Viveu a melhor semana de sempre no Dragão, marcou, foi titular e ouviu aplausos. Sérgio Conceição foi fundamental para lhe devolver confiança, mas a atitude de Adrián também foi decisiva, apesar de alguma revolta.
Corpo do artigo
Substituído com o V. Setúbal, Adrián López deixou o relvado do Dragão debaixo de uma ovação estrondosa. Sérgio Conceição quis que o avançado sentisse o carinho do público, depois de uma semana extraordinária, com golo à Roma, na Liga dos Campeões, nascimento da segunda filha e titularidade no campeonato, algo que não acontecia há mais de dois anos e meio.
A via sacra de Adrián López começou em 2014 quando trocou o Atlético de Madrid pelo FC Porto. Sugerido por Julen Lopetegui, nunca caiu nas boas graças dos adeptos e foi emprestado ao Villarreal (2015/16 e 2016) e ao Corunha (2017/18). Pelo meio, passou algum tempo na equipa B e voltou, esta época, com falta de confiança, descrente e a pensar que seria novamente emprestado, como confirmou a O JOGO uma fonte próxima do avançado espanhol. Foi preciso dar-lhe moral, devolver-lhe a crença e semear para agora colher os frutos. Adrián trabalha muito, ouve atentamente e nunca está de má cara. Conceição aprecia o esforço e não o deixa cair.
Duas vezes em Villarreal e uma espinha encravada
Na primeira época de FC Porto, Adrián fez 18 jogos, marcou um golo, perdeu espaço e foi emprestado ao Villarreal em 2015/16, ainda que Lopetegui se tenha mantido no comando dos portistas. Foi lá que encontrou Jaume Costa, com quem tinha jogado nas seleções de sub-15 e sub-16 de Espanha. "Ele continuava igual; uma grande pessoa e com condições incríveis para jogar futebol. Sempre me disse que gostava muito de estar no FC Porto e na cidade e está agradecido ao clube por tudo o que lhe deu. No Villarreal só queria trabalhar bem para depois voltar ao FC Porto e triunfar no clube", conta o capitão do submarino a O JOGO. Adrián López estava no El Madrigal para provar que valia mais do que havia mostrado no Dragão. "Comentou várias vezes comigo que tinha uma espinha encravada por não estar a triunfar no FC Porto, apesar de estar agradecido ao clube pela forma como sempre foi tratado", conta o defesa.
"Comentou várias vezes comigo que tinha uma espinha encravada por não estar a triunfar no FC Porto"
Jaume Costa define Adrián López como "um trabalhador nato", que "tanto nos treinos como nos jogos sempre deu o máximo", algo que Sérgio Conceição aprecia. "As coisas estão a sair-lhe bem porque o treinador está a apoiá-lo e a dar-lhe carinho", destaca, ele que fala muitas vezes com Adrián.
Na equipa B e sem azia
Terminado o primeiro empréstimo ao Villarreal, onde voltaria na segunda metade da época de 2016/17, voltou ao FC Porto, mas começou a época na equipa B, onde encontrou o guarda-redes João Costa. "Ele não estava muito preocupado porque sabia que teria sempre uma solução. Nunca esteve cabisbaixo. Treinava sempre no máximo para se preparar para quando tivesse oportunidade", recorda o agora guarda-redes do Cartagena. "A preocupação dele, e dizia-o várias vezes, era que não tivessem nada a apontar-lhe. Tinha abertura para tudo: para sair ou para ficar se contassem com ele", recorda, reforçando o profissionalismo do avançado quando estava a treinar na equipa secundária. "Todos os miúdos o adoram e isso quer dizer alguma coisa. Já vi vários jogadores na equipa B com azia e queriam era que não falassem para eles... Ainda respondiam torto e tinham vergonha de estar no meio dos miúdos. Adrián parecia um de nós", elogia.
"Todos os miúdos o adoram e isso quer dizer alguma coisa"
João Costa foi chamado de urgência por Nuno Espírito Santo para um estágio na Alemanha. Dias depois, Adrián também. "Quando viajou achou que ia só substituir alguém nos treinos, mas depois ele quis dar uma chapada de luva branca e é o que esta a fazer este ano. Mostrou que tinha valor e o Nuno quis que ele ficasse", lembra o amigo, nada surpreendido com o rendimento atual. "Eu tinha a certeza que se o Adrián apanhasse o Sérgio Conceição, ia bater certo. Ele não se balda e corre muito nos treinos e o Sérgio valoriza isso", destaca o guarda-redes.
Psicologicamente desgastado na Corunha
Antes de trabalhar com Conceição, Adrián foi cedido ao Corunha, onde marcou nove golos em 31 jogos. O avançado começava a dar sinais de estar desgastado com tantos empréstimos. Luisinho, lateral-esquerdo português, jogou com o avançado no Riazor e recorda esses momentos. "Não percebia bem o porquê de o terem contratado e depois de o cederem sucessivamente. Ia-se abaixo com essa tristeza, sentia uma revolta por não poder demonstrar o valor que tinha, porque nem aposta era. Sentia-se marginalizado", lembra o agora jogador do Huesca.
"Mas a frustração maior era não poder corresponder, porque não lhe davam espaço para isso"
Luisinho admite que os 11 milhões pagos pelo FC Porto ao Atlético de Madrid também tiveram influência. "Sentia a responsabilidade de ter sido um jogador bastante caro. Mas a frustração maior era não poder corresponder, porque não lhe davam espaço para isso", recorda, admitindo que no final de cada época Adrián "encarava cada regresso ao FC Porto com um pé atrás". "Para ele era incompreensível ter deixado o Atl. Madrid, onde jogava, para corresponder a um clube como o FC Porto, que na altura até tinha um treinador espanhol [Lopetegui] e depois não jogava", resumiu.