"Vítor Oliveira virou-se para mim e disse: 'Tu tens ainda um pouco de jogo de rua'"
Samuel Lino começou a jogar futebol já tarde, com 17 anos, mas as peladinhas nas ruas de São Paulo foram alimentando o grande potencial do avançado do Gil Vicente: a pureza e "alegria" com que joga "à bola" mantêm-se
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O avançado, de 22 anos, é o mais valioso do plantel gilista e tudo aponta para esta época, a terceira no clube, seja a melhor de sempre.
Para quem não o conhece, quem é Samuel Lino?
-Sou uma pessoa tranquila, muito feliz, gosto de brincar, de estar com os amigos e a família. Prevalecem em mim a humildade e a simplicidade. Nasci em Santo André, mas sou de São Bernardo (São Paulo). Foi na comunidade de lá que cresci, onde comecei a jogar futebol nas ruas, sempre descalço, não gostava de usar botas nem ténis...
Qual a reação dos seus pais quando o viam a jogar na rua, descalço, e agora, que singra na Europa?
-Comecei no futebol muito tarde, em 2016, com 17 anos. Quando eles me viam a jogar com os amigos nas quadras da cidade, não é que não acreditassem, mas por ter começado tarde... Quem conhece o futebol sabe que os outros garotos começam com nove anos. Pelo facto de já ter 17 anos, não acreditavam muito, mas as coisas começaram a fluir. Comecei a jogar num clube aqui e noutro ali, até que fui para o clube da cidade, o São Bernardo. E aí eles viram que eu podia ser alguma coisa no futebol. Fui parar no Flamengo e aí começámos a acreditar ainda mais que seria possível. Quando vim para Portugal nem eu queria acreditar, muito menos eles. A nossa ficha só caiu quando cheguei ao Gil Vicente.
Em apenas dois anos no Gil tornou-se o mais jovem de sempre a atingir os 11 golos numa época. Estava à espera de conseguir este feito?
-Não. Aliás, nem sabia dessa situação. Fui jogando e os golos foram saindo. Só soube no final da temporada. Fiquei muito feliz e orgulhoso por estar na história do clube.
Acha que consegue ultrapassar João Vilela, o melhor marcador de sempre, com 36 golos?
-São números bons. Vamos ver como corre a época, mas espero bater essa meta e entrar de novo na história.
No primeiro ano marcou dois golos, no segundo 11, agora já vai com sete. Qual é meta para este ano?
-Não tenho metas pessoais de fazer um número específico de golos. A meta é fazer sempre melhor do que na época passada.
Não tem formação futebolística e só começou a jogar aos 17 anos. Ainda se vê como "jogador de rua"?
-Um pouco. Ainda tenho em mim coisas de jogador da rua. Quando vim para cá, no meu primeiro ano, estávamos a ter uma conversa no balneário e o Vítor Oliveira, que era o meu treinador, virou-se para mim e disse: "Tu tens ainda um pouco de jogo de rua", daquele jogador em que falta a componente tática, entende? Vou ter sempre comigo este jogo de rua.
O que ainda tem desse jogador de rua?
-A alegria e a felicidade de jogar. Entro no campo e ainda penso que estou a jogar com os meus amigos do Brasil. Coloco muita alegria no jogo e é isso que me faz sentir como era antes.
Ronaldo, Mbappé e a paixão pelo Corinthians
Com o talento natural dos jogadores brasileiros, Samuel Lino tem como principal referência o conterrâneo Ronaldo "Fenómeno", avançado que passou pelo seu clube de eleição, o Corinthians, e, na Europa, atingiu o topo no Barcelona, Real de Madrid e nos dois grandes de Milão. O francês Mbappé, do PSG, é outra das referências do brasileiro. Quanto a clubes, Samu gostava de, um dia, jogar no seu clube do coração, "um dos maiores do mundo", e de passar pela liga inglesa: "Toda aquela atmosfera com a torcida é incrível."