Varandas recorda emboscada no Afeganistão: "Achei que não continuaria neste mundo"
Presidente do Sporting abriu o coração no programa Alta Definição, da SIC
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Em entrevista a Daniel Oliveira para o programa Alta Definição, que vai para o ar no sábado, Frederico Varandas, presidente do Sporting, recordou a emboscada de talibãs que sofreu quando esteve em missão no Afeganistão, a 8 de junho de 2008.
"É o dia onde eu achei... que não continuaria cá, neste mundo. Nós tínhamos estado 42 dias nessa missão no pior local do Afeganistão e lembro-me de ver a expectativa de baixas que tínhamos por dia. E pensei... Lembro-me muito bem do nosso tenente-coronel virar-se para mim e dizer: ‘Varandas, o nosso objetivo é regressar todos'. Houve dias em que tivemos muita sorte. A verdade é que aguentámos esses 42 dias e quando estamos a regressar para Cabul, talvez por alguma descompressão, porque achávamos que o pior tinha passado e não tinha acontecido nada, sofremos uma emboscada. Ainda hoje lembro-me de tudo", recordou.
Em 2012, quando assumiu a direção clínica do Sporting, Frederico varandas alongou-se no relato, em entrevista a O JOGO: "A experiência no Afeganistão foi a mais marcante da minha vida. Como costumo dizer, voltando a casa é uma experiência fantástica. Podia ter corrido mal, felizmente correu bem. Mas nunca mais se vê a vida da mesma maneira, quando achamos que tudo vai acabar. Era noite cerrada, estávamos num vale. Um médico ou um enfermeiro acompanhava sempre as patrulhas, e sofremos um ataque dos talibãs. Estivemos debaixo de fogo intenso durante 35 minutos. Graças à competência dos comandos, regressámos com feridos, mas todos vivos. Conseguimos ripostar e anular o inimigo. Estava armado, mas não tive de disparar. Tivemos um ferido com um tiro na perna, outro atingido no braço, e tratei-os. Ainda hoje nos encontramos todos os anos em junho, no dia da emboscada. Foi o dia em que grande parte de nós se despediu da vida. Senti uma descarga de adrenalina forte. Ao mesmo tempo que tinha um bocadinho de medo, fiquei estupidamente tranquilo. Considero-me uma pessoa de sorte e, antes de ir para o Afeganistão, nunca duvidei que iria regressar. Mas quando me vi naquela situação, pensei: 'Tu queres ver que eu vou ficar aqui? Com 28 anos?' Lembro-me de pôr o capacete, carregar a G3 e pensar: 'Vou fazer o meu trabalho e o que acontecer, acontecerá.' Aprendi a conhecer os meus próprios limites, a passar dificuldades e a viver momentos difíceis. Em Cabul, foi mau; quando cheguei a Kandahar, foi ainda pior. Estivemos 42 dias isolados, no deserto, a ração de combate, sem água. Agora odeio pieguices, odeio atletas piegas, tento-lhes sempre incutir essa minha experiência da tropa: de que têm de se aguentar, mesmo havendo dor e desconforto, de que têm de ter capacidade de sacrifício."