Há doze épocas consecutivas no Covilhã, o médio vê neste clube a sua segunda família e admite que custou perder José Mendes, que faleceu no início do ano, vítima de doença prolongada
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Gilberto e Covilhã são dois nomes que se confundem pela longevidade que o médio e capitão leva à frente da equipa: 12 épocas consecutivas. Neste período, aponta a temporada 2014/15 como a mais feliz, que por um ponto não culminou com a subida à I Liga. A descida à Liga 3 e a recente perda de José Mendes, o líder máximo do clube, foram os momentos mais negativos, mas Gilberto “voltaria a descer para poder ter cá o presidente”.
O Covilhã garantiu a fase de subida ao vencer a Académica, que é líder desta série. Foi a vitória mais importante da época?
Não foi a vitória mais importante. Cada uma teve a sua importância, é óbvio que esta pelo significado de garantir a qualificação para a fase de subida, foi extremamente importante, mas todas tiveram a sua importância.
Contribuiu com dois golos de penálti. Que papel teve e qual foi a chave para derrotar este adversário?
Tive a felicidade de fazer os dois golos frente a um adversário muito competente, bem trabalhado e com um plantel muito bom. A importância foi dar a qualificação para a próxima fase e nós, vindo de um momento difícil, com a perda do líder máximo do clube [José Mendes], é claro que isso mexeu connosco e com os nossos sentimentos. Fez com que tivéssemos ainda mais força para ultrapassar estes momentos, com duas vitórias que nos garantiram a qualificação. A chave foi sermos iguais a nós próprios, lutar e qualquer um que jogue dá conta do recado. Esse foi o grande mérito desta última vitória.
Está há 12 épocas consecutivas no Covilhã. O que representa este clube para si?
Representa muito. Basicamente é a minha segunda família. Já são largos anos aqui a lutar e foi-se criando sentimentos muito mais do que simplesmente profissionais. Fui fazendo amigos, criando amizades e o clube vai ficar sempre no meu coração. Quando ouvirem falar do Gilberto vão associar sempre ao Covilhã e isso deveu-se ao que fiz aqui durante estes 12 anos.
A descida à Liga 3 foi o momento mais delicado ou houve mais negativos?
O momento mais delicado foi a perda do nosso presidente, de um amigo. Preferia que ele estivesse aqui, do que subirmos de divisão. Ninguém quer perder ninguém, muito menos alguém tão importante. Não era só o presidente, era um amigo, um companheiro de grandes conselhos e que me proporcionou ficar aqui 12 anos seguidos. Para a maioria dos adeptos, a descida à Liga 3 terá sido a maior desilusão e o pior momento, mas voltaria a descer para o presidente ainda poder estar aqui.
E de positivos, qual foi o período mais marcante?
Tivemos a época em que quase subimos [2014/15]. Acabámos com menos um ponto do que a equipa que subiu à I Liga [União da Madeira]. Vivemos um momento lindo, apesar de termos ficado com um sabor um pouco amargo. Há dois anos, quando fomos ao play-off contra o Alverca, também tivemos um ambiente incrível no Estádio Santos Pinto. Não foi uma subida de divisão, mas foi muito parecido porque passámos por uma época complicado e sorrimos no final, ao assegurar a manutenção na II Liga.
Que balanço faz da campanha da equipa nesta nova realidade?
Estamos a fazer um excelente trabalho até agora. Claro que todas as equipas têm os seus problemas, obstáculos, momentos de pura tristeza, mas estamos a conseguir lidar bem com isso. Temos um grupo forte, é esse o espírito que se vive aqui, de garra, união e de luta até ao fim para conseguirmos aquilo que queremos, num campeonato muito competitivo.
Quantos jogadores continuaram e o que o levou a ficar?
Eu, Tiago Moreira, Zé Tiago, Traquina, Igor e o Adams. O que me levou a ficar foi o presidente, com quem tinha muita cumplicidade e uma relação próxima, até a nível familiar. Sempre foi um conselheiro, um amigo, transmitiu-me que gostava que ficasse cá para ajudar. Este nunca vai ser só um clube, apesar de já ter jogado na I Liga [Boavista], a ligação que tenho ao Covilhã, não é só a nível profissional. Tudo isso junto fez-me ficar e tentar levar o clube de volta aos campeonatos profissionais. Subir seria a melhor forma de homenagear o presidente.
Tenciona jogar até que idade?
O futuro é um pouco imprevisível. Não sei o dia de amanhã, nem o que me espera. Quero continuar a jogar até ser útil, ter esta motivação e até o corpo me deixar. Vou fazer 37 anos e também tenho de pensar nessa parte. Cada vez mais a exigência é grande para manter um nível alto e não sendo útil, terei de pensar noutras alternativas, mesmo quero jogar o máximo possível, mesmo que a minha ligação acabasse com o Covilhã, gostava de jogar mais três ou quatro anos.
Já estão encontradas quatro das oito vagas, que vão discutir a subida à II Liga. Quem prevê que possa conseguir esse objetivo na última jornada e quem aponta como principais favoritos a subir?
Da nossa série, o Alverca e o Atlético estão em boas posições. São equipas fortes. O Sporting B vai depender do resultado dos outros, por isso será mais complicado. Pelos números, o Felgueiras é o mais forte candidato, mas todos os que vão estar lá vão com o intuito de subir e vai ser um aluta renhida até ao fim. O Varzim se conseguir a qualificação também será um dos fortes candidatos pelo investimento.
Recentemente, o Covilhã perdeu o seu presidente. Qual era a vossa relação e a melhor forma de homenageá-lo seria devolver a equipa às provas profissionais?
Essa seria a melhor homenagem que lhe poderíamos fazer. A ligação que tinha com o presidente não é só presidente/jogador, é de amizade, de muitos conselhos, ensinou-me muito nesta vida e a melhor palavra é cumplicidade. Tínhamos uma relação muito além do futebol, que nos unia e às nossas famílias também.
Ao longo da carreira quais foram os clubes mais marcantes e os jogadores que mais recorda?
Davidson, que passou pelo V. Guimarães e antes esteve no Chaves, notava-se que era um jogador acima da média. O Erivelto, que acabou por ser o melhor marcador na época que quase subimos e foi vendido. Eram jogadores com bastante qualidade e potencial. O Traquina assinou pelo Belenenses e fez contrato de I Liga. Joguei com o João Vieira Pinto no Boavista e com o Wender e também foi meu treinador. O Tiago Moreira sempre foi um relógio, o Edgar Sá também foi uma das grandes referências quando vim, além do Jaime Simões porque partilhámos muita amizade. O Adriano Castanheira também tinha muita qualidade e chegou à I Liga pelo Paços.