As referências espaciais que auxiliam os jogadores terão de ser readquiridas, explica Filipe Anunciação, mais preocupado com a segurança, tal como Costinha. Para Manuel José, o pior é jogar sem público.
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Os jogos sem adeptos vão ser uma realidade para todos, mas algumas equipas também vão mudar de casa, o que supõe vários desafios que o O JOGO foi conhecer junto de quem já passou pela experiência.
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"Como não há adeptos, acho que ninguém vai jogar em casa", diz Bruno Monteiro, atualmente no Leixões, e que em 2015/16 passou de Tondela para Aveiro para as receções a Sporting, Benfica e FC Porto. Para o médio, por se jogar sempre à porta fechada, "acaba por ser mais ou menos a mesma coisa", mas há um "quase" que requer adaptações, a começar pelo relvado - o tipo de corte influencia a velocidade da bola.
"Se não se treina no sítio onde se joga, os jogadores vão ter de se habituar. Um treino de adaptação antes do primeiro jogo podia ser útil", admite Bruno Monteiro, que descreve outro desafio que será tanto maior quanto a diferença da dimensão dos espaços. "Alguns jogadores orientam-se no campo com a ajuda de referências espaciais, mesmo que inconscientemente. Imagine o estádio do Tondela, mais pequeno, e depois o de Aveiro: a visão que se tem do jogo é diferente." Na verdade, os dois relvados têm a mesma dimensão (105x68), mas a "ilusão de ótica também faz diferença", explica Filipe Anunciação.
"O facto de a bancada estar mais próxima, ou ter uma pista de atletismo são pormenores que fazem o campo parecer maior ou mais pequeno e têm alguma influência. Se calhar o jogador acha que tem de correr muito mais para chegar ao outro lado, ou não percebe que uma viragem de flanco não precisa de tanta força, porque a linha lateral não está assim tão distante quanto parece. Esse tipo de referências espaciais já estão perfeitamente adquiridas para quem passa horas no mesmo estádio", explica o treinador adjunto do Belenenses, que vai viver no banco de suplentes a mesma experiência que passou enquanto jogador do Paços de Ferreira, em 2013/14: os pacenses jogaram o play-off da Liga dos Campeões no Dragão e a fase de grupos da Liga Europa no D. Afonso Henriques. Pese o "conforto" de estar em casa, agora a "preocupação não é jogar fora ou no campo habitual, o principal é o jogador sentir-se seguro".
Quem orientava o Paços de Ferreira nessa altura pensa da mesma forma. "Os jogadores têm de ser salvaguardados. Nunca é mesma coisa, mas o desafio é superar o vírus, o resto vem por agregado", sublinha Costinha, que concorda que personalizar o balneário pode ser uma boa ideia. "Algumas equipas já fazem isso", acrescenta.
Já Manuel José, jogador daquela equipa do Paços que já em 2012/13, curiosamente também em casa do V. Guimarães, jogara sem público, compreende as medidas em tempo de pandemia, mas atira: "É muito pior jogar à porta fechada do que numa casa emprestada. Não é o mesmo futebol, mas as duas coisas juntas pior ainda."