Zack, capitão do Montalegre: "Conseguia treinar e jogar, mesmo quando estava no McDonald’s"
Zack, o capitão, cumpre a décima época no clube, após ter chegado aos juniores do Chaves proveniente da academia Étoile Lusitana. Sonhava jogar no Benfica
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São 29 anos e um pedaço imenso da vida passado em Trás-os-Montes, estando a cumprir a décima época no Montalegre como capitão e homem com bagagem para fazer o corredor esquerdo, respondendo como lateral ou extremo. Zack é um senegalês que vive como transmontano, estimadíssimo no concelho pelos créditos futebolísticos e pela personalidade amiga.
“Cheguei cá recomendado pelo Norton de Matos, que tinha a academia onde me formei no Senegal. Sonhava com o Benfica!”
Carrega 237 jogos e 55 golos pelo clube bandeira das terras do Barroso. Antes de se fixar em Montalegre, passou pelos juniores do Chaves, onde chegou oriundo do Étoile Lusitana, do Senegal, equipa fundada por Luís Norton de Matos, e também pelo Vidago. “Montalegre é mesmo a minha casa, não foi difícil o clube conquistar-me, encontrei um emblema humilde e ótimas pessoas, a começar no presidente e incluindo toda a vila. Sinto-me transmontano e aprecio esta tranquilidade”, evidencia Zack, que jogou na Distrital da AF Vila Real, Campeonato de Portugal e Liga 3.
“Queria fazer uma carreira constante nas ligas profissionais, mas, infelizmente, só consegui jogar na Liga 3. Triste não fiquei, porque dei tudo para chegar mais acima e, por isso, estou da consciência tranquila”, observa o jogador, lamentando não ter recebido uma proposta irrecusável. “Recebi sempre ofertas de clubes da mesma divisão do Montalegre e mudar por mudar, não! Tive sempre as melhores condições aqui e por aí se explica a minha longevidade. São muitos anos, e felizes, que fizeram mim uma pessoa responsável e tolerante”, destaca, recuando à chegada a Portugal.
É um dos jogadores com mais partidas feitas na história do Montalegre nas provas nacionais, com 237 jogos e 55 golos pelos transmontanos. Já defrontou Benfica e agora apanha o FC Porto.
“Era um menino com sonhos. Tinha, sobretudo, a ideia de jogar na 1.ª divisão e conseguir chegar ao Benfica. Cheguei cá recomendado pelo Norton de Matos, que tinha a academia no Senegal onde me formei. E como ele passara pelo Benfica, era um desejo forte. E havia o Di María como referência”, nota Zack, que tem levado o futebol com gosto e resiliência. “Também já tive de conciliar com outro emprego e não era fácil. Mas tive sorte com os horários e conseguia treinar e jogar, mesmo quando estava no McDonald’s. Agora só jogo”, garante.
Praticamente a completar um ano de saudade, Zack já foi obrigado a superar um choque difícil de lidar. Perdeu a mulher perto do último Natal e ficou sozinho com um filho de quatro anos. “É verdade que o falecimento da mãe do meu filho mexeu muito comigo, também influenciou a minha carreira, mas devo dizer que não fiquei sozinho, tive uma grande ajuda da irmã da minha companheira, pois esteve presente e continua presente. O presidente do Montalegre foi outro pilar, ajudou-me em tudo o que precisei, tal como várias pessoas de Montalegre e de Chaves também me procuraram e apoiaram. Foi uma grande demonstração de carinho que me ajudou a superar este ciclo tão difícil da minha vida. E tenho o meu menino”.