O JOGO sentiu o pulso à euforia em Famalicão: bem-vindos a Vila Nova de Leicester
Recém-promovido à I Liga está isolado no topo da classificação e igualou a façanha do Lusitano de Évora que datava de 1952/53. O JOGO foi sentir o pulso de uma cidade que está, por estes dias, entusiasmada com este arranque de campeonato. A euforia existente nos adeptos até dá azo a comparações com o Leicester...
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A I Liga já leva quatro jornadas e o tema que domina as conversas, até agora, chama-se Futebol Clube de Famalicão, o recém-promovido que está isolado na liderança. O único emblema vindo da II Liga, no caso, da antiga II Divisão, a conseguir tamanha façanha com quatro jogos disputados tinha sido o Lusitano de Évora, na longínqua época de 1952/53.
Voltando ao presente, em Famalicão há, por estes dias, um assunto que entretém as conversas de café, de restaurante ou até da feira que se realiza todas as quartas, e onde esteve O JOGO. Neste mercado ao ar livre encontra-se de tudo, inclusive adeptos do clube que teve a melhor média de assistências da II Liga na época anterior (3478 espectadores) e que também arrasta multidões fora: prova disso foram os cerca de 1500 apoiantes presentes, na semana passada, na Vila das Aves.
Quando Maria da Glória percebe que é para falar do seu "Fama", do seu "Vila Nova", dois nomes associados ao Famalicão, a também do V. Guimarães prontifica-se logo para encher de elogios o clube e a cidade. "Adoro esta cidade. O Famalicão pode ir muito longe", afirma, convicta.
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A desenvoltura de Maria da Glória a falar para a câmara de O JOGO [pode ver a reportagem em vídeo, no site] acaba por atrair o olhar de outros curiosos, nomeadamente de António e Cristiano, membros da claque Fama Boys, foi criada há quase 29 anos. "Este primeiro lugar é uma loucura, não há explicação", relata António, ainda a debelar uma rouquidão que persiste desde a vitória (3-2) nas Aves. Cristiano é o rosto do entusiasmo que paira na cabeça de muitos. "Vamos ganhar ao Paços de Ferreira e a seguir quero levar 3000 adeptos a Alvalade. Se não formos de autocarro, vamos de comboio... um comboio azul e branco", pede, aludindo a iniciativas semelhantes que o Famalicão fez quando jogou frente aos leões para a Taça de Portugal, em 2014/15 e 2017/18. E o adepto Cristiano não quer apenas invadir Lisboa, pretende também sair incólume do primeiro jogo desta temporada frente a um grande. "Vamos lá ganhar e também venceremos no Dragão. O Leicester fez o mesmo em Inglaterra... Temos de sonhar alto e pensar na Liga dos Campeões", atira.
Na história de amor que liga António e Cristiano ao Famalicão há loucuras inerentes. "Ainda agora, no jogo em Guimarães, tinha de estar no aeroporto para ir buscar a minha irmã às 23h00 e só cheguei lá à uma da manhã... ela não se importou, só disse para eu ir com calma", conta António. "Na temporada anterior estive a trabalhar e fui de direta para o jogo em Coimbra", recorda Cristiano.
Do outro lado da cidade situa-se o restaurante Forever, estabelecimento que alimenta grande parte do plantel. Os proprietários são a família Silva, com o pai Abílio e os filhos Ricardo, Marco e Hugo, este a trabalhar em Braga. Nos Silva há uma doença em comum chamada Famalicão, claro, e Marco é o mais ferrenho. "O Marco vai a todo o lado e muitas vezes abdica do trabalho", refere Ricardo a meio da correria do almoço. O restaurante está quase cheio e nele encontrámos o lateral-esquerdo Tymon ou os médios Gustavo Assunção e Guga. Não é de agora que o espaço patrocina as refeições da equipa e à custa disso Marco Silva tem quase 70 camisolas em casa oferecidas por atletas. Ricardo garante que não há tiques de vedeta nos líderes da I Liga. "Eles não têm mesas marcadas, preferem misturar-se com as outras pessoas, os clientes não os abordam e eles comem tudo... menos a nossa joia da coroa, que é a francesinha. Isso só podem comer no final da época." Daqui a duas semanas, há a tal visita ao Sporting e fica uma promessa feita por Marco. "Se ganharem ofereço um almoço. Título? Isso é muito difícil, ir à Europa já seria inédito. Mas sermos campeões era o fim do mundo...", remata.
E por essa Europa, como é?
A liderança isolada de um clube promovido é um registo que, no âmbito Europeu, se cinge à I Liga portuguesa. Nos dez principais campeonatos do Velho Continente (Espanha, Inglaterra, Alemanha, Itália, França, Rússia, Portugal, Bélgica, Ucrânia e Turquia), o melhor que se encontra é um segundo lugar do Denizlispor, na Turquia, com sete pontos acumulados em três jornadas, e outra vice-liderança do Mechelen (11 pontos em seis encontros) na Bélgica. Na Grécia (15.º no ranking UEFA), o Volos está no topo, mas tem a companhia de Xanthi, Olympiacos e PAOK, todos com seis pontos em duas rondas. Exemplos que reforçam o feito minhoto.
A liderança só traz benefícios
Líder do executivo camarário desfaz-se em elogios ao projeto da SAD e confessa nem estar muito surpreendido com o primeiro lugar do clube mais representativo do concelho
Paulo Cunha é um presidente de Câmara tão ou mais orgulhoso do que os concidadãos de Famalicão. O autarca está agradado com o projeto da SAD dirigida por Miguel Ribeiro e que tem como investidor o magnata Idan Ofer, acionista do Atlético Madrid, falando nos benefícios "diretos e indiretos" que a liderança traz para o concelho.
"O percurso do Famalicão neste arranque de campeonato sendo uma surpresa para muitos não o é totalmente para quem, como eu, viu crescer o projeto da atual Direção e SAD. É um projeto bem definido, bem orientado, bem fundado", explica. "Para o município, a liderança no campeonato é uma notícia que traz notoriedade à marca Famalicão, acrescenta prestígio nacional e internacional e isso é extremamente importante para o nosso território, porque lhe traz importantes benefícios diretos e indiretos ao seu desenvolvimento", acrescenta. O executivo tem primado pelas boas relações com clube e SAD e as tais vantagens com este primeiro lugar são fáceis de enumerar, na opinião de Paulo Cunha. "Esta liderança traz, diretamente, um acrescento à dinâmica diária do município, mexendo positivamente com o comércio, serviços e com a própria sociedade civil do concelho. Indiretamente, pela forma como reforça o posicionamento credível da marca Famalicão no radar de investidores e de outros potenciais parceiros civis e institucionais para o desenvolvimento e afirmação do território", desenvolve, deixando uma certeza. "Acreditamos que vamos viver um ano histórico em Famalicão em termos desportivos", conclui.