Viena foi há 33 anos: "Era suposto levarmos dois ou três e ficarmos satisfeitos"
Cumprem-se esta quarta-feira 33 anos desde a conquista da Taça dos Campeões Europeus. Młynarczyk estava na baliza e recorda a noite em que o companheiro argelino encantou o Mundo.
Corpo do artigo
O primeiro dos sete troféus internacionais do FC Porto foi conquistado há 33 anos.
A 27 de maio de 1987, Madjer, Futre, Juary e companhia deixaram o mundo boquiaberto ao derrotar o todo poderoso Bayern Munique, na final da Taça dos Campeões Europeus, disputada em Viena.
"Era suposto levarmos dois ou três e ficarmos satisfeitos por ter defrontado o grande Bayern. As casas de apostas pagavam 19 vezes por cada dólar apostado em nós e os desesperados pescaram bem", recorda Józef Mlynarczyk, o guarda-redes polaco dos portistas, numa entrevista ao jornal do seu país "Onet".
Convidado a contar algumas histórias da noite em que o Danúbio foi "pintado" de azul e branco, Mlynarczyk abriu o baú das memórias. "Que aconteceu? Aterrámos na Alemanha? Vamos jogar em Viena... Essa foi a primeira coisa que me veio à cabeça. Não havia erro, estávamos em Viena, mas sentia Munique no ar, havia adeptos, bandeiras e cânticos do Bayern por todo o lado. Os nossos estariam em algum lado, provavelmente escondidos a um canto, envergonhados com a enorme vantagem dos rivais. Pensei para comigo que nem vale a pena tentar, vamos levar na cabeça como se nada fosse. Vi o mesmo sentimento nos meus companheiros. Estava tudo preparado para o Bayern, nós éramos só alguém que eles tinham de enterrar. Mas não éramos "pepinos", tínhamos uma equipa forte, com os músicos Madjer e Futre, que já eram invejados por toda a Europa e eram os nossos barcos a motor. O João Pinto mandava na defesa. No papel, tudo parecia bem, mas íamos defrontar o Bayern com todas as suas estrelas e nós tínhamos várias baixas, como o Lima Pereira, o Jaime Pacheco e o Gomes", atira.
Além de uma boa equipa, Mlynarczyk diz que o FC Porto tinha "um treinador inteligente" que "nunca entrava em pânico" e que transmitia "tranquilidade". "Ele contava também com a minha experiência. Tinha 34 anos e como polaco, a Alemanha era uma maldição para mim", assume, passando então a falar do dia do jogo. "A primeira impressão quando fomos aquecer foi de que o estádio era pequeno, íntimo, o que não queria dizer amigável. Os adeptos eram quase todos alemães e austríacos, que também apoiavam o Bayern. Procurei pelos nossos e não tínhamos muito com o que contar. Embora fizessem os possíveis, não tínhamos hipóteses na luta de decibéis. Era como estar no Olímpico de Munique", refere.
Depois, os 90 minutos. "O início foi nervoso. Tive algum trabalho, mas nada de especial. Pensei que podíamos ir para o intervalo a zeros, mas eles marcaram num lançamento lateral longo. Ainda gritei "é minha", mas não me ouviram e o Jaime Magalhães toca na bola de cabeça, perdi a orientação por um segundo e foi o suficiente para o Kogl marcar. Ao intervalo todos praguejavam no balneário, mas depois ficou um silêncio como se estivéssemos na igreja. O Artur Jorge faz um discurso de poucas palavras diretas à cabeça e ao coração. Depois, o Madjer teve aquele flash. A entrada do Juary também foi importante, mas os minutos iam passando. Até que o Madjer marca de calcanhar e pensámos logo no prolongamento, bastava sobreviver aos minutos finais. Só que o Madjer pensou de forma diferente, sentou o Brehme e cruzou para o Juary. A Taça era nossa, fazíamos história", assume, terminando com uma história sobre o argelino.
"Fazia coisas nos treinos que deixavam os colegas com vontade de chorar ou de o esmurrar. Mas todos o respeitavam. Foi meu companheiro de quarto por muito tempo. Eu católico, ele muçulmano... Tínhamos as nossas divergências e recordo uma tirada dele: "Não entendo como vocês deixam as mulheres fazer tanto. Dão-lhes dinheiro, não se importam que conduzam, que vão a restaurantes. Como podem ser tão estúpidos?"", brinca.
Ficha de jogo:
FC Porto 2
Bayern munique 1
Estádio Prater, em Viena
Árbitro: Alexis Ponnet (Bélgica)
FC Porto Mlynarczyk, João Pinto, Eduardo Luís, Celso, Inácio (Frasco, 65"), Quim (Juary, INT), André, Sousa, Jaime Magalhães Madjer e Futre
Treinador: Artur Jorge
Bayern Munique Jean-Marie Pfaff, Nachtweih, Andreas Brehme, Hans Pflügler, Winklhofer, Lothar Matthäus, Norbert Eder, Hansi Flick (Lars Lunde, 82"), Ludwig Kogl, Hoeness, Michael Rummenigge
Treinador: Udo Lattek
Golos: Ludwig Kogl (24"), Madjer (77") e Juary (79")
Cartões: Amarelos: Jaime Magalhães (35"), Celso (61"), Winklhofer (65"), Sousa 71")