Determinado a salvar o "seu" Wisla, Kuba vai juntar-se a um restrito grupo de futebolistas que aceitaram jogar sem receber salários por paixão clubística, solidariedade ou, simplesmente, agradecimento.
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Nos últimos dias, Jakub Blaszczykowski, ou Kuba, como é conhecido no mundo futebolístico, deu que falar por uma enorme demonstração de amor ao Wisla, o clube que o lançou para a ribalta. Deixando para trás um contrato milionário com o Wolfsburgo, o recordista de internacionalizações pela seleção da Polónia desvinculou-se dos "lobos" para agarrar a missão de salvar o seu Wisla, que atravessa uma grave crise financeira. Num gesto que espantou o mundo, Kuba aceitou jogar sem receber salário e aumentou a parada ao pagar do seu bolso uma parte das dívidas do clube da cidade de Cracóvia. Equipado a preceito com a estrela branca, símbolo do Wisla, ao peito, o extremo parece ter voltado aos tempos de início de carreira, surgindo, frequentemente, de sorriso aberto e a comandar o pelotão durante os treinos, em fotografias partilhadas nas redes sociais.
A atitude de Kuba entra para a lista dos mais altruístas dos últimos anos, mas não é um caso único. Antes do polaco já Alessandro Lucarelli, Guillermo Barros Schelotto, David Beckham ou Amarildo abdicaram de salários por diversos contextos.
Alessandro Lucarelli - Protagonista de uma carreira errante no futebol italiano, com oito clubes representados em 14 temporadas, o central descobriu, aos 31 anos, o grande amor da sua vida: o Parma. Ao serviço dos gialloblu, Lucarelli desceu ao inferno da quarta divisão após o clube ter declarado a bancarrota e, ao invés de abandonar o barco, decidiu abdicar dos salários enquanto ajudava o clube a regressar à elite. Fora dos relvados, o capitão fazia questão de pagar contas da água, de lavandaria e de salários em atraso do staff. Lucarelli acabou por tornar-se a grande figura de três subidas de divisão consecutivas e anunciou a sua retirada dos relvados quando o Parma celebrava o regresso à Serie A.
Guillermo Barros Schelotto - Mais conhecido pelas suas passagens pelo Boca Juniors, enquanto jogador e treinador, o taciturno e duro Guillermo Barros Schelotto tinha, afinal, um coração mole. Assumidamente "tripero", nome que se dá aos adeptos do Gimnasia y Esgrima, o médio-ofensivo fez questão de terminar a sua carreira a envergar a camisola azul e branca do clube de La Plata e, apesar da insistência do presidente, renunciou a qualquer salário para não agravar a precária situação financeira que o Gimnasia atravessava. Em declarações aos jornalistas na sua apresentação, Schelotto disse que "não podia tirar nada, a quem lhe tinha dado tudo".
David Beckham - No ocaso da sua carreira, em janeiro de 2013, o internacional inglês trocou os Los Angeles Galaxy pelo PSG com a missão de arrecadar mais alguns troféus para o seu longo currículo: ficou-se pelo campeonato francês, após uma saída da Champions nos "quartos" frente ao Barcelona por golos marcados fora. Logo durante a sua apresentação, Beckham confirmou que os salários que iria receber durante os seis meses do seu contrato iriam ser doados integralmente para uma instituição solidária para crianças da cidade de Paris.
Amarildo - O substituto de Pelé que se tornou a estrela da conquista do Mundial'1962 pelo Brasil jogou pelo Vasco da Gama sem receber qualquer cêntimo. Após uma carreira com passagens por Flamengo, Botafogo, Milan, Fiorentina e Roma, Amarildo passava por dificuldades para arranjar clube após uma série de lesões e ponderava terminar a carreira. No entanto, o emblema cruzmaltino acreditou nas suas capacidades, ofereceu-se para o receber e, num gesto de agradecimento, o avançado jogou de "borla" em São Januário.