"Yaremchuk está passivo, sem alma. Talvez a guerra tenha mexido muito com a cabeça dele"
Jorge Teixeira, há seis épocas no St. Truiden, jogou este ano três vezes contra o Brugge e vê limitações graves na equipa. O central português aponta o Benfica como claramente favorito a passar a eliminatória e aconselha a explorarem o espaço concedido pelo sector mais recuado, onde o lateral esquerdo é o "elo mais fraco".
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Jorge Teixeira cumpre a sexta época seguida na Bélgica. É no St. Truiden que o central português formado no Sporting deixa marca. Aos 36 anos, ainda não sabe se termina a carreira no fim da presente temporada ou se avança para mais uma. As contas fazem-se no fim, mas para já sente-se com energia e vontade de não arrumar as botas, até porque Bernd Hollerbach, treinador do Brugge, tem como principal referência Felix Magath, técnico alemão conhecido pela exigência física e Teixeira diz-se em forma.
Conhecedor profundo do futebol belga, o central português, que já defrontou três vezes esta temporada o Brugge (venceu, empatou e perdeu) aceitou o desafio lançado por O JOGO e fez o raio-X ao atual Brugge, adversário do Benfica nos oitavos de final da Champions. A eliminatória começa já na quarta-feira e o cenário é favorável à equipa portuguesa, que fez uma prova imaculada na fase de grupos da competição.
"Dou oitenta por cento de favoritismo ao Benfica e vinte por cento ao Brugge", começou por referiu o central do St. Truiden, recordando que "desde outubro que não ganham em casa" e que "os adeptos estão saturados do comportamento da equipa".
"Não diria que há um divórcio entre a equipa e os adeptos porque eles continuam a ir ao estádio, mas claramente já tiveram momentos mais harmoniosos. Os adeptos estão desiludidos com o rendimento da equipa e também com o facto de não conseguirem apresentar um futebol atraente. Admito que o estádio esteja lotado, mas se as coisas correrem para o torto, os adeptos não vão perdoar a equipa", sublinhou, destacando os principais desequilibradores do conjunto belga. "O Benfica terá de ter cuidado com o Noa Lang [atacante], um jogador que gosta de ter a bola no pé, tecnicamente muito evoluído, mas com problemas em termos táticos. Aliás, é até um pouco indisciplinado em várias vertentes. Depois, têm o Hans Vanaken [médio], que é o motor que faz funcionar toda a equipa. Também é forte no jogo aéreo e surge bem de trás para a frente, surpreende muito os defesas adversários", explicou.
Para Jorge Teixeira, "a defesa é o sector mais frágil" - 38 golos sofridos em 34 jogos. Aliás, "a organização defensiva deixa muito a desejar, dão muito espaço", completa o especialista. A diferença entre os dois conjuntos e o momento do emblema português vai obrigar os belgas a reformularem a estratégia.
"O Brugge gosta de estar no comando dos jogos, mas estou convicto de que irão deixar o Benfica assumir o jogo, será o Benfica a comandar e eles irão ficar na expectativa", atira Teixeira, garantindo que este será "um jogo à medida de João Mário, Rafa ou Gonçalo Guedes". "Eles gostam de defender homem a homem e como os jogadores do Benfica mudam muito de posicionamento no ataque essa estratégia pode complicar-lhes a vida, embora também admito que os jogadores do Brugge vão estar mais concentrados e empolgados nesta partida".
Entre as principais debilidades que vê na equipa belga, Teixeira destaca ainda a fragilidade de Bjorn Meijer, lateral esquerdo, natural dos Países Baixos. "É claramente o elo mais fraco. Forte fisicamente, mas com muitos problemas no um contra um", garante o jogador luso.
Passaram-se 16 jogos desde que Jorge Teixeira defrontou o Brugge e nada melhorou. "Acho que ganharam apenas três jogos. O Brugge tem um jogo muito previsível, os adversários sabem sempre o que eles vão fazer, vivem da inspiração dos jogadores que falei e as críticas têm sido muitas por isso mesmo. A mudança de treinador também trouxe-lhes outro sistema tático [4x3x3] que eles ainda não assimilaram. Se o Benfica jogar como tem feito, a pressionar, com intensidade e com sucessivas trocas de posições dos seus jogadores, irá criar muitos problemas ao Brugge. Acho que o segredo passa por aí".
Yaremchuk sem reação
O Brugge contratou Yaremchuk, depois de uma temporada sem fulgor no Benfica. O problema é que as elevadas expectativas depositadas no avançado ucraniano foram por "água abaixo".
"Desde que voltou não tem convencido. Conheço o Yaremchuk de outras épocas e não tem nada a ver com este. Está passivo, sem alma, até a sua postura em campo é diferente. Talvez seja um reflexo da guerra na Ucrânia, talvez tenha mexido muito com a cabeça dele e não consiga ter o rendimento esperado", referiu, garantindo que os desempenhos do avançado demonstram claramente que não teria qualquer possibilidade de lutar por um lugar no atual plantel das águias.
"Está um jogador amorfo, caído, frágil. Não teria lugar no atual plantel do Benfica, que exige muito mais de um jogador. Também por essa razão não tem sido titular indiscutível, o treinador tem trocado muito os avançados", comentou.
A época de Yaremchuk tem sido muito pobre, tendo o avançado alinhado em 18 jogos (oito a titular) e apontado apenas dois golos e feito duas assistências. O Benfica vendeu o internacional ucraniano por 16 milhões.