Tozé fala da época em Guimarães, da renovação e da exigência: "Nem todos jogam no Vitória"
Tozé admitiu que estava em dívida em relação aos adeptos. Após duas épocas com pouca utilização, e uma outra de empréstimo, o médio foi o melhor marcador da equipa na liga. A saída ainda não é certa.
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Tozé passou a temporada do Vitória em revista, encontrou muitos pontos fortes e algumas debilidades, e concluiu que tudo acabou da forma como tinha sido planeado.
Nove golos, 35 jogos, titular indiscutível e um jogador muito querido pelos adeptos. Esta foi a sua melhor época?
-Sim. Jogar no Vitória e conseguir ser titular, contribuir com golos, assistências e participar no apuramento para a Liga Europa com um quinto lugar torna a época muito positiva. Individual e coletivamente, é uma época que me enche de orgulho.
Tinha imaginado ser o melhor marcador?
-Não, imaginava que podia fazer golos, mas não terminar como melhor marcador. A partir de determinada altura, depois de perceber que havia essa possibilidade, passou a ser um objetivo individual. Não sendo um objetivo primário, estar envolvido nessa pequena luta foi algo que acabou por ter interferência positiva no meu jogo e despertar em mim a vontade de querer chegar à área, de haver penáltis para os marcar.
Chegar ao quinto lugar foi um alívio?
-Não foi um alívio, foi a concretização de um objetivo. Sempre lutámos pelo quinto lugar e pela Liga Europa; foi perfeito e gratificante. Este plantel tem de estar de parabéns pelo que fez e por ter conseguido o que foi inicialmente proposto. Os altos e baixos fazem parte da época.
Estavam à espera de tantas dificuldades?
-Quando um clube se projeta para estes objetivos, sabe-se que não vai ser fácil. Mas o importante foi alcançá-los. Estar presente nas competições europeias é muito bom, é fantástico.
Tozé marcou nove golos, todos no campeonato, e terminou a época como artilheiro da equipa na prova, sucedendo a Raphinha, autor de 15 remates certeiros na temporada passada
A que se deveu a enorme irregularidade, sobretudo na segunda volta?
-Deveu-se ao facto de ser uma equipa nova, com muitos jogadores acabados de chegar, e também um novo treinador, que trouxe outros processos de jogo. Jogadores que não se conheciam e que começam a jogar juntos num clube tão exigente como o Vitória não é fácil. Representar este clube exige uma adaptação, é um emblema especial e também é preciso ser especial para jogar no Vitória. É preciso sentir tudo o que nos rodeia, porque jogar com esta camisola é diferente de jogar noutro clube. Tudo isso pesou numa equipa nova.
O que é isso de ser especial para jogar no Vitória?
-É preciso conhecer bem o clube. Quem está fora diz que deve ser ótimo jogar no Vitória e o que digo é que é incrível. Chegar ao estádio e ter muita gente, ter um apoio incrível em Chaves, por exemplo, ou ter um cordão humano à saída do hotel nos Açores, como se fosse um jogo para o título. Só quem está lá dentro e veste esta camisola é que percebe estes sentimentos.
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Nem todos os jogadores podem jogar no Vitória?
-Claro que não. Quem joga aqui e tem sucesso fica preparado para qualquer clube do mundo, pela exigência, pelo gosto pelo jogo, pela paixão para que a equipa ataque muito e chegue à baliza adversária. E há a pressão de quando se perde, porque a azia é maior. Tudo isto prepara um jogador para outros voos.
A distância para o quarto lugar acabou por não ser encurtada. Qual é a explicação?
-Se tivéssemos mantido a estabilidade de resultados em certos momentos do campeonato, poderíamos ter chegado ao quarto lugar ou, pelo menos, ficado mais perto. O essencial para nós foi atingido, que era a qualificação para uma prova europeia.
35 jogos realizados pelo médio na época que agora terminou, ou seja, mais do que o somatório das duas primeiras temporadas em Guimarães, com 34 presenças em campo
"Renovação? Preciso de olhar para a carreira"
A pouco mais de um mês para terminar o contrato, e sem um acordo para a renovação, Tozé não dá a saída do Vitória como certa. Afirma que a decisão não está tomada e que precisa de pensar no tema.
Qual é o sentimento na hora da despedida?
-Ainda não sei se vou sair. Está tudo em aberto e existe uma proposta de renovação do Vitória. Houve sempre respeito e frontalidade entre mim e a Direção, e agradeço por isso. Andamos a negociar a renovação há alguns meses...
Mas não havendo acordo até agora, a saída parece inevitável, não acha?
-É um momento de ponderação, tenho 26 anos. Tenho de agradecer ao Vitória por tudo o que me deu, o que não significa que vou sair. Aqui sinto-me em casa.
Quis esperar pelo fim da época para decidir?
-Sim, preciso de pensar. Preciso de olhar para a minha carreira e ver o que posso fazer dela. Por mim ficaria aqui o máximo de anos possível, sinto carinho pelos adeptos e sinto que estão do meu lado; esse carinho não se explica, nem se agradece com palavras.
Aos 26 anos, o médio confirma que tem propostas do estrangeiro e que vai tomar uma decisão em breve. Por enquanto, deixa agradecimentos à Direção
Há propostas de fora?
-Sim e estão a ser avaliadas. Em breve vou decidir.
Recorda-se da estreia com a camisola do Vitória?
-Sim, foi com o Altach, na Áustria; entrei e marquei um golo.
Qual o momento mais marcante desta ligação?
-A ida à final da Taça de Portugal e todo esse percurso foi marcante, com uma meia-final com o Chaves, na qual o Douglas defendeu um penálti nos descontos. Outro momento alto foi o triunfo frente ao Sporting esta época. Este clube torna os momentos bons em algo maior devido à paixão dos adeptos.
E o pior momento?
-Perder a Taça de Portugal e não ter dado esse título aos adeptos quando só faltava um pequeno passo.
Está a atingir o patamar que tinha em mente quando estava na formação?
-Sinto-me muito realizado com a carreira que estou a ter e continuo a ter uma ambição muito grande.
Ter baixa estatura é um problema no futebol?
-Se não posso ganhar nos duelos físicos, tenho de tentar chegar primeiro à bola e ser inteligente.
Médio destacou a coerência da equipa no estilo de jogo, mesmo com críticas e maus resultados
"Fomos uma equipa alegre"
Médio destacou a coerência da equipa no estilo de jogo, mesmo com críticas e maus resultados.
Após uma fase de 12 jogos sem perder, alcançada entre setembro e dezembro, houve um retrocesso da equipa?
-Não digo retrocesso, foi algo relacionado com a maturidade da equipa. Quando as coisas estão a correr bem, com bons resultados, é mais fácil lidar com tudo o que nos rodeia. Mas à mínima escorregadela, ou derrota, a pressão no Vitória é muita. É um clube exigente, o que, por vezes, pesa na equipa, sobretudo se ela for jovem. Se tivéssemos aguentado mais alguns jogos sem perder, estaríamos a falar de outros objetivos.
Nessa irregularidade ao longo do campeonato houve boas exibições e jogadas de posse de bola exemplares...
-Sim, fomos uma equipa alegre e que tentou praticar bom futebol. Diziam que não chegávamos tanto à baliza ou que podíamos atacar mais o último terço, mas cumprimos o que trabalhámos, fiéis ao estilo de jogo e às ideias. E essas ideias permitiram-nos estar 12 jogos sem perder. Se tinha resultado antes, podia resultar depois. Assumimos que queríamos aquela forma de jogar e fomos até ao fim com ela.
Jogou na ala direita, lugar onde, segundo Luís Castro, rende mais, e como médio criativo. É um médio ou um extremo?
-Sempre fui médio desde a formação. No esquema de Luís Castro, com laterais subidos, uma saída a construir a três [n.d.r. Osorio, Pedro Henrique e Wakaso] e extremos a jogarem por dentro, acabei por ser um falso médio a jogar na ala. Encaixou-se nas minhas características. Consigo adaptar-me às duas posições e entender o jogo. Mas prefiro jogar como médio.
Tinha algo a provar após não ter sido muito utilizado no início do contrato?
-Sempre senti que estava em dúvida com os adeptos, pelo apoio e carinho que me deram. Sentia que devia uma grande época ao Vitória.
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