José Romão treinou a equipa na sua única época na I divisão e apontou dificuldades ao Benfica, agora que os nortenhos jogam em casa.
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Sábado à noite, às 20h45, Vizela volta a defrontar o Benfica.
O jogo dos dezasseis avos da Taça de Portugal permite ao clube lembrar outros tempos, em que disputou o principal campeonato nacional de futebol.
Nessa época, de 1984/85, o Benfica apadrinhou a estreia do Vizela, em casa emprestada (ver caixa). No comando da equipa estava José Romão, que ainda hoje diz "sorrir" ao lembrar-se dessa temporada.
"A estreia do Vizela na I Divisão é com o Benfica, é um jogo que ainda hoje recordo. Perdemos 2-1 e houve um penálti na primeira meia hora de jogo que deixou muitas dúvidas. Na segunda parte o lateral-esquerdo Zé Carlos foi expulso... Fizemos um jogo muito interessante. À distância, sorrio para esse tempo. Começámos em 3x5x2 e foi uma pedrada no charco. Se não fomos a primeira, fomos das primeiras equipas a jogar nessa tática. Tínhamos bons laterais", contou.
Na liderança da Série A do Campeonato de Portugal, o Vizela está afastado das competições profissionais, mas, alerta o treinador, não é motivo para menosprezar as suas ambições ou o seu plantel.
"O Vizela joga bom futebol, é líder da sua série e jogar em Vizela não é fácil. Espero que seja um bom jogo e que o Vizela consiga fazer o jogo com que todos sonham. Atenção que vai ser difícil para o Benfica!", avisou Romão. Experiente na análise a estes jogos, o treinador de 65 anos entende que "os primeiros 15-20 minutos podem definir a história do jogo", ainda por cima tratando-se de uma eliminatória. "Todos podem sonhar em 90 minutos, numa corrida longa é mais difícil. Todos têm o direito de sonhar", atirou.
Para além dos dois jogos dessa época, o Vizela jogou em casa do Benfica a 3 de janeiro de 2017, para a Taça da Liga, tendo perdido por 4-0. Agora, finalmente em casa, o palco é outro e o clube deseja que o resultado também o seja.
Guimarães foi casa emprestada
Em Vizela, a equipa de José Romão andou com a casa às costas. "Jogámos o campeonato todo fora. Tínhamos de jogar num relvado, de acordo com as regras, e jogávamos em Guimarães. Treinávamos onde podíamos, com a bondade de outros treinadores. Recordo a bondade do Quinito, que nos abriu as portas do 1.º de Maio e da Ferrovia. Do parque de Vizela até à Penha, usávamos todos os espaços disponíveis", lembrou o treinador. Numa altura em que o movimento "Vizela a concelho" já existia, jogar em Guimarães "foi difícil de gerir".
Vizela tem gente que "marcou"
Vizela foi o primeiro desafio de José Romão a treinador. Num ano de estreia, esta foi uma "missão de grande coragem e muito gratificante". "Ainda hoje trago na memória e no coração. Recordo com muito respeito e consideração a figura de Manuel Machado, agora presidente da AF Braga, Sérgio Capela, e de outros tantos dirigentes. Formámos um grupo solidário que conseguiu prestigiar a terra e jogámos um futebol interessante", disse.
Fora do âmbito desportivo, as pessoas de Vizela, que estabeleciam uma relação com a equipa da terra, deixam saudades. "Existe um forte sentimento de solidariedade entre as pessoas que gostam do Vizela. Existiam já na altura laços muito fortes, era uma equipa que jogava com muita bravura, com raça. Mesmo na segunda divisão, o Vizela era sempre candidato. Fazia sempre uma boa gestão dos recursos, contratava os jogadores com método e formava sempre equipas interessantes. Marcaram-me as pessoas. São todas solidárias em tempo de grande dificuldade. Na altura já sonhavam com um estádio diferente e conseguiram."
Para além de Portugal, José Romão trabalhou no Catar, Marrocos e Kuwait.