Resta-lhes o bom-nome. E é nele que os aveirenses arquitetam a esperança de ver nascer um novo Beira-Mar, livre dos vendedores de banha da cobra e devolvido aos adeptos fiéis.
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A queda do Beira-Mar, que há poucos meses era profissional, para o futebol dos campos distritais de Aveiro ainda está a ser mastigada pelos adeptos, que oscilam entre o choque e a esperança de recuperar o verdadeiro espírito do clube. Na volta que O JOGO deu ontem pelas imediações do velho palco Mário Duarte, que muitos consideram ainda a verdadeira casa do clube, onde foram vividas temporadas de glória, os adeptos abriram o coração. "Isto chegou aqui porque houve muitos interesses à volta do Beira-Mar", desabafa Alexandre Martins. "Agora não há nada mais a fazer que não seja recomeçar e cativar os sócios", acrescenta.
Os sócios divorciaram-se do clube porque deixaram de o reconhecer quando a SAD foi criada. "Os problemas começaram a partir daí. E tenho a certeza de que a culpa vai morrer solteira", fez notar, de forma convicta, António Leite - um sócio trabalhador que faz parte de uma comissão de voluntários que lançou, por meios próprios e com poucas ajudas, as obras de recuperação do Mário Duarte. "Há que cativar novamente os sócios e reaver a mística do Beira-Mar; o nome do clube é o que nos resta, por isso acho bem que se comece um novo caminho." Mesmo que "não seja fácil" andar nos distritais: António Leite jogou por clubes da região nos "peladões" e sabe bem do que fala. "E agora ainda mais, porque os nossos adversários regionais vão querer ganhar ao Beira-Mar."
Apesar de viver atualmente o pior momento da sua história de 93 anos, o clube há de reerguer-se. "Não vejo que seja o abismo, acho até que é uma excelente altura de devolver o clube aos beira-marenses que sentem o emblema", afirmou Paulo Matos, treinador das camadas jovens, agora empenhado em coordenar a formação do clube. "Este momento tem de ser visto assim, e a prova de que os sócios se vão unir em torno do clube está no trabalho voluntário e desinteressado que alguns fazem na recuperação da nossa casa."
A "nossa casa" é o mítico Estádio Mário Duarte, que desde há duas semanas vem recebendo tratamento para acolher o clube. "Acredito que vamos ter aqui mais de mil pessoas por jogo", apostou António Leite.