Fabian Nurnberger, jovem defesa de 20 anos do Nuremberga, fez o clube da segunda divisão ligar os alarmes e precipitar quarentena, já cumprida por estes dias. Eis as palavras de Iuri sobre os efeitos da pandemia num exclusivo a O JOGO, onde aborda ainda a organização do modelo germânico e admite ter o coração "preso" a Portugal
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Como está a viver esta paragem na Alemanha?
- Já acabou a quarentena, felizmente. Ainda assim, o clube deu-nos uma bicicleta e uma bola para fazermos exercícios em casa durante o tempo em que estivemos fechados. Agora já podemos correr e fazemo-lo num campo perto das instalações do clube - sozinhos.
O Wolfsburgo foi a primeira equipa a regressar ao trabalho e seguiu-se o Borussia Dortmund...
-Sim, mas como é público, a nossa situação é um pouco diferente, porque tivemos um jogador que testou positivo à covid-19 no Nuremberga, o Fabian Nurnberger. É mais complicado... Passávamos todos os dias com ele e ainda não há uma data para treinarmos todos juntos - mesmo o Wolfsburgo e o Dortmund vão começar com treinos mais reduzidos, com grupos de três, quatro jogadores. É essa a regra imposta e é para cumprir.
"Qual foi a nossa reação ao teste? Ficámos com medo, como é natural, e no dia seguinte fizemos testes. Ninguém acusou positivo. Depois, ficámos em quarentena"
Qual foi a reação do plantel e staff ao teste do Fabian?
-Ficámos com medo, como é natural, e no dia seguinte fizemos todos testes - felizmente ninguém acusou. Depois, uma quarentena de 14 dias em casa, sem podemos sair de cassa. Agora, para além de correr, pouco mais fazemos do que ir às compras ou à farmácia.
Fala com ele?
- Temos um grupo no Whastapp, tentamos sempre estar em contacto com ele, mas a verdade é que ele nunca apresentou sintomas - o que é estranho. Diz que vai recuperar bem e vai voltar rápido!"
A sua mulher e os seus (três) filhos estão consigo ou em Portugal?
-Não foi uma situação fácil... Fui dois dias Portugal, deixar a minha mulher, Patrícia, e ver os meus filhos. Quando voltei para a Alemanha, deparei-me com o facto de estarem a fechar aeroportos e iniciarem o período de quarentena. Queria muito que eles viessem ver-me, mas não foi possível.
E já sabe quando podem voltar a estar juntos?
-Estou sozinho na Alemanha, sinto a falta deles e só espero que isto tudo passe o mais rápido possível - não sei quando os vou voltar a ver, até porque não se sabe quando vão abrir os aeroportos aqui na Alemanha. Mas assim que for possível, vou voar para Portugal. No futuro, penso em trazer a família para cá, para uma escola internacional.
Voz aos protagonistas: acha que as ligas devem ser cancelados ou terminarem mais tarde ainda em 2020?
-Acho que a época devia acabar, porque é um risco enorme para toda a gente, jogadores, equipas técnicas e adeptos. Não se pode brincar com esta pandemia. Já viram o número de mortos, de infetados? Não podemos levar esta situação como se de algo normal se tratasse - porque não é.
Que consequências acha que o futebol vai sofrer no período pós-pandemia?
-Acho que vai trazer consequências para os jogadores, mas principalmente para os clubes, que vivem à base dos seus patrocinadores e têm muita coisa para pagar...
...como os ordenados.
- Sim. Tenho visto algumas notícias sobre a redução dos ordenados. Até na Alemanha já se começam a sentir efeitos da pandemia. No Dortmund, por exemplo, há jogadores a tirar do seu salário para ajudar funcionários do clube. No nosso caso - o Nuremberga - ainda não tivemos qualquer notícia sobre cortes salariais. Vamos ver.
Sente-se mais seguro na Alemanha do que se sentiria, por exemplo, se jogasse em Portugal?
-Sim, sinto-me muito seguro, é um país muito desenvolvido e estou a gostar muito de viver aqui. A vida é muito boa, o clube tem grandes condições, de primeira divisão, apesar de estar na segunda. Estou a adaptar-me muito bem, tenho pessoas dentro do clube que me ajudam muito e algumas, inclusive, que falam português, como um dos adjuntos. Isso é muito positivo.
Mas tem o coração em Portugal, pela família...
-Penso muito na minha família, que não sai de casa - pedi-lhes isso: enquanto isso não estiver melhor, não quero que saiam. Aqui, saio para correr, mas vejo as pessoas a passear como se estivesse tudo normal. Vejo carros... Em Portugal não vemos nada assim, há uma grande diferença.
"Estou sozinho e sinto a falta da minha família. Assim que puder vou a Portugal, mas no futuro quero-os cá"
Sozinho em casa, cozinha... pelo telefone, com a ajuda da mulher
Não sendo um portento na cozinha e estando longe da "especialista", a mulher Patrícia, Iuri revela-nos como faz para se nutrir em tempos de crise... É uma coisa bonita de se ver [risos], porque quando vou cozinhar ligo para a minha mulher em vídeochamada e ela dá-me os passos todos", assume, detalhando, depois como tem passado os seus dias de isolamento: "De resto, acordo cedinho e vou fazer uma corrida, o plano que o clube dá, volto para casa, faço abdominais e jogo uma Playstation, um dos meus maiores vícios, e só acabo para dormir."
Iuri está na Alemanha, mas já fez carreira em Itália, até há bem pouco tempo o país que registava o maior número de casos positivos após testes à covid-19. "É curioso, porque no outro dia entrei num direto com o Mattia Perin, que esteve associado ao Benfica, e com o Viviano que esteve no Sporting. Contaram-me que estava muito complicado, que se vivia uma situação dramática em Itália".
"Estavam, porém, em casa. Têm de seguir as regras, porque ainda vai demorar a passar", revelou o extremo, que terminou a conversa com O JOGO a deixar uma mensagem para Portugal: "Quero dizer a todos os portugueses para terem calma e que tentem manter as regras de saúde, que lavem bem as mãos e não saiam de casa, que é o mais importante. Se nos tivermos a proteger, estamos a proteger toda a gente!"