Do Atlético para o Famalicão: "Vou dizer ao Pepe que sou filho do Paulo Assunção..."
O filho de Paulo Assunção cresceu, fez-se jogador e é um dos indiscutíveis do líder do campeonato. Projeto "muito bom" do Famalicão convenceu o médio-defensivo a deixar o Atlético de Madrid.
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No balneário do primeiro classificado não há espaço para euforias. Gustavo Assunção é a voz de um discurso prudente, ele que a O JOGO contou que o pai lhe inveja a técnica.
O Gustavo terminou uma longa ligação ao Atlético de Madrid para vir para o Famalicão. Foi uma mudança grande?
-Foi uma mudança bastante positiva. O projeto do Famalicão é muito bom, convenceu-me, senti que era uma oportunidade para crescer enquanto jogador e ao mesmo tempo ajudar este clube.
Foi convocado para um jogo frente ao Celta de Vigo, mas acabou por não se estrear pelo Atlético. Ficou com esse amargo de boca?
-De maneira nenhuma. Fui muito feliz no Atlético, o Simeone confiou em mim e eu estava bastante contente, mas apareceu este grande projeto e não consegui dizer não ao Famalicão.
O seu pai teve influência nesta vinda para Portugal?
-Sim. O meu pai passou pelo Nacional e pelo FC Porto e disse-me que em Portugal se fazem grandes jogadores.
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Alguma vez imaginou que o Famalicão ia ser líder isolado do campeonato, quando assinou pelo clube?
-O nosso objetivo é consolidar o Famalicão na I Liga. A nossa mentalidade passa por pensar jogo a jogo. Imaginar? Porque não?... Vamos tentar continuar assim.
Até quando é que acha que o Famalicão se vai aguentar na liderança?
-É como eu disse, só pensamos no próximo jogo.
Se continuassem assim, seriam campeões...
-Sim [risos]. Mas temos é que pensar treino a treino, dia após dia e não numa perspetiva a longo-prazo.
Como é que o grupo tem lidado com esta liderança?
-O grupo está muito contente, motivado, mas também com a tranquilidade suficiente para continuar a pensar jornada a jornada. Surpresa? Alguma...
Julga que, a partir de agora, os adversários vão olhar de forma diferente para o Famalicão?
-Tivemos um grande início de época, com dez pontos em quatro jogos e isso talvez crie algum respeito nos outros. É normal...
Está ansioso por ir jogar ao Dragão, a casa onde brilhou o seu pai?
-Seria muito bom. Lembro-me de ver o meu pai jogar no Dragão e será bonito.
Sempre quis ser médio-defensivo, tal como ele o foi?
-Eu joguei a extremo-direito, a lateral-direito, a avançado, a central... Acabei por ficar a médio-defensivo porque posso atacar, defender e até às vezes fintar. Achei uma posição tão completa que disse para mim mesmo: eu quero jogar ali.
Vê-se um jogador mais tecnicista que o seu pai?
-O meu pai ganhou quase tudo no futebol, eu estou a começar e é impossível comparar-me com um craque. Ele diz-me que somos parecidos defensivamente, porque ele era raçudo e eu também gosto de defender bem, mas ele diz-me que com bola eu sou um pouco melhor. Eu não sei...
Jogou pelos sub-17 do Brasil, mas o Gustavo tem passaporte português. Como é que está a sua cabeça nesta matéria?
-Sinto-me português, mas parte da minha família é brasileira. Seria uma honra representar qualquer um.
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Quais são os sonhos do Gustavo?
-Gostaria de ganhar um campeonato do mundo.
E ganhar algo pelo Famalicão?
-Seria um sonho...
"Na pré-época sentia-me algo perdido"
Gustavo Assunção é o pivô defensivo do 4x3x3 de João Pedro Sousa, mas o brasileiro não estava habituado a jogar sozinho naquela zona do terreno. "Jogava sempre com duplo pivô. No início foi um pouco difícil pois na pré-época estava meio perdido. O treinador explicava-me o que tinha que fazer, então se estou a jogar bem é graças a ele", afirmou, isto depois de o técnico ter dito, após a vitória na última jornada frente ao Aves, que o médio "nem parece ter a idade que tem". "Estou muito feliz pelo professor ter dito isso", comentou.
"Vou dizer ao Pepe que sou filho do Paulo Assunção..."
O FC Porto foi o clube que catapultou o pai de Gustavo para o patamar dos títulos. Paulo Assunção esteve três épocas nos dragões e esses anos permitiram ao filho conhecer vários craques.
Como é que começou a jogar futebol, foi no Atlético?
-Não, eu comecei a jogar futebol no Cantinho Escolar, que era uma escola aqui em Portugal. Quando tinha cinco ou seis anos também joguei no FC Porto, mas era mais para passar o tempo, não era competição a sério. Era na altura que ia ao Dragão ver o meu pai jogar e lembro-me de ouvir a claque cantar "Lisandro López...".
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Chegou a conhecer alguns jogadores do FC Porto?
-Sim, o Bruno Alves, o Pepe, o Lucho, o Bosingwa...
Agora, vai poder jogar contra o Pepe...
-Eu não sei se ele se vai lembrar de mim, mas se calhar se eu lhe disser que sou filho do Paulo Assunção, talvez ele se lembre.
Tem coragem para, se for preciso, fazer um desarme mais duro ao Pepe?
-Obviamente. Se ele estiver prestes a fazer golo, eu corto a jogada...
No final dos jogos tem que ouvir muitas correções do Paulo Assunção?
-Ele deixa passar algum tempo e depois corrige alguma situação, mas também diz-me o que eu fiz bem.
É um sonho poder um dia voltar ao Atlético Madrid?
-Estou focado no Famalicão, embora tenha ficado adepto do Atlético.
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"Aprendi muito com Simeone"
El Cholo" não dá mesmo descanso nos treinos, mas Gustavo diz que é isso que o distingue
Foi com apenas 16 anos que Gustavo Assunção teve a oportunidade de ir treinar com a equipa A do Atlético e o brasileiro até pensou que era uma brincadeira. "Estava a dirigir-me para o treino juntamente com os jogadores da minha idade, vieram ter comigo e disseram "Assunção, vai para a equipa A que falta um jogador". Eu nem acreditava, achava que estavam a brincar comigo. Eles praxaram-me com cachaços e foi espetacular" contou. O médio-defensivo fez vários treinos sob a orientação de Diego Simeone, que não deixa ninguém dormir nos treinos. "Ele vive o futebol a 100 por cento, é muito tático e quer que todos deem o máximo no treino porque acha que se não dermos o máximo no treino, também não conseguiremos ter sucesso na vida. Isso diferencia-o de outras pessoas. Aprendi muito", recorda. Estar ao lado de craques como Diego Costa não era propriamente uma novidade. "O Diego Costa, o Filipe Luís e outros eram amigos do meu pai e então eu brincava na casa deles. Por isso, não foi um impacto grande, mas foi um sonho realizado."