MULHER DA SEMANA - Foram precisos 87 campeonatos para os franceses confiarem um jogo do escalão principal masculino a uma mulher. A aposta foi precipitada pelo Mundial feminino que se avizinha.
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Num dos vários cartoons que, esta semana, assinalaram a inédita nomeação de uma mulher para um jogo do escalão principal francês, um adepto pergunta a Stéphanie Frappart se está nervosa por arbitrar ao mais alto nível. Ela responde que não: afinal, o Mundial só começa em maio e este será apenas um Amiens-Strasbourg, uma partida entre uma equipa à beira da zona de descida e outra da primeira metade da tabela.
Mais uma ironia: o Strasbourg, diz a imprensa francesa, já conhece bem a mulher que, este domingo, fará história no futebol francês. Já se cruzou com ela por seis vezes (e só perdeu uma) nos escalões secundários onde esta parisiense, 35 anos, também foi pioneira a apitar na segunda divisão. Já lá vão cinco anos de um caminho discreto - como convém, quando falamos de árbitros, embora com a discrição no percurso acentuada pelo facto de ser mulher.
Pegue-se num exemplo mais próximo para ilustrar a ideia: não será fácil a qualquer adepto indicar para que jogo foi nomeado o internacional Artur Soares Dias (só para os mais distraídos, dirigiu o Rio Ave-FC Porto que abriu a jornada); e alguém saberá de cor onde estará, este fim de semana, Sandra Bastos? É internacional portuguesa e, tal como Stéphanie Frappart, estará no Mundial de França que arranca a 7 de Junho.
Será a primeira portuguesa a atuar a este nível - mas, no imediato, está nomeada para o Associação Naval 1893-Lusitano de Vildemoinhos do segundo escalão de juniores. Ambas são internacionais e a francesa, que é semi-profissional, tem no currículo a última final do Mundial de Sub-20, no ano passado; no ano anterior, apitou no Europeu e, em 2016, esteve nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
Ao anunciar a nomeação para o Amiens-Strasbourg, a própria Federação Francesa de Futebol tratou de contextualizá-la no "quadro da preparação para o Mundial Feminino", não fosse alguém estranhar tamanha ousadia, 87 campeonatos depois. À boleia da promoção do torneio a disputar em casa, Stéphanie Frappart junta-se à alemã Bibiana Steinhaus na lista breve das mulheres que arbitraram jogos dos cinco principais campeonatos europeus.
De Stéphanie Frappart sabe-se que disse, há tempos, ao L'Équipe que não queria chegar a este patamar por ser mulher, mas pela competência. O facto é que foi nomeada por ser mulher. Uma mulher com um currículo na arbitragem mais rico do que o de muitos dos homens que lhe passaram à frente, esses sim, só pelo facto de serem homens.