Um novo safanão pela vanguarda: conheça as ideias do Braga para o futebol português
Minhotos apelam à mobilização geral para que os quadros competitivos sejam reformulados. O Braga entende que a centralização dos direitos televisivos deve ser acompanhada por um modelo que permita mais jogos competitivos, tanto no topo como no fundo, suscitando mais interesse.
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Rosto incontornável dos 15 clubes que se reuniram em 2017, à margem de Benfica, Sporting e FC Porto, para discutir os problemas do futebol português, António Salvador considera que não há mais tempo a perder no sentido de conferir competitividade e sustentabilidade à principal liga e, desta vez, conta com todos.
Até 2025, a Liga terá de transmitir ao Governo como serão repartidos os direitos (centralizados) televisivos e o presidente do Braga, tendo por base um estudo pormenorizado (na coluna abaixo estão expostas algumas ideias) ontem apresentado aos jornalistas pelo assessor André Viana, responsável pelo Gabinete da Presidência, Estratégia e Media do clube, que entende que esse passo só terá impacto se o futebol português se modernizar antes.
O Braga estuda um modelo que permita mais jogos competitivos (tanto no topo como no fundo), maior incerteza nas classificações e, logo, maior interesse do público e de todos os agentes envolvidos, mas "nada está fechado" segundo Salvador, que apela a um debate alargado sobre o futebol português.
Uma prova evidente da progressiva "decadência" do futebol português, de acordo com o líder dos arsenalistas, é a incapacidade de Benfica, FC Porto e Sporting em contratarem preferencialmente jogadores no estrangeiro. "Há uns anos esses clubes contratavam jogadores preferencialmente lá fora e agora fazem-no cá dentro, como já fazia o Braga", referiu, descartando a existência de "forças de bloqueio" à modernização do futebol português. "Fazem-se, no entanto, muitos grupos de trabalho na Liga quando é preciso agir", observou.
A mesma pressa é partilhada, por exemplo, por Oliver Kahn, o diretor executivo do Bayern de Munique, que já propôs que a Bundesliga alemã adote um formato com meias finais e final e António Salvador assumiu ter falado de um modelo competitivo semelhante, a envolver "playoffs", num dos mais recentes conselhos de Presidentes e espera que a comunicação social ajude nesse debate.
Até lá, garante, o Braga jamais será satélite de algum clube. "Não há parceria nenhuma com o PSG. Dois jogadores desse clube é que vieram para o Braga", recordou, colocando, por fim, uma pedra sobre os prémios acertados na transferência de David Carmo para o FC Porto. "Nenhum jogador do Braga colocará à frente o prémio de 500 mil euros em nenhum jogo porque o clube tem prémios muito superiores", atirou.
IDEIAS
Previsibilidade
"Competições cada vez mais previsíveis e com escassa alternância no topo das tabelas. Há campeões crónicos. A Liga portuguesa é a que apresenta o fosso é maior entre os primeiros classificados e os restantes".
Ameaças
"O aparecimento de novas provas de elite vai remeter Portugal à sua condição periférica. Mais jogos europeus e a eventual
confirmação da Superliga europeia fragilizam a posição da Liga portuguesa".
Receitas
"Portugal é o país mais dependente das transferências como gerador de cash-flow para a atividade. Participação da estrutura acionista é importante em quase todos os países".
Tempo útil
"Estudos divulgados nas últimas épocas colocam a Liga na cauda do tempo útil de jogo (média de 57.09
minutos por jogo)".
Público
"Não existe uma reflexão profunda sobre o problema das baixas assistências nos estádios em Portugal. Doze clubes têm médias de menos de 4.000 adeptos por jogo".
Horários e dias de jogos
"Marcação das jornadas altamente condicionada pelo detentor dos direitos televisivos. 129 dos 306 jogos da I Liga começaram
depois das 20h00 (42,1%).
Globalidade
"O processo de centralização dos direitos televisivos só pode acrescentar valor máximo se for enquadrado dentro de um conceito global. Deve contemplar um caderno de encargos em áreas como: estádios, relvados, restantes infraestruturas"".
Carga fiscal
"Carga fiscal determina uma enorme perda de competitividade do futebol profissional comparativamente com os restantes campeonatos de topo, fazendo disparar os custos dos clubes".