Um dirigente do Real Sport Clube estava no Brasil e assistiu a uma partida de preparação do Grémio Anápolis. Um avançado alto e espadaúdo chamou-lhe a atenção. Hoje, ele é o melhor marcador da II Liga.
Corpo do artigo
Há oito meses, tudo corria mal na vida de Carlos Vinícius. A ponto de, um dia, ter decidido abandonar o futebol para ir trabalhar no que aparecesse. Qualquer coisa. Precisava era de dinheiro para comprar comida e fraldas para o filho. Até que a escuridão começou a transformar-se em luz.
A sua vida profissional no Brasil não era famosa, mas mal chegou a Portugal começou a destacar-se e agora é o melhor marcador da II Liga. Como explica o que aconteceu?
-Eu estava no Anápolis e as coisas não corriam bem. A ponto de ter decidido largar o futebol. Até já tinha dito à minha esposa que ia desistir. Ia parar por ali e arranjar um emprego. Até que decidi que, assim que terminasse um jogo de preparação que íamos fazer nesse dia, eu iria buscar as minhas coisas ao balneário e nunca mais voltava. Mas estava lá a um canto uma pessoa aqui do Real, o Luís, que me viu, chamou-me e perguntou se eu queria vir para Portugal.
Quando foi isso?
-Foi há oito meses.
Depois, tudo mudou...
-Eu estava no fundo do poço. Mas Deus viu que eu ia parar e que não aguentava mais e disse: "Não. Agora é a hora." Estava muito complicado mesmo.
Essa pessoa do Real chegou a contar-lhe por que o escolheu a si?
-Ele viu o meu porte físico, o meu estilo de jogo e eu encaixava naquilo que ele ia à procura. Pegou-me pelo braço e eu disse-lhe: "Meu irmão, eu aqui já estou no fundo do poço. Vamos lá!" E foi assim...
"Precisava era de dinheiro para o meu filho ter fraldas, ter leite. Qualquer coisa para pôr o pão dentro de casa, desde que não fosse com drogas ou algo de errado"
A escolha está feita. Agora, já não precisa de procurar outro emprego para comprar fraldas.
-Agora já não dá para voltar atrás. Mas, quando se quer ser um pai de família responsável, tem de se fazer de tudo para não deixar ficar mal os outros. Devo muito ao futebol. E eu vejo que tenho potencial e que tenho muito para dar. Acredito em mim. Até porque não sei fazer mais nada. Na altura pensava: "Vou largar, mas vou fazer o quê?"
Ia trabalhar para a construção civil?
-Em qualquer coisa. Precisava era de dinheiro para o meu filho ter fraldas, ter leite. Qualquer coisa para pôr o pão dentro de casa, desde que não fosse com drogas ou algo de errado.
Agora está tranquilo...
-Sim. Graças ao Real e ao Luís. E até costumo dizer à minha família: "Se queremos ser grandes, temos que posicionar-nos como grandes." Estou preparado para as coisas grandes e já preparei a minha família para chegar ao topo. Porque, se estamos aqui, é para chegar ao topo.
Está a agarrar esta oportunidade com todas as forças.
-Sim, porque não sei quando voltarei a ter outra. Chega uma altura da sua vida e você pensa: "Não está a dar". Depois, olha para trás e vê pessoas que dependem de si: filho, esposa, pai, mãe. Há oito meses, eu estava numa situação dessas. Então, hoje, eu obrigatoriamente até dou mais dentro do campo.