Declarações de Nuno Brandão, que ficou encarregue da defesa de Francisco J. Marques e Diogo Faria, condenados com pena suspensa pelo Juízo Central Criminal de Lisboa a um ano e dez meses de prisão e nove meses de prisão, respetivamente, no âmbito do processo de divulgação dos emails do Benfica no Porto Canal. Os arguidos também terão de pagar uma indemnização de 10 mil euros a Luís Filipe Vieira, ex-presidente do Benfica. Entrevista concedida ao Porto Canal.
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Semelhança com escutas: "Um pouco, sim. Mas as escutas telefónicas têm um regime especial. Mas aqui foi dizer que o interesse público não entra. Não há uma discussão que possa ter como elemento um critério de decisão o interesse público. Nessa medida, o Tribunal nem sequer levou à sua ponderação todas aquelas muitas situações que os emails revelavam e que era, do ponto de vista da defesa, reveladores de más práticas, práticas indevidas, algumas delas de natureza criminosa que eram espelhadas naqueles emails."
Demarcação da truncagem: "Essa questão está centrada numa correspondência que foi trocada entre duas personagens muito conhecidas nesta questão dos emails, que são Adão Mendes e Pedro Guerra. Sobre a história da truncagem, nunca houve protestos quando eles foram divulgados, em meados de 2017, não houve protesto nenhum sobre a fidedignidade de como essas comunicações foram divulgadas. Aliás, esses emails foram transmitidos por Francisco J. Marques a vários jornais desportivos, que os publicaram, e as pessoas puderam ver e fazer a sua própria avaliação sobre o significado daquelas conversas".
Tese da truncagem: "Chegou-se a esta tese, porque a determinada altura a Entidade Reguladora da Comunicação emitiu um relatório, que está impugnado, que a trouxe para cima da mesa. Nomeadamente uma parte dos emails que falava do trabalho do primeiro-ministro, que era Luís Filipe Vieira, que não tinha sido mencionada pelo Francisco J. Marques e isso significava uma deturpação do sentido desses emails. O Tribunal, agora, na decisão, nem sequer foi por essa tese. Não valorizou ou deu qualquer importância à falta de menção desse trabalho que seria devolvido pelo então presidente do Benfica. O Tribunal entendeu foi que, pela forma como os emails foram trocados, Adão Mendes foi quem produziu essas afirmações de alegados padres, que em Tribunal admitiu que os padres seriam os árbitros e as missas seriam os jogos, mas o Tribunal pareceu entender que não vinculou ao Benfica. E nessa medida, associar o que ele dizia a partes corruptivas seria abusivo. Nós discordamos disso, vamos discutir isso no recurso que vamos interpor, e é uma questão que continua em aberto".
Alegação do Benfica de que o caso demonstra que outros casos poderão estar resolvidos, nomeadamente crimes de corrupção: "Estes emails revelaram práticas que algumas delas poderiam ser devidas como práticas de corrupção, tráfico de influência, mas a verdade é que o Tribunal não se pronunciou sobre isso. O Tribunal entendeu que a matéria do interesse público, nomeadamente a divulgação de suspeitas de corrupção, não era relevante para este efeito. Portanto, neste caso, ao que parece, o Benfica não era arguido nem suspeito de coisa nenhuma, o processo não serviu para investigar práticas de corrupção do Benfica. Portanto, não houve nenhum julgamento sobre a corrupção praticada por pessoas ou não ligadas ao Benfica. Essa é uma matéria que está a ser investigada noutros processos em curso e que estava à margem deste processo. Esta decisão não tem nenhuma relevância para as suspeitas de corrupção que existem sobre o Benfica."
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