoa. Voltei para o meu povo, para os meus amigos, para a minha comunidade. Eu não queria morar num castelo, isolado de tudo e de todos. Voltei para as pessoas que me conheciam quando eu era o Adriano que comia pipocas", concluiu.