ENTREVISTA >> Para o pós-pandemia, aqui ficam a análise e as receitas do reputado agente de jogadores italiano, Federico Pastorello, que explica como funcionará o mercado e inclui dicas para os clubes se protegerem e até refinanciarem
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Federico Pastorello, 46 anos, fundou a P&P Sport Management em 1996 em Montecarlo e fez dezenas de transferências entre Itália e Inglaterra. Hoje, agencia jogadores como Lukaku, Candreva e Keita Baldé e em janeiro abriu uma nova sede da empresa em Portugal. Em entrevista exclusiva ao O JOGO, o empresário aborda o impacto do coronavírus no mercado de transferências.
"Os grandes campeões já afirmados vão ter sempre mercado, esses não vão perder valor, mas provavelmente este ano não vão ser transferidos. Quem os tem não vai querer baixar o preço e quem os quer, não vai poder comprar"
Que mudanças concretas é que o coronavírus vai provocar no mercado de jogadores?
- Vai haver um equilíbrio maior nos preços dos jogadores, que tinham chegado a um valor exagerado. É simples, só existem 10/12 jogadores no mundo que podem custar 80/100 milhões de euros, por aquilo que representam para o clube e as receitas que podem gerar. No entanto e, com todo o respeito, hoje vemos jogadores serem vendidos por 60 milhões de euros, depois de terem realizado uma boa primeira época profissional.
No caso do futebol português, jogadores que podiam ter esse valor de mercado ou até mais elevado, como o Rúben Dias ou Fábio Silva, por exemplo, quanto é que vão valer agora?
- O setor vai ser mais redimensionado e esta faixa de jogadores vai perder 25-30% do seu valor. Os grandes campeões já afirmados vão ter sempre mercado, esses não vão perder valor, mas provavelmente este ano não vão ser transferidos. Quem os tem não vai querer baixar o preço e quem os quer, não vai poder comprar. A crise também pode ser uma desculpa para os clubes não investirem. Vão dizer que, neste momento, não é moral gastar este dinheiro em jogadores.
E o que podem fazer os clubes para protegerem os seus ativos?
- Podem aguardar duas sessões de mercado, mas, se precisarem mesmo fazer mais-valias para equilibrarem as contas, vão ter de fazer trocas de jogadores com clubes que tenham as mesmas necessidades.
De que forma?
- Os clubes estabelecem um valor, por exemplo, 30 milhões para um jogador que tinham pago 10 milhões e fazem a troca com outro jogador de valor igual ou idêntico. Não ganham liquidez, mas fazem mais-valia que é importante para as contas internas. Para funcionar, existem alguns parâmetros a respeitar: não se podem trocar jogadores com grande diferença de idade nem de salário. Os grandes jogadores dificilmente vão ser trocados.
Em relação aos cortes salariais, é provável que os clubes tentem uma nova redução na próxima época?
- Alguns clubes querem resolver o problema da crise através da redução salarial dos jogadores e dos treinadores. É verdade que todos devem fazer um gesto importante neste momento de crise, mas não podemos pedir ao jogador um corte de 25% no seu vencimento quando a perda de receitas para o clube é de 8 a 9%.
Qual vai ser o impacto do coronavírus na próxima época?
- Nesta época, teve um impacto muito significativo porque os clubes tiveram de devolver uma grande parte das receitas de bilheteiras aos adeptos, mas na próxima época será diferente. Os clubes podem perder a fatia da bilheteira, mas vão ganhar mais com os direitos televisivos, porque vai haver mais gente a assinar estas plataformas para assistir jogos em casa e evitar lugares de aglomeração. Os clubes vão poder renegociar esta fatia que atualmente é a maior fonte de receitas no futebol.