"Tivemos uma gestão desportiva desenquadrada das realidades financeiras do clube"
Declarações de André Villas-Boas à margem da QSP Summit, num painel sobre liderança em tempos desafiantes, que se realiza esta quinta-feira, em Matosinhos.
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Como é que vê as contas do FC Porto neste momento? "Nos últimos anos tivemos uma gestão desportiva desenquadrada das realidades financeiras do clube e que muito sucesso nos trouxe fruto de uma pessoa capaz de encarar todos os valores e princípios do FC Porto e com uma capacidade de exigência e intransigência invulgares. A verdade é que a situação económica do FC Porto está cada vez pior há muitos anos, e todos nós sabemos. O futebol tem este prevaricar entre sucesso desportivo e financeiro. O que é sucesso no futebol? É os títulos ou a sustentabilidade do clube a longo termo, que é o que os adeptos querem sentir. Ouvimos muito falar de entrada de capital estrangeiro nos três grandes do futebol português, que não se pode traduzir apenas enquanto sucesso e passo de futuro, tem de se traduzir também em falência das gestões anteriores. Os clubes portugueses têm passivo acumulado absurdo e vivem permanentemente no limbo e o vender parte do capital a estrangeiros não pode ser visto como passo para a modernidade. As propriedades invadem o futebol há muitos anos, temos clubes-estado, do Catar, sauditas, russos e americanos. E no futebol português. Porque é que não há uma associação europeia de clubes que permanecem no associativismo, nesses fundamentos e pilares. Será que consegue persistir no tempo. Temos o Barcelona no caos financeiro absoluto e o Real Madrid que sobrevive porque é máquina de ganhar e de lucro e de competição. É uma altura sensível para o futebol, está tudo em equação, os quadros competitivos portugueses poderão ter de ser reformulados por fruto da nova centralização dos direitos televisivos, a Liga dos Campeões vai ser reformatada, a liga saudita está a mexer com os mercados nacionais e internacionais. Que impactos? Que respostas? Como é que os clubes portugueses se colocam perante isto? Como vão bater os clubes-cadeia que vendem ativos só entre eles? Como os clubes permanecem no associativismo perante o que se passa no futebol atual? A discussão aberta, pensada, clara é necessária e os stake-holders do futebol português deviam estar de acordo para os passos evolutivos do futebol português. Já perdemos o ranking da UEFA para os neerlandeses, quanto tempo é que o vamos demorar para o recuperar de volta?"
Eleições em abril segundo os estatutos, acha que devia ser no final da época? "No meu entendimento há propostas para mudança de estatutos. Não sei se vão ser votados ou lançados em AG, nem sei as implicações que possa ter em eleições ou no tipo de voto. O que me disseram é que há conversações para mudar os estatutos."
Preocupa poder acabar o exercício com contas negativas? "Só o senhor presidente e o seu Conselho de Administração podem responder. Penso que já terão pensado em todos os efeitos nefastos que possa ter um incumprimento, de novo, no fair-play financeiro e nas regras de sustentabilidade do clube. Tenho consciência, e enquanto portistas temos de nos entregar à nossa Direção relativamente aos melhores passos, por isso a elegemos. Tenho a certeza que já foram equacionados todos os cenários. O administrador financeiro colocou o cenário de venda absoluta, o presidente colocou outro, entre aspas, não em entrevista, mas a ver pela capa de O JOGO, dando a entender uma transmissão de mensagem. Vamos ver. O mercado está aberto, daqui até ao fecho de mercado muitas coisas podem acontecer."
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