Leões e Associação Nacional de Treinadores de Futebol (ANTF) trocaram acusações por causa da formação profissional e competências do técnico. Convenção da UEFA ampara críticas da ANTF
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O Sporting e a Associação Nacional de Treinadores de Futebol (ANTF) estão em guerra aberta por causa de Silas, mas o facto de a UEFA impedir o técnico de dar as conferências de Imprensa dos jogos que organiza de certa forma sustenta ou ampara as críticas efetuadas pela ANTF.
Se, na Liga, o clube é que decide quem fala em conferência (o técnico só é impedido de ir ao "flash"), na Liga Europa tal não é possível
É que, na tarde desta quarta-feira, será o adjunto Emanuel Ferro a fazer a antevisão do embate contra o LASK Linz, da Liga Europa, ao contrário do que sucede na Liga, onde o clube decide e Silas apenas falha o "flash interview" que tem de ser dada pelo técnico que está registado como principal.
A associação alude à Convenção de Treinadores da UEFA, de 2015, para se defender dos ataques leoninos, recordando que foi aquele organismo a regulamentar e uniformizar as habilitações dos treinadores. Isto para se agilizarem as homologações de competências lá fora, sendo que a ANTF e a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) aceitaram a nova regulamentação para que os treinadores portugueses estivessem habilitados a treinar fora do país.
Jorge Silas, de 43 anos, foi contratado para treinador principal dos leões após ter comandado o Belenenses em 61 jogos ao longo de três épocas (só uma completa). No entanto, Silas tem apenas o curso de treinador de Nível III (UEFA A, obtido em junho deste ano), sendo necessário o de Nível IV (UEFA PRO) para poder ser inscrito como treinador principal na Liga (pode ter esse cargo, contudo, na II Liga).
Mas, de acordo com o Regulamento de Competições da Liga, que pode ser considerado omisso ou no mínimo confuso, o treinador principal é aquele que tem um determinado exercício e função nos jogos, mas não faz depender esse exercício, função e período à tipologia do registo e inscrição na própria Liga. Segundo o mesmo regulamento, desta forma Silas não pode apenas transmitir indicações para o relvado de forma permanente, mas só pontualmente.
"A ANTF não é ordem profissional e o Estado não lhe atribuiu competência para regular"
Os leões consideraram "declarações ridículas e inaceitáveis" as proferidas há dias pelo líder da ANTF, José Pereira, nas quais atacou a escolha dos verdes e brancos para o cargo, alegando concorrência desleal para os cerca de quatro mil técnicos devidamente licenciados com o Nível IV.
"À margem da Constituição da República e das Leis, existe no futebol português o entendimento de que os clubes apenas podem inscrever treinadores na Liga depois de ter sido emitido um certificado de habilitação pela ANTF. Ora, esta associação de tipo sindical não é uma Ordem Profissional pelo que o Estado não lhe atribuiu essa competência especial de regular as normas técnicas e os princípios e regras deontológicas dos respetivos profissionais. [...] Diz a Constituição que "todos têm o direito de escolher livremente a profissão ou o género de trabalho e só a Lei pode restringir o direito de escolha da profissão". Por isso, é ilegal e inconstitucional o princípio em que assentam as declarações do presidente da Associação de Treinadores segundo o qual tem de haver um registo prévio de cariz associativo e uma certificação técnica", lê-se num longo comunicado do Sporting no qual se informa que os leões vão solicitar a revisão das competências da ANTF, entre acusações de "anti-sportinguismo primário" de José Pereira e de "enviesamento clubístico de certas entidades".
"O futebol português não pode ser uma terra sem lei, como não pode continuar a ser uma exceção ao Estado de Direito nem terreno fértil para o exibicionismo vaidoso de oportunistas sem princípios", concluem os leões.
Pepa, Costinha, Zidane...
O futebol português (e o internacional) está recheado de situações parecidas à que vive Silas. Tem sucedido nos últimos anos com outros treinadores como Pepa, Petit, Sérgio Vieira, Sérgio Conceição ou Carlos Pinto, para citar alguns.
Em tempos mais longínquos, Paulo Bento (no Sporting) também passou pelo mesmo, mas foi sempre autorizado pela UEFA a dar as conferências de Imprensa da Liga dos Campeões, tal como aconteceu com Costinha (no Paços de Ferreira) nas pré-eliminatórias da mesma prova.
Lá fora, Zidane teve dificuldades na equivalência em Espanha das habilitações obtidas em França e chegou a cumprir uma suspensão de três meses quando orientava o Castilla (Real Madrid B).